Folha
Em debate promovido pela Folha e UOL, o vice do presidenciável José Serra (PSDB), Indio da Costa (DEM), fez duras críticas à ex-ministra Dilma Rousseff (PT). Segundo ele, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) foi um fracasso e a petista é "despreparada" para governar o país.
"Lula está encerrando um ciclo da política brasileira. Ele apresenta uma candidata que ninguém sabe quem é, que é despreparada. O PAC foi um fracasso. Para chegar à Presidência, seria uma negação eleger alguém que nunca foi vereadora, nunca foi deputada. Ela vem por indicação de um político bem avaliado. Isso é um grave risco para o país, assim como Pitta em Maluf", disse.
Indio afirmou que Dilma, como gerente do PAC, se mostrou uma "péssima gerente". "Não mandou um centavo do PAC da saúde para São Paulo. A responsabilidade dela era de gerente. O PAC está empacado. Eles fazem muito marketing. É ridículo o resultado. Você, Guilherme [Leal, vice de Marina Silva], contrataria a Dilma para gerenciar sua empresa? Eu não contrataria ela para ser gerente. Além de ser péssima gerente. O Brasil precisa de um líder, de alguém que possa tomar decisões em momentos de crise. A popularidade de uma pessoa que tem boa comunicação, que é o presidente, e de outro lado muita incompetência. Margaret Thatcher, essa sim tem fibra."
Provocado pelo vice de Serra, o vice de Marina Silva (PV), Guilherme Leal, afirmou que "teria sérias dúvidas" para contratar Dilma como gerente de sua empresa. O vice de Marina é sócio da Natura.
Para o democrata, o PT não consegue reconhecer que foi o PSDB que preparou o terreno para o presidente Lula. "[O ex-presidente] FHC é um estadista. Se FHC não tivesse feito o real, não teria a estabilidade. A atual Bolsa Família era Bolsa Escola, nasceu no governo FHC. Essa negação do PT de reconhecer que foi o PSDB que preparou o terreno é absurda."
Presidente da Câmara e vice de Dilma, Michel Temer (PMDB) saiu em defesa de Dilma. Para o peemedebista, ela revelou uma capacidade extraordinária. "Ela tem o dinamismo paulista e a capacidade de superação nordestina. Ela é a síntese do Brasil. Ela nunca disputou eleição, mas ela entrou nessa eleição com uma capacidade extraordinária e enfrenta muito preconceito por ser firme."
CARGOS
Ao ser questionado sobre o estigma que o PMDB carrega de ser um partido que entra em alianças em troca de cargos, o peemedebista saiu em defesa de sua legenda.
"Na aliança PT e PMDB, o PMDB terá a Vice-Presidência. E participaremos do programa de governo. Esses são os únicos compromissos. Não há nada disso de partilha de cargos. Nosso regime é presidencialista. É a presidente eleita que vai chamar os partidos. O que o PMDB vai fazer é colaborar com o governo. O PMDB repudia essa coisa do fisiologismo", disse ele durante debate promovido pela Folha e UOL entres os candidatos a vice.
O vice de Serra afirmou que o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura em Transportes) está todo dividido. "A Petrobras perdeu valor de suas ações nos últimos tempos. Os órgãos públicos estão sendo politizados. Uma coisa é o discurso, outra coisa é a prática. Na prática, o PT ocupou todos os níveis de governo. É um caos total do ponto de vista dos serviços."
Temer rebateu e disse que o Brasil está crescendo e empresta dinheiro para o FMI (Fundo Monetário Internacional). "Aumentamos nossas reservas para US$ 260 bilhões. A razão é por um governo muito bem avaliado. Não há fisiologismo, troca de cargos. Ao invés de ser uma coisa não saudável, é uma coisa saudável da democracia."
Leal concordou que o Brasil está crescendo, mas disse que há gargalos na infraestrutura justamente por conta da falta de um planejamento integrado.
"O Estado onera com carga tributária elevadíssima. Isso por conta de um Estado que é, sim, muito partilhado e muito influenciado por este regime político de PT e PMDB. As duas candidaturas aqui apresentadas reproduzem esse regime para o futuro. A proposta de Marina Silva é convocar os melhores quadros, os melhores líderes, para fazer um governo comprometido com o público."
CANDIDATURA PRÓPRIA
Temer ainda falou sobre o fato de o PMDB não lançar candidato próprio à Presidência.
"Em 2006, quando o PMDB se aliou ao PSDB, não havia condições de lançar candidatura própria, embora esse fosse meu desejo. Em 2006, nós tentamos lançar candidatura própria, com disputa entre o governador Rigotto e o governador Garotinho. Mobilizamos cerca de 16 mil autoridades do PMDB. Foi o escolhido o candidato Garotinho, patrocinado por mim, mas, ao mesmo tempo, estava em vigor a verticalização. Se você lançasse uma candidatura nacional, não poderia fazer alianças regionais. Na convenção nacional, os delegados dos partidos nos estados votaram contra o lançamento da candidatura própria. Já em 2010, estávamos no governo, em unidade, desde o segundo mandato. Em outubro de 2009, ou saímos do governo ou negociamos uma candidatura dentro da chapa do PT. O acordo foi escrito, em que o PMDB ficava com a vice-presidência. É ilegítimo sair com candidatura própria sendo que estávamos no governo."
FARC
Indio voltou a afirmar que o PT tem relação com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). "Nunca disse que o PT apoia as Farc, disse que as Farc são apoiadas pelo narcotráfico e que o PT tem relação com as Farc", disse durante debate promovido pela Folha e UOL entres os candidatos a vice.
