Correio Braziliense - Denise Rothenburg
O surgimento de nomes do PMDB em gravações da Operação Caixa de Pandora e no material apreendido dentro da Operação Castelo de Areia (1), ambas da Polícia Federal, deixou petistas e peemedebistas em alerta, no sentido de trabalhar para blindar a chapa presidencial alinhavada entre os dois partidos. No caso do PMDB, a preocupação é não deixar que as denúncias de corrupção, em especial aquelas do Distrito Federal, enfraqueçam a inclusão do presidente da Câmara, Michel Temer, na chapa da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República. Da parte do PT, a intenção é monitorar as investigações para que o partido não seja surpreendido mais à frente.
Ontem, os petistas afirmaram em conversas reservadas que, pelo menos até o momento, nada mudou. Temer é o nome mais forte para formalizar a aliança. Até pela forma incisiva como ele reagiu às duas citações - a da Operação Caixa de Pandora no DF e a da Castelo de Areia, em São Paulo -, o PT considera necessário aguardar, uma vez que não há nada comprovado que desabone o presidente da Câmara.
Na avaliação dos petistas, ainda que Temer tenha qualquer "incidente" que o obrigue a ficar longe da chapa, o PMDB tem outros nomes, como o presidente do Banco Central, o ministro Henrique Meirelles, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, pré-candidato do PMDB ao governo de Minas Gerais, e, ainda, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima. Geddel, aliás, já se referiu a si próprio há alguns meses como o "Dilmo da Dilma".
Queixa
Ontem, os peemedebistas se apressaram em responder de forma incisiva às denúncias. Temer anunciou ainda que irá ingressar com uma queixa-crime contra Alcyr Colaço, que cita seu nome e o de mais três peemedebistas numa fita gravada pelo ex-secretário de Relações Institucionais do DF Durval Barbosa. O deputado também ingressará na Justiça de São Paulo, para que haja interpelações relativas à citação de seu nome em uma suposta planilha apreendida na Operação Castelo de Areia, realizada em março deste ano, sobre denúncias de pagamento de propina pela construtora Camargo Corrêa.
No caso do DF, a citação de Temer e de mais três integrantes do partido numa das fitas do arsenal de Durval Barbosa - objeto da Operação Caixa de Pandora - foi tratada como uma %u201Carmação%u201D do grupo do governador Joaquim Roriz contra aqueles que lhe negaram a legenda para concorrer ao governo local. "Roriz queria uma intervenção no PMDB do DF e nós fomos contra, por isso, ele agora tenta nos envolver nisso. Já entrei com uma queixa-crime", afirma o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). "E isso não muda nada. Temer continua como o nome preferencial para candidato a vice", diz o líder, referindo-se à reunião em que PMDB e PT voltaram a discutir a aliança nacional na última quarta-feira, onde discutiram os palanques estaduais.
A gravação é datada de 17 de setembro deste ano - mesmo dia em que Roriz perdeu a chance de ser candidato pelo PMDB e Durval recorreu à delação premiada. Ali, são citados Temer, Alves, e os deputados Eduardo Cunha (RJ) e Tadeu Filippelli (DF) como receptores de recursos do propinoduto do DF. Ontem, os quatro anunciaram ações judiciais para que Colaço comprove na Justiça o que diz no vídeo. Cunha foi o mais incisivo: "Tendo em vista a divulgação de vídeo contendo citação ao meu nome, praticada por dois meliantes, quero registrar a minha indignação e desmentir de forma peremptória que tenha qualquer tipo de relação com estes indivíduos e com qualquer fato político envolvendo o Distrito Federal", diz o texto, que segue fazendo insinuações sobre aqueles que saíram do PMDB, sem citar o nome de Roriz: "Os diálogos expostos pela gravação são mentirosos e certamente escondem interesses políticos escusos daqueles que já saíram de mandatos pela porta dos fundos e buscam uma vingança sórdida por estarem longe do PMDB".
