Valor Econômico
O novo presidente do PT, José Eduardo Dutra (SE), eleito no domingo com 57,9% dos votos em um universo de 480 mil eleitores, afirmou ontem, durante entrevista na sede do partido, queoprincipal desafio para a nova direção partidária será resolver a divisão interna da legenda em Minas Gerais. A eleição para o diretório estadual mineiro será decidida apenas em segundo turno e a polarização preocupa os dirigentes nacionais da legenda: Reginaldo Lopes (47,5%) é apoiado pelo ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel e Gleber Naime (38,8%) é aliado do ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias. “Não adianta nada conversar com o PMDB se não resolvermos antes os problemas internos do PT. Temos dois pré-candidatos ao governo mineiro”, admitiu.
Minas não é o único estado onde haverá segundo turno — Amazonas, Amapá, Maranhão, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte também passarão pela mesma situação. Tampouco é o único estado onde existem dificuldades para uma aliança formal como PMDB— no Rio de Janeiro, no Pará e no Ceará as conversas estão longe de ser conclusivas. Mas a disputa interna do PT mineiro — que se acirrou após a eleição municipal de 2008 — preocupa Dutra e o atual presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP). “Os votos que Reginaldo Lopes e Gleber vão receber tendem a reproduzir os votos que Pimentel e Patrus teriam em uma eventual prévia”, calculou Dutra.
Para o secretário-geral do PT, José Eduardo Cardozo — segundo colocado na disputa para a presidência do partido — este cálculo é ainda mais complexo. “Muitos eleitores que apoiam Reginaldo ou Gleber não necessariamente votariam, respectivamente, em Pimentel e Patrus. Há eleitores que flutuam de um nome para outro”, acrescentou.
Dutra acha que este não é o melhor momento para qualquer tipo de negociação. “Precisamos afunilar primeiro”. Embora o Congresso Nacional do PT, onde teoricamente começa a se concretizar a política de alianças, esteja marcado para o dia 10 de fevereiro — daqui a pouco mais de três meses — o novo presidente do PT acha que algumas questões só serão resolvidas nas convenções partidárias, que acontecem a partir de junho. “OCongresso é apenasuma dasportas que teremosque atravessar”, afirmou Dutra.
Nos demais estados onde há problemas para um acordo com o PMDB, a direção petista acreditaque há boas perspectivas de acordo. É o caso do Rio de Janeiro, onde a disputa pelo diretório estadual também vai paraosegundo turno— Luiz Sérgio (37,3% dos votos) defende aliança com Sérgio Cabral para o governo fluminense, enquanto Lourival Casula Filho (24,2%) quer um candidato próprio do PT. Antes da eleição, Dutra conversou com o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias. Apesar de não querer adiantar a posição ouvida de Lindberg, ele acredita em um acordo político.
Um integrante do Diretório Nacional acha que Lindberg não vai contrariar a orientação dada pelo presidente Lula, que defende uma aliança com Sérgio Cabral. “Mas é claro que ele (Lindberg) não vai admitir isto agora, em plena disputa pelo diretório estadual. Seria um sinal de enfraquecimento político”, justificou. Um ministro petista ouvido pelo Valor afirma que, ao insistir na estratégia de lançar-se como précandidato ao governo do Rio, Lindberg visa, na verdade, ganhar força na disputa interna com Benedita da Silva à uma vaga para o Senado.
José Eduardo Dutra também defendeu que os partidos da base aliada — incluindo o PSB — se empenhem em São Paulo para acabar com a hegemonia de 16 anos do PSDB. “Eu confio na capacidade e sagacidade do diretório paulista do PT para discutir alianças com todos os aliados. Vamos apresentar nossos nomes mas, se o PSB apresentar o nome de Ciro Gomes, terá que ser avaliado por nós. Ele tem plenas condições eleitorais de voto, credibilidade para ser candidato em são Paulo”, disse Dutra.
Os recentes movimentos políticos de Ciro — na semana passada, ele reuniu-se com o governador de Minas, Aécio Neves —, não preocupam a cúpula petista. “Para nós é bastante claro que tanto Aécio quanto Serra (José Serra, governador de São Paulo), são candidatos da oposição. Embora haja diferenças claras de personalidades entre eles, ambos representam omesmo projeto neoliberal e conservador que governou o país durante oito anos”, afirmou Berzoini (SP).
Dutra acha que, apesar do desafio da primeira eleição presidencial sem Lula como candidato petista, a tarefa em 2010 será mais fácil. “Até 2002, tínhamos apenas um projeto de esperança. Hoje, temos os resultados concretos de oito anos de governo Lula”, justificou.
Com a apuração concluída em 370 dos 385 municípios gaúchos que realizaram eleições internas para o comando do PT, o deputado estadual Raul Pont tinha recebido 51,01% dos 37,2 mil votos válidos apurados até ontem. O parlamentar faz parte da Democracia Socialista (DS), corrente que integra o grupo Mensagem ao Partido, ligado ao ministro da Justiça e pré-candidato do PT ao governo gaúcho, Tarso Genro. Em segundo lugar vinha o candidato Marcel Frisson, da Articulação de Esquerda (AE), que concorre com o apoio da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB). Até ontem ele recebeu 40,02% dos votos válidos. Segundo o secretário de organização do PT estadual, Adriano de Oliveira, que faz parte da AE, o mais provável é a confirmação da vitória de Pont no primeiro turno, porque falta apurar apenas cerca de 500 votos.
Na disputa pelo diretório estadual, a chapa Mensagem ao Partido, que além da DS inclui as correntes PT Amplo e Esquerda Democrática, havia recebido 40,06% dos votos válidos, contra 34,83% da aliança AE/CNB. Outras seis chapas dividem o restante. De cerca de 100 mil filiados aptos, mais de 40 mil participaram da votação no domingo no Rio Grande do Sul.
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