Em jantar, 36 deputados cogitam dobradinha para 2010
Estadão - Julia Duailibi
O escândalo envolvendo o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), deflagrou no PSDB uma corrida para fortalecer a tese da chamada chapa puro-sangue. Com o DEM no centro da crise, engrossou o coro dos defensores da tese de o PSDB blindar a chapa que disputará a eleição presidencial de 2010, formatando-a apenas com nomes tucanos.
Em jantar com 36 deputados anteontem, na casa do deputado Rômulo Gouveia (PB), em Brasília, cresceu o discurso favorável ao desenho que traz o governador de São Paulo, José Serra, como candidato a presidente, e o governador de Minas, Aécio Neves, na vice. A Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, que investigou pagamento de propinas para deputados e integrantes do governo Arruda, enfraqueceu o poder do DEM nas negociações e deslegitimou a pressão de parte da cúpula do partido para que os tucanos definam logo o candidato. "A única vantagem do episódio é enfraquecer o argumento de dois partidos. O que era uma realidade eleitoral passa a ser uma realidade política", disse um cacique tucano. Mais do que votos, a aliança com o DEM engorda o tempo de TV nas eleições de 2010. Fato que se torna ainda mais relevante diante da possibilidade de o PMDB apoiar o projeto nacional do PT, formando a coligação com maior tempo de TV. "O PSDB vê no DEM um aliado, mas deve se preocupar com sua agenda e deve respeitar o espaço do DEM para discutir suas questões internas", disse o deputado Eduardo Gomes (TO).
Hoje vai ao ar o programa partidário do PSDB. Serra e Aécio dividirão os dez minutos falando sobre suas gestões. O programa foi montado com os marqueteiros dos dois lados, de modo a passar uma sintonia entre os dois governadores.
Setores pró-chapa puro-sangue levarão a Aécio o argumento de que o discurso da ética ganha sobrevida na dobradinha tucana. Além de integrantes do DEM, políticos do PPS, outro aliado nacional dos tucanos, também apareceram nas investigações da PF. O presidente do PSDB-DF, Márcio Machado, também foi acusado de envolvimento nas irregularidades.
Levantamento feito pelo PSDB mostra que o partido detinha mais de cem cargos no segundo escalão do governo Arruda, além de nove administrações regionais, três secretarias de Estado e três cargos de direção em empresas do governo.
SIMPATIA
A chapa pura conta com a simpatia de setores ligados a Serra e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O governador de Minas, no entanto, é contra. "Não vejo essa relação direta. Poderia ter uma outra análise também, dizer que, talvez, esse episódio fortaleça a ala tucana que quer ampliar a aliança, que quer trazer outros parceiros para a aliança", disse ontem Aécio, negando que a crise no DEM fortaleça a chapa pura.
De acordo com o secretário-geral do partido, Rodrigo de Castro (MG), "o episódio do DEM é ruim para a política como um todo, mas não afeta o projeto do PSDB". Questionado se o DEM poderia compor aliança com os tucanos na vice, disse: "Sem dúvida." Para o deputado Arnaldo Madeira (SP), a questão da chapa deve ser discutida apenas em abril. "O episódio mostrou como Serra estava certo em não querer antecipar a discussão eleitoral", disse.
A crise com o DEM também trouxe outra dor de cabeça para o PSDB. O palanque do Distrito Federal, que estava articulado em torno da reeleição de Arruda, precisará ser revisto.
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091203/not_imp475901,0.php
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