15 de dez. de 2009

Dilma procura uma imagem

Correio Braziliense - Tiago Pariz

Coordenadores da campanha da candidata de Lula tentam encontrar discurso para encantar eleitores e acabar com o rótulo de “gerentona” da ministra
O PT travou na tentativa de forjar uma imagem mais agradável aos eleitores para a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, para além da proposta de “gerentona” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para não cair na mesmice da continuidade de um governo preocupado com o social, os coordenadores da campanha se debatem em cima de teses, versões e propostas de olho no que fará diferença na eleição do ano que vem.

O ponto de partida dessa discussão começou com as rejeições. Ministros, petistas e os marqueteiros que pensam na proposta a ser apresentada por Dilma não querem mais saber da tal “mãe do PAC”. O argumento é que a associação a projetos de infraestrutura engessa qualquer tentativa de vitória na corrida pelo Palácio do Planalto. É preciso avançar. A ideia é fincar os pés em cima do Bolsa Família, do Minha Casa, Minha Vida e do Luz para Todos. Apresentar a proposta de uma mulher que poderá levar para ainda mais pessoas o que Lula colocou em prática.

Mas a proposta desse tripé é velha. Ela surgiu de uma ampla pesquisa qualitativa há alguns meses. O PT ainda não realizou uma nova rodada de levantamento para saber o que os potenciais eleitores querem ouvir na campanha. E não fez porque não sabe o que propor. O que ninguém nega é a necessidade de vinculá-la ao presidente Lula para forçar a transferência(1) de votos e sua popularidade.

“Temos de reforçar a capacidade de gestão, o compromisso com o governo e a história de vida pela luta pela democracia, além da óbvia vinculação com Lula”, disse o presidente eleito do PT, José Eduardo Dutra. O problema é que o Partido dos Trabalhadores patinou, na avaliação de aliados, na apresentação de Dilma como sucessora de Lula no programa de 10 minutos que foi ao ar na semana passada. Nele, a ministra aparece repetindo e concordando com as teses apresentadas pelo presidente escancarando artificialidade e falta de manha política da “gerentona”.

“Como principal ministra do governo, é natural ela ter o discurso social”, afirmou Dutra. “A roupagem mais popular será dada pelos marqueteiros”, acrescentou. O PT tem tentado minimizar a dificuldade de Dilma em apresentar um discurso mais simples e menos técnico lembrando que o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), um dos pré-candidatos tucanos, tem perfil parecido. A vantagem, segundo eles, é que os números da era Lula favorecem na comparação.

“No debate sobre economia, o governo aumentou o crédito para a população mais pobre, deu aumento real no salário mínimo. Tudo isso tem apelo social”, disse o senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado. Os aliados que participam também dessa discussão de nova imagem defendem que quando a campanha esquentar, a ministra da Casa Civil apresente-se com maior independência de Lula. “O Lula é o maior eleitor dela, mas a relação de confiança com o povo tem que ser feita com ela. Ela tem que caminhar com as próprias pernas”, afirmou Jucá.

Para tentar minimizar essa crise na campanha, o PT prefere se fiar no crescimento nas pesquisas de intenção de votos. “Ela dobrou a indicação dos votos, mostrou estar forte para a campanha”, disse o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP). “Para definir a imagem é preciso pesquisas e ainda não temos”, emendou. Uma das táticas já é colocada em prática. Para aproximá-la da agenda ambiental levantada pela senadora Marina Silva (PV-AC), a ministra representa o governo na Conferência do Clima em Copenhague.

1- Escola
A experiência internacional também tem sido aprendizado para os coordenadores da campanha da petista. Duas recentes eleições presidenciais ensinam resultados diferentes. No Chile, onde a Concertación está no poder há 20 anos, a presidente Michele Bachelet, com popularidade beirando os 80%, passa apuros para eleger o sucessor. Seu candidato, Eduardo Frei, teve 30% dos votos e disputará o segundo turno com Sebastián Piñera (44%), apontado como favorito. No Uruguai, Tabaré Vazquez não teve dificuldade em eleger o ex-guerrilheiro José Mojica.

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