Correio Braziliense - Denise Rothenburg
Há um ano, um político experiente na análise dos movimentos mais sutis dos principais personagens do cenário político deu o veredicto: ou a oposição se mexia cedo, rachava o PMDB e deflagrava uma profusão de candidatos antes que Lula transferisse o prestígio para a sua candidata, ou então seria difícil conquistar votos só no período da campanha. Hoje, os tucanos que ouviram essa análise dão a mão à palmatória. Até porque, em conversas reservadas, o próprio presidente Lula tem dito que só falta um degrau da escada para cumprir o que planejou em 2007, quando começou a vislumbrar a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, como sua herdeira: a vitória no primeiro turno, meta que, segundo as pesquisas eleitorais, não é impossível de atingir se confirmadas as tendências de intenção de voto registradas hoje. Seria o coroamento de um projeto que até o próprio Lula não alcançou.
Nas duas eleições que venceu, ele disputou um segundo turno. Agora, Dilma pode ter um desempenho superior. O segredo do sucesso? Quem acompanha a política não tem dúvidas: planejamento. O prefeito de Olinda, Renildo Calheiros (PCdoB-PE), por exemplo, atribui o atual patamar da petista a uma mistura de fatores que vão além da simples transferência de votos. “Eu antes tinha dúvidas de que ela seria uma boa candidata, embora a considere excelente gestora. Hoje, não tenho mais”, diz.
O principal componente, dizem os políticos, foi o trabalho anterior. Enquanto Dilma transmutava-se de “mãe” do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Lula trabalhava a política. Primeiro, a tarefa foi convencer o próprio partido. Deu certo porque o PT estava arranhado pela imagem do mensalão e precisava de um nome mais ligado a Lula do que à legenda. Para ajudar na costura, Lula contou com Gilberto Carvalho, Antonio Palocci e Fernando Pimentel. José Dirceu atuou por fora.
O martelo no PT foi batido em julho do ano passado, quando Dilma terminou a quimioterapia para tratamento de câncer descoberto em abril. Enquanto esteve doente, alguns petistas chegaram a buscar um plano B, mas Lula repeliu todos. Apaziguado o PT, o presidente partiu para agregar os partidos aliados. A estratégia era evitar uma profusão de candidatos e não ficar refém da transferência pura de votos.
O principal ganho foi o PMDB, levado em bloco para o governo em 2007, com a posse de Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) no Ministério da Integração. Ali, o planejamento de Lula não foi cumprido à risca. Henrique Meirelles filiou-se ao partido crente que seria o vice na chapa de Dilma. O PMDB não aceitou e impôs Michel Temer — hoje fiador da aliança, que faz o PMDB trabalhar pela eleição da ex-ministra.
Truque
Outro aliado que o presidente não queria ver longe era o PSB de Ciro Gomes e de Eduardo Campos. Ao mesmo tempo em que bateu o martelo pró-Dilma, o presidente fez chegar ao PSB que o governo teria um único candidato à Presidência. Para não deixar Ciro à deriva, Lula, sem falar com o PT, ofereceu a ele a vaga para concorrer ao governo de São Paulo. O PT paulista não apoiou em bloco e, ao sentir o cheiro de “fritura”, Ciro se fechou na campanha presidencial. Lula, porém, minou aliados de Ciro e não deixou alternativa aos socialistas a não ser retirar a candidatura. Assim, levou todos para o palanque de Dilma, exceto o PV, que lançou Marina Silva, o PP de Francisco Dornelles, que ficou neutro, e o PTB de Roberto Jefferson , hoje na coligação de José Serra.
Com os aliados pacificados, a ideia do presidente, agora, é dar a Dilma mais do que ele próprio teve em 2002 e em 2006, quando precisou disputar o segundo turno. “A eleição não está ganha ainda, mas vamos resolver no primeiro turno”, diz o presidente aos aliados.
Marcus Figueiredo, pesquisador do Iuperj , afirmou que o sucesso de Dilma deve-se à economia e à sensação de bem-estar do eleitorado. “O eleitorado está contente e satisfeito com os ganhos durante o governo do Lula. A pergunta que o eleitor faz é: ‘se está bom, por que mudar’?”, afirmou.
Para Antonio Queiroz, diretor do Departamento Interssindical de Assessoria Parlamentar, o sucesso de Lula seria transferido para qualquer candidato. “O que está sendo analisado é a continuidade de um projeto que está indo bem”, disse, descartando que uma das razões do sucesso se deva ao fato de Dilma ser mulher.
Colaborou Tiago Pariz
Confira o passo a passo da "mágica"
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/08/24/noticia_eleicoes2010,i=209424/POCAO+DE+LULA+TRANSFORMOU+DILMA+EM+FAVORITA+AO+PALACIO+DO+PLANALTO.shtml
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