Nara Alves, iG São Paulo
SÃO PAULO – O novo presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, assume o cargo de olho nos desafios das eleições de 2010, a primeira em que Luiz Inácio Lula da Silva não será candidato à Presidência pelo partido. Para eleger a ministra Dilma Rousseff, Dutra conta com a velha-guarda da legenda, como José Dirceu, João Paulo Cunha e José Genoíno, denunciados por “mensalão”. “Todos esses companheiros estão na minha chapa. É natural, eles estão em total gozo de seus direitos”, diz.
Dutra concedeu entrevista ao iG na tarde desta terça-feira já admitindo a vitória, com 60% das urnas apuradas. Ele tem 55% dos votos, contra 19,4% do segundo colocado, o candidato José Eduardo Cardozo. "Em função do número de urnas apuradas não há mais possibilidade de reversão", calcula.
O novo presidente do PT afirmou que "não há nenhum constrangimento" no retorno dos denunciados no "mensalão", esquema de compra de apoio ao governo no Congresso denunciado em 2005. Segundo Dutra, a função de cada um dos investigados no esquema ainda não foi discutida. “Quem vem para a eleição vai começar a ser definido agora”.
Os próprios denunciados, no entanto, já circulam nos bastidores da campanha pró-Dilma e declaram seu apoio. “Sou militante do PT, do Lula e da Dilma”, afirma deputado federal José Genoíno. O deputado João Paulo Cunha, que vai concorrer à reeleição, reforça o coro. “Quando eu estiver fazendo a minha campanha, vou fazer campanha para Dilma também”.
Para o ex-dirigente da Petrobras e da BR Distribuidora, a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil é “um consenso, uma unanimidade no PT”. O racha na legenda se estabelece apenas nos Estados, avalia. “Vamos continuar o trabalho que já vem sendo feito, dialogar com os outros partidos para formar a aliança mais ampla possível”. Dutra admite que “não é possível obter 100% de unidade”, mas garante que vai se empenhar em garantir “o maior número possível de aliados nos Estados”.
José Eduardo Dutra atribui sua vitória ao apoio do presidente Lula e da militância à sua chapa, “O Partido que Muda o Brasil”. “A força de Lula é inegável, mas eu fiquei feliz com a participação da militância, na base do partido”, comenta.
Duplo desafio
Para o doutor em ciência política e professor da Universidade de Brasília (UnB) David Verge Fleischer, Dutra terá um duplo desafio pela frente: comandar uma eleição em que Lula não é candidato e unir o partido em prol da candidatura da ministra Dilma.
“Lula liderou o PT cinco vezes – quando foi candidato à presidência em 1989, 1994 e 1998 e saiu derrotado, e nas eleições que venceu em 2002 e 2006 – por isso uma importância maior em uma eleição sem ele”, afirma.
Na visão do especialista, o segundo desafio da nova diretoria é fazer alianças estaduais para fortalecer a candidatura de Dilma. “O PT está sendo forçado a engolir alianças com outros partidos. Em Brasília, o exemplo é o possível apoio à reeleição do ex-governado do Distrito Federal Joaquim Roriz (ex PMDB)”, afirma.
Para David Fleischer, a volta de “mensaleiros” ao partido torna o trabalho do novo diretório ainda mais difícil. “O PT incorporou novas pessoas envolvidas com o ‘mensalão’ e esse é outro desafio porque os candidatos vão usar isso para atacar o PT. O partido se torna mais vulnerável”, considera.
http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2009/11/24/volta+de+denunciados+por+mensalao+e+natural+diz+dutra+9168922.html
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