1 - Planilha
A Operação Castelo de Areia investigou crimes financeiros e doleiros que estariam envolvidos num suposto esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas com a participação de executivos da Camargo Corrêa, uma das maiores construtoras do país. Numa suposta planilha apreendida na casa de um dos executivos, Pedro Bianchi, o nome de Michel Temer aparece várias vezes associado a valores em dólar.
» PF envia relatório
Edson Luiz
A Polícia Federal encaminhou para a Justiça Eleitoral, em São Paulo, os documentos apreendidos durante a Operação Castelo de Areia que teriam citações de contribuições em dinheiro para políticos. Em um dos papéis encontrados na casa de um dos executivos da Construtora Camargo Corrêa, estão anotações referentes ao presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), que supostamente recebeu repasse de US$ 345 mil de 1996 a 1998. Segundo a PF, o material colhido na ação tinha como finalidade apenas embasar as investigações de lavagem de dinheiro e de crimes financeiros, sem qualquer vinculação com doações eleitorais. O deputado afirmou que não tinha nenhum envolvimento com a Construtora Camargo Corrêa ou com seu funcionário.
Segundo a Polícia Federal, os documentos e planilhas relativos a possíveis doações políticas não fazem parte do conjunto probatório da investigação que originou a Operação Castelo de Areia. "A autoridade policial responsável pela investigação requereu ainda o envio desses documentos à Justiça Eleitoral para confrontação com os recursos oficiais, cabendo exclusivamente a esta a determinação de instauração de investigação do conteúdo", apontou a PF, por meio de nota. O comunicado afirma ainda que os papéis foram anexados ao inquérito.
A Operação Castelo de Areia foi desencadeada em março deste ano, em São Paulo. A Polícia Federal investigava esquema de lavagem de dinheiro. Entre vários documentos apreendidos estavam planilhas com nomes de políticos de diversos partidos, mas sem referências de irregularidades. Porém, a PF localizou um arquivo sigiloso onde constavam outros nomes, um deles de Temer, que teria recebido supostos repasses com valores entre US$ 10 mil e US$ 75 mil. O presidente da Câmara afirmou que vai responsabilizar os autores da acusação, classificada por ele como "leviana". O deputado taxou a planilha de apócrifa e que seu nome foi grafado erradamente, o que comprovaria a fraude.
Análise da notícia
Medo da rejeição
A palavra blindagem está hoje na moda entre todos os partidos, de forma a segurar as cartas que todos eles separaram para jogar na mesa da sucessão presidencial em 2010. No caso da aliança PT- PMDB, há um motivo a mais: o temor que um enfraquecimento de Michel Temer como o nome preferencial termine por tirar dos peemedebistas aliados ao governo Lula a maioria capaz de formalizar a composição entre os dois partidos para a sucessão presidencial de 2010. Ontem, por exemplo, o líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves, perguntado, foi incisivo: "Não tem o que, nem por que mudar".
O PT, da sua parte, também não tem muito espaço para rejeitar essa parceria ou se afastar dos peemedebistas. O PMDB - o mesmo que Lula rejeitou assim que chegou ao poder em 2003, recusando-se a aceitar o acordo que o então presidente do PT, José Dirceu, havia selado com Temer - aos poucos construiu um consórcio com Lula.
Hoje, os grupos de Temer e do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), ocupam quase metade do governo. Têm os ministérios de Minas Energia, Comunicações, Saúde, Integração Nacional, Defesa. Recentemente, o partido adquiriu também o presidente do Banco Central, o ministro Henrique Meirelles.
Isso sem contar as diretorias de estatais, como Transpetro, Eletrobras e Furnas. Em nome da continuidade dessas parcerias, ninguém vai cruzar a linha e acusar quem quer seja sem provas contundentes. E, pelo menos até agora, não há nem a voz nem a imagem de autoridades do PMDB nacional recebendo dinheiro ou conversando sobre propina. Apenas citações de terceiros no escândalo do GDF. (DR)
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2009/12/04/politica,i=158862/PT+E+PMDB+CADA+UM+DE+MANEIRA+PROPRIA+TENTAM+EVITAR+QUE+INVESTIGACOES+DA+POLICIA+FEDERAL+ENFRAQUECAM+UNIAO+EM+2010.shtml
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