25 de out. de 2009

Contra o PT, Geddel quer apoio de Lula e Dilma

Ministro garante que PMDB não abandonará a candidatura de Dilma mesmo que ela não deslanche nas pesquisas

Leandro Cólon e Marcelo de Moraes - Estadão - 25/10/2009

O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, simboliza os rachas regionais entre PT e PMDB. Candidato ao governo da Bahia em 2010 contra a reeleição do petista Jaques Wagner, Geddel garante, em entrevista ao Estado, que a legenda não vai abandonar a candidatura da ministra Dilma Rousseff (PT) mesmo que não deslanche nas pesquisas, como desconfiam setores do governo. "Essa postura é imutável, sob pena de perder a respeitabilidade da opinião pública. Se a Dilma não decolar, perde-se a eleição", afirma.

O acordo entre as duas legendas foi fechado na terça-feira. O PMDB vai indicar o vice de Dilma. Geddel garante apoio, mas avisa que, em troca, espera a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ministra também em seu palanque na Bahia, mesmo que no Estado haja um candidato do PT.

Para ele, as relações pessoais de Wagner com o presidente e a ministra não devem prevalecer sobre os acordos políticos. "Não faço política com faca no pescoço, nem chantagens. Eu quero isso (apoio a Dilma), não estou negociando posições alternativas. Só terei posições alternativas se for hostilizado. Se perceber que a construção de um projeto político está condicionada às relações pessoais e não política."

No primeiro mandato do governo Lula, o apoio do PMDB não era unânime. Hoje, praticamente todo o partido fechou com o PT no campo nacional. O que conquistou o PMDB? Cargos, fisiologismo?

Não acho que esse estigma colocado ao PMDB seja justo. É natural que os partidos queiram contribuir para o crescimento do País. E há exageros no modelo político em todos os partidos. O que conquistou o PMDB foi ter participado institucionalmente no segundo mandato. O presidente da República ouve, reúne o conselho político, muda de posição em função de críticas de seus aliados. E isso agrega.

O PMDB tem as maiores bancadas no Congresso, é o maior partido do País. Por que não consegue ter candidato próprio à Presidência?

Houve empobrecimento das lideranças nacionais. O próprio desgaste da classe política afugenta quem teria vocação na vida pública. E o PMDB, infelizmente, tem tido o pouco salutar hábito de não se escravizar pelo resultado das urnas. O partido precisa ter posição clara. Se é governo ou oposição. O PMDB tem de governar quando vencer as eleições e ser oposição quando perder. Só mudar de posição num novo pleito. O PMDB termina aderindo a posições que não foram aquelas determinadas pelas ruas e perde a credibilidade.

O PMDB decide apoiar a ministra Dilma a um ano da eleição. Não é um risco?

Isso ajuda a desmentir a característica que tentam nos infligir de que o PMDB é oportunista. Estamos apoiando quando ela ainda não deslanchou nas pesquisas.

E se ela não deslanchar?

Essa postura é imutável, sob pena de perder a respeitabilidade da opinião pública. Se a Dilma não decolar, perde-se a eleição. Mas não acredito nessa hipótese. Acho que ela vai decolar porque encarna um projeto que está dando certo. Ela se tornará uma boa candidata, conhece o País, o que está sendo feito e terá condições de defender a continuidade do projeto.

O que falta para ela decolar?

É começar a campanha. As pessoas conhecerem a ministra. Ela poder andar pelo Brasil como candidata.

A oposição criticou a visita às obras do Rio São Francisco, que envolvem seu ministério. Acusou o governo de fazer campanha...

Eu estava aberto para receber críticas que aprimorem o projeto. Eu vejo com naturalidade essas críticas, apesar de entender que estão vestidas com o manto da hipocrisia. A pessoa pública tem legitimidade para visitar obras.

Até o presidente do STF, Gilmar Mendes, subiu o tom nesse caso...

E me permito discordar do ministro Gilmar Mendes. Se ele tivesse ido à viagem, veria, in loco, que o que saiu na imprensa não é bem aquilo. Tenho apreço por ele, mas não posso concordar com tudo o que diz. Nesse caso específico, cometeu um equivoco. Até vou encaminhar a ele um convite para visitar uma obra importantíssima como essa.

