25 de out. de 2009

Após perder hegemonia, PSDB será força auxiliar no Ceará

Partido, que tem em Tasso seu único líder local, deve apoiar nome do PSB ou do PR em 2010

Marcelo de Moraes - Estadão - 25/10/2009

Duas décadas depois de iniciar uma hegemonia tucana de quatro mandatos no Ceará, o senador Tasso Jereissati se tornou o último expoente do grupo que, além de demonstrar força local, influiu nos rumos do PSDB no cenário nacional. Apesar de manter sua importância no Estado, Tasso é quase um pássaro solitário no ninho tucano cearense, já que suas principais crias políticas acabaram migrando para outros partidos.

A mudança do ciclo de poder fica clara com o cenário eleitoral para 2010. Depois de apresentar candidatos competitivos em todas as eleições para o governo desde 1990 (em 1986, Tasso se elegeu governador, mas ainda como membro do PMDB), o PSDB local deverá se contentar agora apenas em trabalhar para garantir um novo mandato para o senador.

No Ceará, os tucanos elegeram o governador em 1990 (Ciro Gomes), 1994, 1998 (Tasso nas duas ocasiões) e 2002 (Lúcio Alcântara). Perderam a reeleição em 2006, mas Alcântara apresentou uma candidatura competitiva.

No momento, o PSDB ainda não decidiu se apoiará a reeleição do governador Cid Gomes (PSB) ou a campanha oposicionista do prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa (PR). Em qualquer opção, não haverá o protagonismo demonstrado em eleições passadas.

O primeiro motivo da mudança é que o PSDB local deixou de representar o governo federal após a chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao poder, em 2003. Além disso, líderes do partido trocaram de legenda em busca de consolidação de seus projetos políticos. Foi assim com Ciro Gomes, que mudou para o PPS e depois para o PSB; com o ex-senador Sérgio Machado, que partiu rumo ao PMDB e hoje preside a Transpetro; com o ex-governador Lúcio Alcântara, que se filiou ao PR; e com o ex-vice-governador Moroni Torgan, que hoje está no DEM.

CIRO GOMES

O fator decisivo foi a consolidação do prestígio de Ciro Gomes. Depois de sair do PSDB, em 1996, por conta de desentendimentos políticos e pessoais com dirigentes nacionais do partido, Ciro fez a opção por trabalhar seu nome nacionalmente.

Duas candidaturas presidenciais e o comando do Ministério da Integração Nacional no primeiro mandato de Lula ajudaram a multiplicar a força de Ciro e a transformá-lo no político mais conhecido do Ceará - ele se elegeu deputado federal com mais de 600 mil votos, sendo proporcionalmente o mais votado do País, com 16% dos votos válidos. Graças à influência direta do ex-ministro, seu irmão Cid Gomes chegou ao governo em 2006 e é o grande favorito para a reeleição em 2010.

Nos primeiros anos do PSDB, a seção cearense adquiriu rapidamente prestígio nacional. Tasso chegou a presidir o partido e, aliado aos mineiros, serviu como contraponto interno ao diretório de São Paulo. Até setores importantes do PSDB paulista operavam politicamente em parceria com a ala cearense. O ex-governador de São Paulo Mário Covas permaneceu próximo a Tasso até falecer, em 2001.

PASSEIO

O prestígio do PSDB cearense atravessou seu melhor momento durante as eleições de 1994. Na ocasião, Tasso foi eleito governador com mais de 400 mil votos de vantagem sobre o segundo colocado, o peemedebista Juraci Magalhães. Para o Senado, elegeu Sérgio Machado e apoiou decisivamente a campanha do outro escolhido, Lúcio Alcântara, que, na época, ainda estava filiado ao PDT - aderiu ao PSDB logo em seguida.

Nas eleições proporcionais, outro passeio. Das 22 vagas para a Câmara dos Deputados, o PSDB ficou com 11. Para a Assembleia Legislativa, entre os 15 deputados estaduais mais votados, nada menos do que 14 eram tucanos.

Para coroar essa hegemonia da seção cearense do partido, em 1994, Ciro Gomes, que governava o Estado, ocupou o cargo mais nobre da equipe econômica do presidente Itamar Franco, ao assumir, em setembro daquele ano, o Ministério da Fazenda, onde permaneceu até o fim do mandato presidencial.

QUEDA

O afastamento de Ciro do PSDB marca o início do declínio do partido. Foi para o PPS, pelo qual disputou pela primeira vez a eleição presidencial em 1998. Perdeu, com uma plataforma de crítica ao governo de FHC. Quatro anos depois, tentou novamente e foi derrotado. A diferença é que, dessa vez, se aproximou politicamente do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, a quem apoiou no segundo turno contra o candidato tucano, José Serra.

Eleito Lula, Ciro foi indicado para ocupar o Ministério da Integração Nacional e se afastou definitivamente do PSDB. Também se distanciou do PPS que, sob comando de Roberto Freire (PE), defendia a oposição ao novo governo. Ciro se filiou ao PSB em 2003 e deflagrou o início de um novo ciclo de poder político no Ceará, alinhado politicamente com o governo federal petista.

O PSDB cearense, além de não comandar o governo do Estado, tem hoje apenas dois deputados federais e um senador (o próprio Tasso). Em 2010, lutará para, ao menos, preservar esse espaço.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091025/not_imp456038,0.php

Nenhum comentário:

Postar um comentário