1 de dez. de 2009

Planalto crê em dividendos para PT

Avaliação é de que escândalo atinge não só reeleição de Arruda, mas aliança DEM-PSDB para 2010

Estadão - Vera Rosa, BRASÍLIA

O governo acredita que a crise enfrentada pelo DEM, com denúncias de corrupção envolvendo o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, renderá dividendos políticos ao PT nas eleições de 2010. Na avaliação do Palácio do Planalto, o escândalo do mensalão do DEM atinge em cheio não só a candidatura de Arruda à reeleição como a aliança do partido com o PSDB para a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em conversas reservadas, auxiliares de Lula dizem que a oposição está "provando do seu próprio veneno". Na crise do mensalão que dizimou a cúpula do PT e sacudiu o governo, em 2005, parlamentares do DEM falaram em impeachment do presidente.

A crise na oposição aterrissou em Brasília no momento em que a cúpula do PT comemora resultado de pesquisa encomendada ao Instituto Vox Populi, mostrando o crescimento da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, como candidata petista à sucessão de Lula. Apesar de ainda ser desconhecida pela maioria da população, Dilma já superou a meta de 20% das intenções de voto, estabelecida pelo PT.

Em entrevista à Rádio Bandeirantes, Dilma falou ontem do escândalo. "Eu tinha uma impressão muito respeitosa em relação ao governador Arruda. Fiquei surpresa e triste. Acho muito ruim vermos episódios como esse", disse. A ministra tachou as imagens de "escandalosas", mas considerou positivo o fato de o caso vir à tona, para que as irregularidades não prossigam.

ENCRUZILHADA

Para o governo, não só os "demos" como os tucanos enfrentam uma encruzilhada. Petistas repararam ainda que, na tentativa de se distanciar do terremoto, o governador de São Paulo, José Serra - provável candidato do PSDB à cadeira de Lula -, assumiu a linha de frente do pedido de investigação sobre a corrupção no Distrito Federal.

No diagnóstico do presidente, Serra pode sofrer os estilhaços da crise se fechar aliança com o DEM. Apesar de ter bom relacionamento com Arruda e o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, Lula nunca esqueceu a fúria de dirigentes do DEM no auge do caso do mensalão.

Em reuniões no Planalto, ele sempre chama integrantes do partido de Arruda de "demos" e acusa "golpe baixo" no tipo de oposição levado a cabo pela sigla. Recentemente, porém, Lula mostrou proximidade com o governador ao comparecer, com Dilma, a uma cerimônia no Ginásio Nilson Nelson para anunciar o plano de cargos e salários destinado a policiais militares e bombeiros do Distrito Federal.

Na prática, a cúpula do DEM está dividida em relação ao apoio a Serra. O presidente do partido, deputado Rodrigo Maia (RJ), não esconde a simpatia pelo governador de Minas, Aécio Neves (PSDB) e cobrou de Serra que acelere o passo, definindo se entrará no páreo.

No cenário regional, o PT avalia que o novo escândalo fez não só o DEM, mas também o ex-governador Joaquim Roriz (PSC) cair em desgraça, fortalecendo o ex-ministro Agnelo Queiroz na briga pela cadeira de Arruda.

COLABOROU CLARISSA OLIVEIRA

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091201/not_imp474675,0.php

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