12 de nov. de 2009

Apagão acende guerra política

Para conter os efeitos do blecaute nas eleições e na credibilidade da gestão de Lula, governo blinda Dilma, atribui o problema a tempestades e sustenta que o sistema elétrico nacional é confiável

Correio Braziliense - Daniel Pereira | Denise Rothenburg |Tiago Pariz |Ricardo Brito

Ventos e chuvas fortes na região de Itaberá (SP) causaram curto-circuito em linhas de transmissão e foram responsáveis pelo apagão em 18 estados brasileiros entre a noite de terça-feira e a manhã de quarta-feira. A versão oficial foi apresentada ontem pelo ministro de Minas e Energia, o senador licenciado Edison Lobão (PMDB). Tornou-se pública no início da noite, depois de o governo passar o dia empenhado em abater, no nascedouro, duas crises: uma administrativa, outra política. Sob a batuta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Lobão recebeu a missão de, ao lado de técnicos de órgãos federais, apresentar as razões do blecaute. E, além disso, reforçar a cantilena oficial de que o sistema elétrico brasileiro é seguro. “O que ocorreu foi um acidente. Não há motivo de preocupação. A população pode ficar tranquila”, afirmou.

Já outros ministros e líderes governistas foram incumbidos de responder aos ataques da oposição. Ao longo do dia, PSDB e DEM usaram o apagão para condenar a capacidade gerencial da gestão petista. Direcionaram as críticas à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. A escolha não foi à toa. A “mãe do PAC” é responsável pelo modelo energético implantado no governo Lula. Há duas semanas, em entrevista a um programa oficial de rádio, ela disse que não havia mais risco de apagão no Brasil. Além disso, é a pré-candidata de Lula e do PT à Presidência, numa campanha embalada, entre outros, pela fama de “gerente eficiente” cunhada pelo Planalto. “É a ministra do apagão”, provocou ontem o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA), sintetizando a desconstrução de imagem a ser tentada no período eleitoral.

Submersa
Ciente da possibilidade de desgaste em razão do impacto da falta de luz na vida da população — só na capital paulista, 6 milhões de pessoas ficaram sem água durante horas —, o presidente ordenou que houvesse uma blindagem a Dilma. Sempre falante quando o assunto é infraestrutura, a ministra cumpriu a ordem e submergiu, dedicando-se a uma agenda interna. Informado do problema enquanto discutia os projetos do pré-sal com os governadores Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, um dos estados mais afetados, e do Espírito Santo, Paulo Hartung, Lula assumiu a dianteira da reação governista. Na madrugada de ontem, foi dormir depois das 3h. Irritadíssimo e inconformado com o colapso do sistema, telefonava de 15 em 15 minutos para Lobão. Queria saber em especial como estava São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, governado por tucanos.

Acompanhado do senador Lobão Filho (PMDB-MA), o ministro de Minas e Energia mantinha o presidente informado diretamente do escritório da Operadora Nacional do Sistema (ONS) em Brasília. Ele só saiu de lá quando 40% do abastecimento já estava normalizado. A preocupação básica na noite de terça era retomar o abastecimento o mais rápido possível. E entreter a população com explicações técnicas. O presidente de Itaipu, Jorge Samek, por exemplo, deu entrevistas na madrugada. Uma delas foi interrompida por um telefonema do próprio Lula. Uma parte da irritação do presidente com o caso se deve ao fato de o apagão ter tirado o brilho do acordo do pré-sal.

Além disso, ainda vai fazer com que sua candidata saia de cena por alguns dias, justamente num momento em que as pesquisas internas de partidos aliados indicam aumento da popularidade de Dilma. No PT, já existe quem esteja interessado em pedir uma pesquisa para ver se a imagem da ministra ficou abalada com o apagão. Lula não esperará pelos dados. Ontem, traçou em público as linhas do discurso contra a oposição. A ideia, como sempre, é comparar o apagão atual com, por exemplo, o racionamento de energia imposto no segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “Não faltou geração de energia”, disse o presidente. “O que aconteceu em 2001 era que a gente não produzia energia suficiente. Ainda não tinha linha de transmissão para interligar todo o sistema elétrico. Hoje, estamos com o sistema elétrico todo interligado.”

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2009/11/12/politica,i=154236/APAGAO+ACENDE+GUERRA+POLITICA.shtml

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