Favorito na disputa, José Eduardo Dutra diz que consolidação de acordo com PMDB é fundamental para vitória de ministra. Demais candidatos se dividem entre cautela e defesa do rompimento com aliados do governo
congressoemfoco - Edson Sardinha
Militantes do PT vão hoje (22) às urnas em todo o país para definir o grupo que vai comandar o partido na primeira corrida ao Planalto em que o candidato não será o presidente Lula. A eleição da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, é apontada explicitamente como prioridade para o próximo ano na carta de apresentação de três das seis chapas que concorrem na Executiva Nacional. O que divide os candidatos à presidência do partido, no entanto, é o tom do discurso sobre as alianças a serem feitas em nome da candidatura da ministra.
Favorito à disputa, o ex-senador por Sergipe e ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra se apresenta como o nome capaz de aglutinar os partidos da base aliada, principalmente o PMDB, em torno de Dilma.
“A continuidade do nosso projeto político em 2010 está vinculada à capacidade de fortalecer um bloco de esquerda e progressista, amparado nos movimentos sociais, intelectuais e todos os setores comprometidos com o projeto de desenvolvimento em curso. Dependerá também da capacidade de agregar forças políticas de centro, principalmente o PMDB”, diz o item 17 da tese da chapa oficial.
Integrante da corrente “Construindo um novo Brasil”, do presidente Lula, Dutra tem o apoio do atual comandante do partido, Ricardo Berzoini, do ex-ministro José Dirceu, que faz parte de sua chapa, e dos líderes da bancada na Câmara e no Congresso.
O principal adversário dele, o deputado José Eduardo Cardozo (SP), também aponta a eleição de Dilma como prioridade de sua eventual gestão. Mas é menos enfático na defesa de uma ampla aliança. Cardozo prega um retorno do partido às bases.
“Temos uma grande tarefa pela frente: eleger nossa companheira Dilma presidente da República! Nós entendemos essa tarefa interligada à eleição de uma grande bancada parlamentar, à renovação e ampliação da eleição dos nossos governadores e governadoras de estados, à construção de uma política de alianças nucleada pelas forças de esquerda, à mobilização dos movimentos sociais. Sobretudo, entendemos que essa grande missão só acontecerá se estivermos estreitamente ligados às esperanças do povo brasileiro”, afirma o deputado na carta de apresentação de sua candidatura.
Segundo Cardozo, o futuro presidente do PT terá de reconstruir “os laços com a imensa base de filiados, revalorizar a militância, sem clientelismos, sem controles”. O deputado foi relator do Código de Ética petista e um crítico interno de atos praticados pela tendência majoritária do partido na primeira eleição do presidente Lula, trazidos à tona no esteio do escândalo do mensalão.
Candidato do movimento “Mensagem ao Partido”, do qual também faz parte o ministro da Justiça, Tarso Genro, Cardozo é apontado como o único obstáculo à eleição em primeiro turno de Dutra.
Distanciamento crítico
Os outros quatro candidatos – os deputados Magela (DF) e Iriny Lopes (ES) e os militantes Markus Sokol e Serge Goulart – assumem uma postura mais crítica em relação ao comando do partido e ao próprio governo Lula.
Iriny também declara apoio incondicional a Dilma, mas diz que o PT precisa mudar profundamente. Na avaliação dela, o partido tem de combinar força institucional, capacidade de mobilização de massa e criatividade ideológica.
“Trata-se de reafirmar o norte ideológico, recuperar o pensamento estratégico, ter capacidade de direção política, renovar nossos laços organizados com as bases sociais que são nossa razão de existir”, afirma a deputada. “Isto exige mudanças na relação do PT com a sociedade, prioridade estratégica para os movimentos sociais e partidos de esquerda, autonomia na relação com os governos”, acrescenta a candidata da tendência “Esquerda Socialista”.
O grupo que apoia Magela, do “Movimento PT”, atribui o lançamento de sua candidatura à preocupação com os rumos das alianças feitas pelo partido. “Magela é candidato a presidente do PT porque entende a necessidade do partido estar em consonância com as tarefas históricas impostas à esquerda brasileira. A política de coalizão, que se revela necessária para a governabilidade e sustentação do nosso projeto Nacional, não pode levar ao enfraquecimento do principal partido popular deste país. É entre estas duas questões fundamentais que se concentrará o embasamento político de sua candidatura.”
Rompimento radical
Donos dos discursos mais radicais entre os seis candidatos à presidência do PT, Markus Sokol e Serge Goulart pregam o rompimento imediato do partido com o bloco de sustentação do governo Lula, notadamente o PMDB.
“Este é o sentido da minha candidatura a presidente do PT. Um candidato que diz claramente que não é ‘chic’ dar dinheiro ao FMI, nem manter um Meirelles no Banco Central, como tampouco se aliar ao PMDB”, dispara Sokol, da corrente de extrema-esquerda “Terra, trabalho e soberania”.
O candidato também defende um distanciamento crítico entre a legenda e o presidente Lula. “Não à atitude de conveniência de quem só bate palmas, apoia o agronegócio e as isenções fiscais aos patrões enquanto grassam as demissões. Uma direção cuja atitude seja a de ouvir a base, primeiro, antes do Planalto”, critica.
Candidato à presidência do PT pela tendência “Esquerda Marxista”, Serge Goulart diz que o PT tem de romper imediatamente a coalizão que apoia o governo Lula sob pena de perder a eleição em 2010. Os efeitos de uma eventual derrota petista nas eleições presidenciais do próximo ano seriam nefastos, segundo ele.
“Ou nosso partido rompe a coalizão com Sarney, Collor e os partidos capitalistas (PMDB, PP, PR, PDT, etc.) e toma medidas de defesa da classe trabalhadora ou podemos perder as eleições de 2010, permitir a volta da direita à Presidência do Brasil e bloquear o caminho para o socialismo por muito tempo”, afirma o militante.
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