Luciana Abade, Jornal do Brasil
BRASÍLIA - O governo já não descarta mais partir para o embate técnico com o PSDB se as críticas da oposição continuarem em cima de Dilma Rousseff, a ministra candidata à Presidência. Sexta-feira o curto-circuito político em torno do blecaute continuou em Brasília, com troca de ameaças. O líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), não descarta convidar Dilma e José Serra, o governador tucano de São Paulo e também pré-candidato, para um confronto no Congresso.
Enquanto o PT angaria dados e números de sua gestão, para a comparação com o apagão da era FHC, a oposição aproveita o momento para bater no governo e em Dilma. Justo por isso, a base chama o episódio de desespero, porque a oposição não teria ainda um discurso para a campanha de 2010.
A presença da ministra no Congresso para debater o apagão, no entanto, não é unanimidade entre os governistas. Líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS) classifica de absurda a possível convocação da ministra pela oposição, uma vez “o governo tem um ministro de Minas e Energia para dar as satisfações necessárias”. Onde quer que vá, Fontana tem carregado consigo a pastinha com os números do “progresso energético” no governo Lula.
– O discurso da oposição a trai. E mostra que a oposição quer apenas fazer política e não está nem aí para o problema de energia – dispara Fontana. – Estão querendo fazer a comparação entre os dois governos? Ótimo. O governo só tem a ganhar com uma comparação desta porque vamos mostrar os investimentos positivos do governo Lula.
Segundo o líder do governo, enquanto no governo PSDB foram instalados 10.900 km de rede de transmissão, em sete anos de governo Lula foram instalados 22.140 km.
– O que o Serra está fazendo é oportunismo político. Está tentando transformar um acidente que deve ser ser investigado em um apagão que houve no governo FHC, este sim por falta de investimento – disse Fontana rebatendo as acusações feitas por Serra, na quinta-feira, de que o sistema energético brasileiro é frágil.
– É um absurdo que nos acusem de fazer política – rebate o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP). – A obrigação da oposição é cobrar o governo. A própria ministra Dilma já disse que não estamos livres de blecautes e depois vem dizer que o problema está resolvido. Vários especialistas dizem que nada justifica o tamanho e a demora do apagão porque não tivemos uma intempérie natural tão grande.
Para o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA), os governistas estão equivocados em tentar justificar uma “barbeiragem” se apegando a problemas do passado:
– No passado houve um erro. As pessoas sabem disto. Mas a ministra está equivocada em dizer que estamos fazendo política com a questão. O presidente Lula deu a primeira declaração sensata ao dizer que é preciso investigar as causas do apagão. Deve ter sido bem orientado.
Órgãos do governo têm dado declarações constrangedoras. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse sexta-feira que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais não deve se manifestar sobre energia, e se atentar apenas à meteorologia. Lobão reage a afirmação do coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica do Inpe, Osmar Pinto Junior, que descartou a possibilidade de um raio ter causado o blecaute.
Não satisfeito, Lula agora pede investigação
Depois de defender o seu governo e comparar números com as gestões antecessoras, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, resolveu sexta-feira deixar registrado publicamente que exigiu dos subordinados da área energética uma resposta técnica para o apagão de terça para quarta-feira. O blecaute atingiu 18 estados e deixou 60 milhões de habitantes sem luz.
Lula disse que apenas as investigações vão determinar as causas do apagão. O presidente também descartou a possibilidade de sabotagem e, sobre um possível novo apagão, afirmou que “as coisas só não têm chance de acontecer se Deus não quiser”.
– Eu disse à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e ao Operador Nacional do Sistema (ONS) que precisa ter um processo de investigação – comentou Lula sexta-feira, depois de um evento em São Paulo. – E nós temos instrumentos para isso, para que a gente descubra exatamente o que houve. Se o sistema é robusto como nós acreditamos que seja, por que que então nós tivemos este desastre?
O presidente preferiu evitar dar sugestões sobre as possíveis causas:
– Se foi sobrecarga de energia vinda de Itaipu, nós vamos ver. Se foi uma falha humana, vamos ver. Se foi um raio, nós vamos ver.
Mas admitiu que quer ver respostas e anunciá-las o quanto antes aos cidadãos.
– O que eu quero é que quando tiver o resultado final depois de uma apuração muito correta a opinião pública fique sabendo que aconteceu isso, isso e isso – comentou.
– Eu já vi tanta coisa, eu fico sempre com cuidado. O raio não era capaz de fazer isso... O raio pode causar, o que a gente não pode dizer é o tamanho que pode causar.
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse na quinta que o blecaute foi causado por fortes ventos e chuva. E que, para ele, o assunto estava encerrado. (Com agência)
http://jbonline.terra.com.br/pextra/2009/11/13/e131123653.asp
14 de nov. de 2009
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