12 de nov. de 2009

Pré-candidatos, Serra e Dilma fazem 1º duelo motivados por apagão

Jornal do Brasil

BRASÍLIA - Bastaram algumas horas depois de a energia ser religada no país para que o curto-circuito político dos bastidores – sustentado por muitos como inevitável – trouxesse aos holofotes a disputa pela sucessão presidencial. Por mais que o governo tentasse focar o problema técnico, tanto provocou a oposição que a própria candidata do PT à sucessão do presidente Lula, Dilma Rousseff, até quinta-feira blindada por estratégia, entrou na briga. Ela e o tucano José Serra protagonizaram, em recados, o primeiro embate do que se espera da disputa em 2010.

– Uma coisa é blecaute, que ninguém pode prometer que não vai ocorrer. O que eu prometi é que não haverá racionamento. Racionamento é barbeiragem – disse Dilma, quinta-feira, em Brasília, numa clara referência ao apagão ocorrido na gestão dos tucanos, na era FHC.

As declarações de Dilma apareceram logo depois que, em São Paulo, o governador tucano José Serra, pré-candidato do PSDB à Presidência e hoje líder nas pesquisas, resolveu sair da sombra do debate eleitoral e atacou o governo. Um pouco comedido, mas com recado claro para Brasília:

– Acho que o governo como um todo precisa dar explicações melhores – provocou Serra. – Não é que não seja verdadeiro o fato de que houve raios e ventanias, mas se o sistema é tão vulnerável, valeria a pena aprofundar por que é tão vulnerável, o que foi feito a esse respeito, o que está sendo feito e os problemas que envolvem a manutenção. Foi um problema grave o que aconteceu

Briga

Com o tiroteio verbal de quinta-feira, ficou claro para a base que, por mais esforço que o Planalto, senadores e deputados fizessem para defender o governo e blindar Dilma, a tirando do foco do debate, os governistas acabaram caindo na armadilha da oposição justamente pelas palavras da ministra até então preservada.

Mais cedo, quando ironizou a segurança do modelo de energia nacional, o governador Serra também disse que ele “tem que ser à prova de pequenos transtornos da natureza”.

– Isso mostra que o sistema elétrico brasileiro é frágil, porque raio e ventania derrubar energia elétrica em 18 estados e por tanto tempo significa, sem dúvida, fragilidade do sistema, necessidade de investimentos e melhorar a qualidade de manutenção – atacou o tucano.

Ciente das declarações, Dilma rebateu, à tarde. Preferiu dizer que o sistema “se defendeu”:

– O que aconteceu é que o sistema foi submetido a uma situação muito grave de ventos, raios e chuvas. E com isso terminou desligado. O sistema se protegeu, ele se desligou – rebateu a ministra, que em outro momento, complementou. – Consideramos que hoje estamos em uma situação milhares de vezes melhor do que alguma vez tivemos.

Congresso

A briga já havia começado no Congresso. O PSDB prepara requerimento para convocar Dilma à Comissão de Infraestrutura do Senado, para explicar o apagão. A base vê clara motivação política, ao passo que tucanos e democratas justificam o pedido pelo fato de ela ter sido ministra de Minas e Energia.

Embora com trocas de críticas envolvendo os governos do PT e do PSDB, tanto Dilma quanto Serra desconversaram sobre o fundo de pano de seus discursos. Ambos disseram que não querem fazer um debate político sobre o episódio – embora isso tenha acontecido.

– Não estou preocupado com isso (uso político). Estou preocupado com o problema em si, porque um país não pode depender o seu abastecimento de energia elétrica de que a natureza evite raios e ventanias – afirmou Serra.

A petista, pressionada, também saiu pela tangente.

– Não vou entrar nesse tipo de polêmica, não me interessa. Não se pode politizar uma coisa tão séria para o país, não é republicano.

Lobão diz que, para ele, “assunto está superado”

Brasília

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, voltou a afirmar quinta-feira que o problema do apagão de terça-feira à noite, que deixou 18 estados sem luz e prejudicou 60 milhões de pessoas, foi pontual:

– Buscamos a causa do problema e conseguimos uma solução rápida. O sistema é confiável e robusto. Este assunto está superado.

Na quarta-feira, Lobão, em coletiva, atribuiu a raios, chuva e ventos fortes a causa do blecaute, embora o Instituto Nacional de Pesquisas Espacias (Inpe) tenha concluído, antes, que essa possibilidade era mínima.

Quinta-feira, depois de coletiva sobre desmatamento, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse, no entanto, que o país ainda não está livre do problema.

– Nós não estamos livres de blecautes. Uma coisa é blecaute. Nós trabalhamos num sistema de transmissão de milhares de quilômetros de rede. Interrupções desse sistema ninguém promete que não vai ter – argumentou a ministra.

Mais defesa

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, também entrou quinta-feira na blindagem do governo. Lembrou que o tema não pode se politizar.

– Não podemos politizar sobre um acidente. Qualquer tentativa de politizar esse episódio vai durar menos que o incidente.

No Congresso, base e oposição ainda brigam. Enquanto o PSDB, DEM e PPS soltaram nota criticando a atuação do governo e pedindo providências, principalmente de Dilma Rousseff, os governistas se mobilizam para tentar barrar qualquer convocação da ministra para explicações nas Casas.

Abastecimento

O abastecimento de água na Grande São Paulo, que estava prejudicado desde o blecaute da última terça-feira, foi normalizado quinta-feira à tarde, informou a Sabesp, estatal que cuida do setor no estado.