O democrata defendeu a criação do Ministério da Segurança Pública. "Cuidar das pessoas que precisam e conter a entrada da droga. O tiroteio que teve no Rio de Janeiro e que terminou na morte de uma mulher, era traficante fugindo da polícia. O que banca isso é a droga, e quem está por trás é as Farc."
DROGAS
Ao ser questionado sobre seu apoio a Fernando Gabeira, candidato do PV ao governo do Rio, que é a favor da descriminalização da maconha, o vice de Serra afirmou nunca ter usado maconha e não gostar de droga.
"Hoje, Gabeira é contra a liberação das drogas. Agora, se trata de cuidar do Brasil, que está assolado por uma droga que não é a maconha, é muito pior que a maconha. Eu sou do Rio de Janeiro, o que é conviver com facções e com as milícias. É uma coisa simples. Ou se interrompe a entrada de drogas no Brasil ou a gente vai continuar com esse problema."
SALÁRIO
Indio prometeu que, se eleito, doará seu salário à Santa Casa. "A minha função será trabalhar visitando o Brasil inteiro, saber se os hospitais estão funcionando, onde estão os gargalos de infraestrutura, saber como estão as obras do PAC, para poder fazer com que elas adiantem. Em relação ao salário, eu sou filho de pessoas que trabalham, mas gostaria de dizer que vou doar meu salário inteiro à Santa Casa, caso seja eleito. Porque eu não vou trabalhar pelo salário. Quero muito ser vice com Serra. Gerar oportunidade de emprego para você, jovem. Eu não estou atrás do salário. Eu quero trabalhar para você."
REVISÃO CONSTITUCIONAL
Temer defendeu um referendo para verificar se o povo concorda ou não com a proposta de revisão constitucional. Segundo ele, é possível fazer uma revisão constitucional facilitada, não uma nova Constituinte. Temer, no entanto, afirmou que não seria possível aprovar a junção da Câmara e do Senado.
"O novo Congresso teria poderes para fazer a revisão constitucional. Para isso, é preciso que o povo confira, na eleição, esse poder ao Congresso. O que eu proponho é que se faça um referendo para verificar se o povo concorda ou não. Nós precisamos utilizar mais a figura do plebiscito, que é manifestação da democracia direta", disse durante debate promovido pela Folha e UOL entres os candidatos a vice.
Indio, por sua vez, disse ser contra qualquer tipo de mudança na Constituição. Ele ainda fez críticas à falta de Dilma ao debate das TVs católicas na noite de ontem e rebateu a declaração do ministro Franklin Martins (Comunicação Social) de que ele é uma "besta".
"Eu queria dizer que me parece que eles estão vivendo no século passado. Todo movimento feito pelo atual presidente de 2004, em agosto de 2004, foi enviado pelo presidente um projeto de criação do Conselho dos Jornalistas. Em 2009, foi enviado o Plano Nacional de Direitos Humanos, que quer calar a boca da imprensa. Em março de 2010, houve, na Conferência Nacional de Cultura, o ministro Franklin Martins disse que quer controlar a imprensa. A liberdade de expressão é garantia da democracia. Eu votei porque já tinha liberdade naquela época para votar. Quem tem 18 anos de idade, não acompanhou a ditadura. Mas você quer ter oportunidade, e o atual governo não está nos oferecendo. A candidata atual não é conhecida da população. Vamos ter atenção, acompanhar de perto, para escolher melhor em quem votar."
Leal afirmou que a candidatura verde tem colocado uma Assembleia Constituinte exclusiva como opção para tratar algumas questões que se colocam como desafio ao desenvolvimento sustentável de longo prazo.
"A questão da reforma política poderia representar avanços significativos nesse quadro. Isso impede a criação de um ambiente que promova a competitividade, a eficiência, para a sociedade brasileira. Essas reformas são fundamentais, e em uma situação normal, elas não têm sido obtidas, em função do quadro político em que vivemos. No âmbito da América Latina, tentativas de criação de uma democracia onde a força do poder Executivo e regimes populistas buscam se assenhorar de um excesso de poder, isso não pode ser ignorado. Essa questão deve ser olhada com muito cuidado."
CONSTITUINTE
Leal afirmou que há reformas que dificilmente serão realizadas se não forem realizadas através de uma Constituinte. "Por isso é a favor, mas que seja com cuidado", disse.
Temer disse que não há clima no país para uma Constituinte exclusiva. "A ideia da Constituinte é que alguns podem fazer melhor que outros. Em 1987/1988, eu tinha uma visão elitista do Congresso constituinte, mas um dia um colega me levou a um bairro muito pobre. Eu, que conhecia a representação popular na teoria, conheci na prática. Quem fala pelo povo é este cidadão. Sou da área jurídica, portanto, cada setor tem que ter sua representação. Não vejo razão para distinguir um Congresso que faça as reformas e um Congresso que faça a revisão constitucional."
ENCONTRO
Durante duas horas, os candidatos a vice responderam a perguntas de Irineu Machado, editor-executivo do UOL Notícias, e de Vera Magalhães, editora do caderno Poder. O evento ocorreu nos estúdios do portal (av. Brig. Faria Lima, 1.384). A mediação foi de Fernando Rodrigues, colunista da Folha e do UOL.
Os candidatos também responderam a perguntas em vídeo de internautas. O debate teve um caráter mais informal do que os debates Folha/UOL realizados na semana passada.
Cada candidato teve aproximadamente dois minutos para responder às perguntas. Em seguida, os outros dois tiveram direito a tecer comentários sobre o mesmo tema.
http://www1.folha.uol.com.br/poder/787978-vices-de-serra-e-marina-atacam-dilma-temer-defende-petista-e-nega-interesse-do-pmdb-em-cargos.shtml
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