Correio Braziliense - Denise Rothenburg
Enquanto a candidata Dilma Rousseff não tiver um percentual nas pesquisas que dê segurança aos aliados, é bom o PT ficar pianinho nas exigências quanto ao vice. Até porque, dizem alguns, quanto mais o presidente e o PT tentam se impor ao PMDB, mais os peemedebistas cobram a fatura. E têm tamanho suficiente para isso.
A cobrança de uma lista tríplice de peemedebistas para que a ministra Dilma Rousseff escolha quem melhor se encaixa no papel de candidato a vice na sua chapa à Presidência da República vai sair mais caro para Lula do que o palavrão que ele soltou num discurso no Maranhão. Desde quinta-feira à noite, quando os peemedebistas souberam da declaração do presidente, eles começaram a montar um verdadeiro campo minado para que Lula, sua candidata e o PT atravessem até a convenção em que o PMDB decidirá o que fazer na sucessão presidencial, em junho de 2010.
A primeira mina contra a aliança foi colocada ontem, quando os filiados ao PMDB paulista mantiveram o partido sob o comando de Orestes Quércia. Ele derrotou a chapa alternativa composta por Francisco Rossi. Quércia já declarou que seu candidato a presidente da República em 2010 é o governador de São Paulo, José Serra. Ontem, Quércia chegou a dizer que, se Roberto Requião vencer a convenção nacional de junho, terá o seu apoio. Mas nem de longe falou em se somar ao PT.
A próxima bomba que o PMDB pretende colocar na trilha da união com o PT também está bem pertinho no calendário: é atrasar a votação do projeto que prevê a partilha do petróleo extraído da camada pré-sal. O texto-base foi aprovado, mas faltaram algumas emendas que podem comprometer, por exemplo, a repartição dos royalties. Basta o PMDB fazer corpo mole — e ontem a disposição era essa — que a votação final fica para fevereiro.
Quanto mais minas políticas, o PMDB colocar no sentido de mostrar ao PT que os peemedebistas são independentes e necessários, mais força ganha a ala petista contrária à composição da chapa com o presidente da Câmara, Michel Temer, buzina outros nomes no ouvido de Lula. Já falaram, por exemplo, no governador do Rio, Sérgio Cabral, que traria à chapa a leveza do samba do avião. Essa semana, o grupo de petistas contrários a Temer já tem mais um argumento do tipo, se Temer não manda nem no seu quintal — o PMDB de São Paulo — como vai querer ampliar os votos nacionais para a campanha presidencial?
Esses petistas, no entanto, esquecem que a força do PMDB na aliança não está na relação de Temer com o povo. Essa quem tem é o presidente Lula — hoje, nem a ministra Dilma tem essa afinidade com a população. A força de Temer está no diretório nacional do partido. E se a ministra quiser mesmo o PMDB, terá que confiar nos grupos do Pará, capitaneado por Jader Barbalho; da Bahia, comandado por Geddel Vieira Lima; do Rio de Janeiro, do deputado Eduardo Cunha; do Ceará, de Eunício Oliveira, e, ainda dos grupos de Temer, Henrique Eduardo Alves e, os dos senadores Renan Calheiros, José Sarney e Romero Jucá.
Esses nomes são hoje os baluartes da aliança nacional, quer a maioria do PT goste ou não. O PT pode até tentar usar o prestígio de Lula, como ocorreu com a declaração da semana passada, para forçar esse grupo a escolher o nome que os petistas quiserem para a vaga de vice. O problema é que, neste caso, o caldo da aliança vai ficando ralo como café aguado e o da desconfiança grosso como o de um feijão bem feito. Todos os peemedebistas que apoiam Lula hoje já estiveram em outros governos no passado e nada vai impedir que, insatisfeitos com o tratamento recebido, busquem outra hospedagem diferente daquela comandada pelo PT.
Enquanto a candidata Dilma Rousseff não tiver um percentual nas pesquisas que dê segurança aos aliados, é com o PT ficar pianinho nas exigências quanto ao vice. Até porque, dizem alguns, quanto mais o presidente e o PT tentam se impor ao PMDB, mais os peemedebistas cobram a fatura. E têm tamanho suficiente para isso.
O tamanho do PMDB referido aqui não é apenas na seara parlamentar. É também eleitoral. A história mostra que o PMDB é expert em deixar seus candidatos a presidente pelo caminho. Fez isso com Ulysses Guimarães, em 1989, em 1994, com Quércia. Em 2002, uma parte abandonou José Serra e ficou com Lula. Sempre para pegar a canoa vencedora. Isso só mostra que, daqui para frente, o PT tem que agir com o PMDB como diz a música: Pra satisfazer essa mulher/eu faço das tripas coração/para ela sempre digo sim/pra ela nunca digo não… Pelo menos, até Dilma ganhar — se é que vai ganhar — voo próprio nas pesquisas, é esse o embalo da aliança.
14 de dez. de 2009
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