De acordo com a empresa, não há mais desabastecimento, mas algumas localidades ainda podem sentir baixa pressão na rede. O blecaute deixou mais de 20 milhões de pessoas sem água no estado. Quinta-feira, ainda 150 mil habitantes sofriam com o desabastecimento, que foi normalizado no fim do dia.

O governo acelerou as conversas sobre a licença ambiental para construção das novas usinas hidrelétricas. Dilma, Lobão e outros membros do governo discutem a liberação da licença para a usina de Belo Monte (PA), que está atrasada.

Novas hidrelétricas vão reforçar o sistema

De acordo com o presidente da Eletrobrás, José Muniz Lopes, as novas usinas que estão em fase de planejamento e construção (Santo Antônio, Jirau e Belo Monte) proporcionarão mais segurança e atuarão para fortalecer o sistema de energia elétrica do país e evitar colapsos como o ocorrido na última terça-feira, que deixou mais da metade do país às escuras.

O governo retomou a data de 21 de dezembro para o leilão da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, informou quinta-feira que na próxima segunda-feira deverá sair a licença ambiental para a retomada do processo.

Lobão negou que a concessão da licença tenha sido acelerada por causa do apagão.

– Não tem nada tem a ver com isso. Belo Monte tem sido projetada há muitos e muitos anos. E a licença está demorando para sair.

Belo Monte, com potência de 11 mil megawatts, será a terceira maior do mundo.

– Necessitamos dela para a garantia do sistema elétrico brasileiro – disse o ministro.

As declarações do ministro foram feitas depois de reunião do PAC Energia, que discute as obras do setor incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento.

Segundo o presidente da Eletrobrás, o edital para a concessão de Belo Monte está em consulta pública. A liminar judicial que emperrava o processo foi derrubada, o que permite a retomada do plano.

– Estamos confiantes que vai dar para cumprir o cronograma de Belo Monte, com leilão em 21 de dezembro – disse Lopes.

O presidente da Eletrobrás contou que a questão de mais investimentos para garantir o aumento da carga e melhorar o suprimento energético do país foi discutida em reunião, pela manhã, com o presidente Lula. Mas ele não revelou se o governo planeja aumento de recursos no setor.

Lopes reiterou que o país tem reserva energética suficiente para dar conta do crescimento econômico acima dos 4%, até 2014. Até lá, as novas usinas devem estar em funcionamento.

Ele negou, porém, que a falta de investimentos possa ter ocasionado o apagão:

– Nós temos energia sobrando. Não se pode antecipar investimentos – afirmou.

Sobre o apagão, Lopes disse ter ficado com a dúvida sobre o fato de o sistema de “ilhamento” das linhas de Itaipu não ter impedido a queda generalizada de energia na região Sudeste.

– Não sou engenheiro de operação, mas me ficou a dúvida sobre o funcionamento do sistema de inteligência das linhas de transmissão, programado para desarmar e cortar a disseminação – comentou Lopes.

– Era para o restante do sistema se ajustar para atender às cargas. Não sei porque não funcionou. O que levou (ao apagão) foi o fato de terem sido desligadas as cinco linhas – disse o presidente da Eletrobrás, que não considera nenhum sistema 100% seguro.

(Com agências)

Indústria: Firjan estima que perdas ultrapassam R$ 1bi

As empresas contabilizam perdas produtivas e problemas pontuais causados pelo apagão, apesar de ainda não terem divulgado os valores do prejuízo. Mas a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) fez as contas e as perdas da indústria podem ter ultrapassado R$ 1 bilhão.

A Firjan informou que os setores que funcionam 24 horas por dia foram os que mais sofreram, como os de petroquímica, alimentos e siderurgia. As operações foram retomadas depois do restabelecimento de energia.

Sete das nove fábricas que a Basf tem no país pararam: Guaratinguetá (SP), São Bernardo (SP), São Paulo, (SP), Idaiatuba (SP), Mauá (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Paulínia (SP). A empresa informou que a falta de energia causou atrasos operacionais, como emissão de notas fiscais e carregamento de produtos. “Ainda estamos falando com todas as unidades de negócios para saber de quanto foi o prejuízo e decidir como a empresa agirá”, informou a Basf em comunicado.

Todas as quatro fábricas da Volkswagen ficaram sem luz e deixaram de produzir 1.500 carros e 800 motores – em São Bernardo, Taubaté, São Carlos (todas no interior de São Paulo) e na unidade de São José dos Pinhais, no Paraná.

A petroquímica Quattor, no Grande ABC, teve seu sistema de segurança acionado, o flare (ou chama, em inglês), o que provocou grande luminosidade das 22h30 às 0h30 na região, por causa da queima dos gases.

A interrupção do fornecimento de energia durou menos de uma hora na Fiat, mas chegou a paralisar as atividades da montadora. A fábrica, que fica em Betim (Minas Gerais), o estado menos afetado, ficou sem luz das 22h15 às 23h. Nesse período, 185 veículos deixaram de ser produzidos na unidade, que produz cerca de 3 mil carros diariamente.

A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) precisou desligar equipamentos secundários, como alto-forno e linhas de laminação, e diminuir a produção na Usina de Volta Redonda. A produção já está normalizada. A falta de energia paralisou também as atividades da fábrica da Bosch, em Campinas.

http://jbonline.terra.com.br/pextra/2009/11/12/e121123274.asp

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