Após oficializar renúncia, ele diz ao 'Estado' que sua candidatura vinha 'desidratando' e é melhor disputar Senado
Estadão - Eduardo Kattah, BELO HORIZONTE
O governador de Minas, Aécio Neves, anunciou ontem que desistiu de sua pré-candidatura à Presidência, o que deixa o governador de São Paulo, José Serra, como único nome do PSDB para a disputa em 2010. Nos últimos dias, ele já dava sinais de que abriria mão do projeto, programando para o início de janeiro o anúncio da candidatura ao Senado. A decisão foi oficializada ontem por meio de carta ao presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), e abre caminho para composição de uma chapa tucana puro-sangue, encabeçada por Serra e com Aécio de vice.
Após reunião pela manhã com Guerra e o secretário-geral, deputado Rodrigo de Castro (MG), Aécio convocou a imprensa e leu o documento. Depois da coletiva, declarou ao Estado que sua candidatura presidencial vinha "desidratando", tornado-se uma "falsa candidatura". Disse, ainda, que o melhor é concorrer ao Senado, prestigiar seu vice, Antônio Anastasia (PSDB) - pré-candidato a governador em Minas -, e "trabalhar por Serra" no Estado.
Aliados admitem, nos bastidores, a possibilidade de Aécio reverter a decisão, caso Serra não assuma a candidatura e opte por concorrer à reeleição. Ainda ao Estado, quando indagado se poderia voltar atrás, Aécio confirmou as suposições: "Na política tudo pode mudar."
No documento, o governador disse que deixava a condição de pré-candidato, mas não as convicções e a disposição para colaborar na "construção das bandeiras da Social Democracia Brasileira". Colocou-se à disposição, também, para ajudar seu partido a construir, "com serenidade e sem tensões", o caminho da vitória nas urnas.
Na carta, não citou Serra e fez uma retrospectiva da estratégia para se viabilizar como presidenciável. Disse que a sigla deve estar preparada para "responder à autoritária armadilha do confronto plebiscitário e ao discurso que perigosamente tenta dividir o País ao meio, entre bons e maus, entre ricos e pobres". Referia-se à tática do PT para 2010, que pretende confrontar os oito anos de gestão Fernando Henrique Cardoso com os oito anos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O que mais pesou na decisão foi a determinação de Serra de só se definir no fim de março. Aécio argumenta que não poderia esperar tanto, pois até lá os partidos com os quais conversava - incluindo legendas que fazem parte da base de apoio do governo Lula - teriam se definido. "Sempre tive consciência de que uma construção com essa dimensão e complexidade não poderia ser realizada às vésperas das eleições."
No pronunciamento, Aécio fez questão de ter a seu lado o vice-governador. "Mantive intactos e jamais me descuidei dos grandes compromissos que assumi com Minas, razão e causa a que tenho dedicado toda minha vida pública", ressaltou, na carta. "É meu compromisso levar adiante a defesa intransigente das reformas e inovações que juntos realizamos em Minas e que entendemos como um caminho possível para o País."
ALIADOS
Enquanto Aécio estava reunido com Guerra e Castro na residência oficial, o ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, que participava de um evento no Palácio da Liberdade, voltou dizer que o governador mineiro, como presidenciável tucano, muda o quadro nacional e teria condições de obter apoio do PDT.
Entre os aecistas, a avaliação é de que haverá pressão total para que Serra confirme se vai concorrer à sucessão de Lula. "Não só a decisão do governador, mas a própria antecipação do calendário eleitoral força o governador paulista a se decidir. A candidatura oficial ganha terreno em várias regiões", observou Castro. Ele observou que o caminho mais provável de Aécio é o Senado, mas ponderou que "em política tudo é possível".
FRASE
Aécio Neves (PSDB)
Governador de Minas
"Deixo a partir deste momento a condição de pré-candidato do PSDB à Presidência da República, mas não abandono minhas convicções e minha disposição para colaborar, com meu esforço e minha lealdade, para a construção das bandeiras da Social Democracia Brasileira"
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091218/not_imp484068,0.php
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