O presidente Lula e a ministra Dilma deram sustentação para salvar José Sarney no Senado. Isso contribuiu para o apoio do PMDB?

Pode ter sido para o Sarney, para mim, não foi. O presidente Lula sabe que, dada a complexidade do PMDB, não seria a liderança do presidente Sarney suficiente para conduzir o partido para esse apoio. O que contribuiu para esse compromisso é a posição respeitosa dele com o partido. A demonstração clara do presidente da República de que quer o PMDB como parceiro.

O senhor é candidato ao governo da Bahia em 2010 contra um petista, o governador Jaques Wagner. Qual garantia o senhor terá de que a ministra Dilma subirá em seu palanque?

A garantia que sustenta a vida pública: os acordos firmados são cumpridos. Estou dizendo de forma clara que desejo oferecer o apoio à continuidade do projeto do presidente Lula. Compreendo que o presidente e a ministra Dilma entendem que a circunstância da vida política por vezes não nos permite realizar o ideal. A gente na política faz o possível. E o possível na Bahia, no momento, é a construção de duas alternativas de apoio ao projeto nacional. Só não estarei nessa posição se for francamente hostilizado por aqueles que desejo apoiar.

Então o senhor quer a ministra Dilma no seu palanque?

É evidente que sim. E quero o presidente Lula. Não é uma questão de relações pessoais, mas política.

O senhor sempre foi próximo ao PSDB. Se o PT criar problemas para a presença de Dilma em seu palanque, poderá apoiar um candidato do PSDB ao Planalto?

Não faço política com faca no pescoço, nem com chantagens. Eu quero isso (apoio a Dilma), não estou negociando posições alternativas. Só terei posições alternativas se for hostilizado, se perceber que a construção de um projeto político está condicionada às relações pessoais e não à política. E o presidente Lula tem biografia e história para compreender que o Brasil é maior que qualquer outra questão. Estou tratando com pessoas de bem, sérias. Se eu tiver de tomar posições, serão tomadas antes de alguém imaginar posturas de traição.

Qual sua opinião sobre as candidaturas de José Serra e Aécio Neves?

São dois grandes brasileiros que prestaram grandes serviços ao País. O governador José Serra já foi tudo neste país e tem legitimidade para postular a candidatura à Presidência, como o Aécio, um jovem político que conquistará suas ambições na política nacional.

Lula tem muita capilarização política no interior do País. A popularidade dele transmite votos a Dilma?

O Lula é o Lula. Por sua origem, pela forma como construiu sua carreira. Não vamos comparar as pessoas. O Lula é pessoa única, cheia de qualidade e repleta de defeitos. O Lula aonde vai é um mito, um astro pop. Ele é o grande eleitor do Brasil hoje. É claro que ele tem perspectiva de eleger o sucessor. Mas essa é uma resposta que teremos ao abrir as urnas. A Dilma também tem qualidades e defeitos. Ela terá oportunidade de mostrar à sociedade brasileira que as qualidades superam os defeitos. Não adianta fazer futurologia.

Quais são esses defeitos?

Vou deixar que os adversários os apontem. Eu sou aliado dela.

Não falta falar a língua do povo?

Isso a experiência vai colocar. Essa coisa de falar a linguagem do povo é um defeito que o tempo corrige. Não é a forma, mas o conteúdo. Se ela mostrar que o que diz vem da alma, vai angariar simpatia.

Alguma dúvida sobre o nome de Michel Temer como vice?

É o nome favorito, mas evidentemente que, do ponto de vista legal, só se consolidará na convenção de 2010.

O segundo mandato do presidente Lula foi melhor do que o primeiro?

Evidentemente, a experiência do exercício do poder faz superar os problemas. O Fernando Henrique, em seu segundo mandato, foi vítima das circunstâncias internacionais. Não dá para comparar. Eu tenho autoridade para dizer: o presidente Fernando Henrique é um grande brasileiro que deu uma grande contribuição ao País. Não vou me apequenar diante da circunstância política. Eu tenho pelo presidente Fernando Henrique apreço e admiração.
 
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