29 de out. de 2009

Meirelles quer ser ''banqueiro do povo''

Para disputa de 2010, presidente do BC mira eleitorado de baixa renda e tenta tirar dividendos do Bolsa-Família

Leonencio Nossa, BRASÍLIA - Estadão - 29/10/2009

Filiado ao PMDB, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, deu ontem os primeiros passos para se aproximar do eleitorado de baixa renda e compartilhar os dividendos do principal programa de transferência de renda do governo. Disposto a concorrer a um cargo nas eleições do próximo ano, ele participou, no Itamaraty, do terceiro lançamento do programa que incentiva beneficiados do Bolsa-Família a abrirem contas na Caixa Econômica Federal.

Meirelles enfatizou em discurso que a estabilidade econômica, associada às políticas públicas, melhorou a qualidade de vida da população de baixa renda. Ele citou como indicadores o aumento nas vendas nos supermercados, de caixas eletrônicos nas cidades e de 30% do número de CPFs com acesso ao sistema financeiro nos últimos quatro anos - passou de 84 milhões em 2005 para 108,8 milhões em 2009.

Assessores do governo disseram que Meirelles começou a divulgar a imagem do "banqueiro do povo" ou "banqueiro das classes C e D". Ele segue o mesmo caminho da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata ao Planalto, que começou a incluir os eventos do Bolsa-Família em sua agenda.

O programa de transferência de renda atende atualmente 12 milhões de famílias. Em Goiás, onde Meirelles tem título eleitoral, 308 mil famílias recebem mensalmente R$ 95 do Bolsa-Família. É uma injeção de R$ 26,2 milhões no Estado. O programa atinge 86,8% dos goianos considerados pobres, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social.

O programa "lançado" ontem teve sua primeira versão em 2003, quando o governo anunciou o "Caixa Conta Fácil", que já atende 9 milhões de correntistas - destes, 2,1 milhões são beneficiários do Bolsa-Família. Em julho do ano passado, durante a disputa eleitoral nos municípios, o programa foi novamente anunciado, em Belo Horizonte. Ontem, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, explicou que havia lançado em 2008 apenas um "programa-piloto".

A presidente da Caixa, Maria Fernanda Coelho, disse que a meta é chegar a 4 milhões de contas até o fim de 2010. Ela afirmou que, agora, o benefício do Bolsa-Família poderá ser sacado em até três vezes. "O programa já existe desde 2003, agora o foco é o Bolsa-Família." Ela ressaltou que as pessoas terão mais oportunidade de poupar. A presidente da Caixa relatou que entre as maiores demandas do público-alvo do programa estão microcrédito, microsseguro e auxílio-funeral.

Meirelles ressaltou também que as famílias de baixa renda não sofreram com a crise financeira mundial, que começou há um ano. O impacto maior, frisou, foi na área de bens duráveis e exportação.

DÍVIDAS

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve assinar um decreto nos próximos dias para facilitar o acesso dos beneficiários do Bolsa-Família ao sistema bancário. Serão fixadas regras para "proteger" as pessoas do endividamento, colocando restrições ao crédito. A ideia é evitar situações similares à de parte dos aposentados que utilizaram o crédito consignado.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091029/not_imp458144,0.phphttp://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091029/not_imp458144,0.php

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