26 de nov. de 2009

Eleições invadem partilha do pré-sal

Para o PMDB, pressão dos estados não produtores, liderada pelo PSB de Ciro, objetiva minar aliança com o PT. Lula promete intervir

Correio Braziliense - Denise Rothenburg

A crise deflagrada na base governista por conta dos royalties do pré-sal misturou-se à discussão sobre as eleições de 2010 e criou um clima de desconfiança entre os partidos que pretendem compor o palanque da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Ontem, assim que Michel Temer pisou na Câmara, um grupo de peemedebistas correu ao gabinete do presidente licenciado do PMDB para reclamar do movimento de governadores do PSB em torno dos recursos do pré-sal. Para eles, tal atitude seria uma manobra para tirar o PMDB da posição de aliado preferencial do governo.

Os peemedebistas consideram estranho que os governadores de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente do PSB, e o do Ceará, Cid Gomes, irmão do deputado Ciro Gomes, tenham defendido a redistribuição dos royalties das áreas já concedidas do pré-sal. Isso depois que o presidente Lula havia fechado acordo para mexer apenas nos blocos a serem licitados. Os mesmos peemedebistas, do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, também lembraram que há poucos dias o agora presidente do PT, José Eduardo Dutra, havia declarado que estava de olho no tempo de TV do PMDB e que os palanques seriam discutidos sem prejudicar o PT.

Apontado como candidato a vice na chapa da ministra, Temer preferiu apenas ouvir e aceitou o pedido para adiar a votação do pré-sal para a semana que vem. “Não há clima para aprovar nada”, afirmou o deputado Ciro Gomes, que reagiu aos peemedebistas. “O componente eleitoral está no tom inábil com que alguns políticos cariocas se comportam. Quem quer pegar galinha não grita xô!”, provocou Ciro, referindo-se às declarações iradas do governador do Rio, Sérgio Cabral, sobre estar sendo “roubado”.

“Cabral age como quem vê a batalha perdida e quer sair como herói da valentia paroquial. Se for juntar valentias paroquiais, as do Brasil são maiores do que a de três estados em frente à área do pré-sal”, disse Ciro, referindo-se a Espírito Santo, Rio e São Paulo.

Arrependimento
Se o PMDB desconfia do PSB, os petistas desconfiam do PMDB. Ontem, o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza, reuniu a bancada para tentar fechar todos os votos em favor do relatório do deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que não mexe nas áreas já concedidas do pré-sal. “Tem gente que está parecendo querer derrotar o sistema de partilha”, disse Vaccarezza, de olho na obstrução dos cariocas.

Numa reunião dos líderes, houve quem dissesse que Cabral está arrependido de ter aceitado o sistema de partilha proposto pelo Executivo, que amplia para 25% a porcentagem de royalties a que os estados produtores têm direito (hoje são 22,5%). O problema é que deixa de existir a participação especial, receita que, em 2008, representou R$ 4,4 bilhões ao Rio.

O governo tenta apaziguar os ânimos. “Cabral é um parceiro importante e não pode ser desconsiderado”, disse a líder do governo no Senado, Ideli Salvatti. O presidente Lula disse ontem ao governador que seguraria a votação até que se chegue a uma forma de atender aos não confrontantes sem desagradar Sérgio Cabral.

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2009/11/26/politica,i=157113/ELEICOES+INVADEM+PARTILHA+DO+PRE+SAL.shtml

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