30 de nov. de 2009

Sem a ilusão de vencer, candidatos de pequenos partidos usam a campanha presidencial para divulgar bandeiras

Correio Braziliense - Juliana Cipriani

Enquanto as brigas dos pré-candidatos à Presidência da República pelos maiores partidos brasileiros ganham os holofotes e tomam as discussões públicas, sinalizando parte do que serão as eleições de 2010, um time menos robusto e não por acaso com menos problemas internos já se articula para marcar presença no processo de sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). São as chamadas legendas nanicas. Pelo menos sete delas devem lançar candidato ao Palácio do Planalto. Com ideologias quase sempre de esquerda, pouquíssimo tempo de televisão no horário eleitoral e, juntas, contando com menos de 1% do fundo partidário, elas mobilizam as bases para construir candidaturas próprias na corrida presidencial.

Foi a movimentação de um dos seus possíveis aliados — o PV, da senadora Marina Silva — que fez o PSTU antecipar para 11 de dezembro o lançamento da pré-candidatura à Presidência. O partido vai concorrer mais uma vez com José Maria, que já disputou o cargo em 1998 e 2002. De acordo com o candidato, também presidente do PSTU, o ideal seria repetir a frente de esquerda socialista, com PSTU, PSol e PCB, mas a recente proximidade do partido de Heloísa Helena com os verdes pode desmobilizar o grupo. “Apresentamos a proposta de constituição desta frente e até agora não tivemos resposta. Pelo contrário, vimos a aproximação de PSol e PV, então queremos ter uma alternativa, ainda que ela seja a candidatura do PSTU”, afirmou José Maria, que em outras circunstâncias se colocaria como possível vice de Heloísa Helena. Ele não aceita a inclusão do PV,que, no seu entendimento, vem das mesmas bases econômicas do presidente Lula (PT) e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

O PSTU se coloca como ponte para mudanças estruturais na economia brasileira. Quer acabar com a propriedade privada no país, expropriando grandes empresas e colocando-as a serviço da população. O sonho do socialismo, no entanto, ficará apenas no discurso. Enquanto as outras candidaturas terão milhões de reais, o partido não terá dinheiro de empresários. Zé Maria admite que, nessas condições, a batalha não será pelo voto mas por passar uma mensagem: “A expectativa é nos apresentar na campanha e fazer avançar a luta dos trabalhadores. Claro que os votos serão bem vindos, mas o foco principal não é esse”, explica.

Justiça
A expectativa no PSDC também é a de que o presidente da legenda, José Maria Eymael, concorra novamente à Presidência. No site do partido está estampada uma carta de conclamação dos militantes que, reunidos em João Pessoa (PB), decidiram por apresentar o nome aos eleitores. Entre as motivações, o partido diz que todas as pré-candidaturas colocadas têm o mesmo perfil ideológico e grande parte da sociedade brasileira não se sente representada.

Pelos operários, o presidente do PCO, Rui Costa Pimenta, deve colocar seu nome mais uma vez à disposição dos brasileiros. Essa é a intenção, se a Justiça Eleitoral permitir. No último pleito, a candidatura foi impugnada por problemas com contas de campanha. “O TSE está com um conjunto de retaliações ao nosso partido. Enquanto vemos candidatos da burguesia devendo milhões de reais, a do Rui Costa na última campanha sofreu impugnação por causa de R$ 0,17”, acusa o presidente do partido em Minas Gerais, Pedro Paulo Abreu Pinheiro.

O PTdoB é mais cauteloso e ainda vai definir se entrará na disputa com chapa própria. Mas já tem dois pré-candidatos: um empresário do ramo de engenharia de São Paulo e consultor jurídico chamado Mário e o alagoano Antônio Marco Toledo. “Eles se colocaram como pré-candidatos e vamos avaliar na convenção do partido. Vai depender da vontade dos convencionais”, explica o presidente nacional do partido, Luis Tibé. Apesar de a internet ganhar força na próxima campanha, Tibé acredita que o partido terá dificuldades em relação aos maiores por ter menos tempo de TV e dinheiro. “Mas essa questão pode ser minimizada durante a campanha.”

Votação modesta, ideias grandiosas
Uma candidatura menor, ainda que sem grandes expectativas de vitória, pode servir para incluir temas importantes no debate político nacional. É o que pensa o presidente nacional do PRTB, Levy Fidelix, pré-candidato à Presidência. Ao contrário dos demais concorrentes por partidos pequenos, ele pretende contar com o financiamento de construtores e empresários para alavancar a campanha. Para isso, adota um discurso desenvolvimentista.

Embora não tenha sido eleito em 1994, quando concorreu, Fidelix acha que já deu sua contribuição. Diz ser dele o conceito que levou o presidente Lula a lançar o Fome Zero, principal programa social de sua gestão. Outra inovação que ele diz ser de sua autoria, hoje copiada por outros partidos, é a TV pela internet. “Estamos 24 horas no ar e também sou pioneiro nisso”, diz, sem modéstia. O pré-candidato afirma que suas ideias sobre mobilidade urbana foram aproveitadas em São Paulo. “Outro conceito meu foi o do ensino profissionalizante”, jura.

O carro-chefe da campanha em 2010 (1)será o aerotrem, segundo Fidelix uma alternativa para resolver os problemas de trânsito das cidades. “O mundo caminha para o espaço, é irmos para cima”, indica. O pouco tempo de TV não será problema para Fidelix, que é publicitário e jornalista, e diz estar acostumado a falar de forma breve. “Ninguém está dizendo que vou ganhar, seria utopia da minha parte. Mas vou participar e ter uma votação expressiva porque o povo não vota só em quem vai vencer, vota porque gosta do candidato”, acredita.

O PSL também vai apresentar um nome à sucessão presidencial: o do ministro do trabalho aposentado e ex-parlamentar Américo de Souza. De acordo com o vice-presidente da legenda e coordenador político, Gilvan Pantaleão, Américo de Souza já está viajando o país para falar aos pré-candidatos a deputado e aos militantes. A proposta é do tributo único no Brasil. “Temos o direito adquirido de ter nosso candidato, um bom nome para concorrer e uma boa proposta para anunciar”, resumiu Pantaleão.

O dirigente considera obrigação do partido lançar candidato. Vai usar, segundo ele, a força da militância nos mais de 3,5 mil municípios em que o partido está presente para tentar minimizar as diferenças com as grandes campanhas. “A gente não faz partido para vender legenda, mas para disputar eleição, e só chegamos a algum lugar arriscando. Como pode crescer o partido se não disputa para presidente, governador e outros? Assim vai ser sempre uma sublegenda, um partido de gaveta”, avalia.

No PHS, um plebiscito com os filiados optou pela candidatura própria à Presidência e escolheu o advogado e professor universitário de Brasília Oscar Silva para concorrer. A última vez que o partido tentou a disputa presidencial foi em 1998. Segundo o presidente do PHS, Paulo Roberto Matos, uma das funções do partido é lançar candidato e o ideal era que todos o fizessem. “Temos plena consciência de como a disputa é desigual, mas vamos concorrer até para mostrar isso”, justifica. (JC)

1 - Profusão de candidatos
A perspectiva para a eleição no próximo ano é de um número grande de candidatos a presidente da República. Além dos sete nanicos que têm intenção de disputar, os maiores partidos também se movimentam. O PT pretende apresentar o nome da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff; o PSDB deve escolher entre os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas, Aécio Neves; o PSB trabalha com a possibilidade de lançar o deputado Ciro Gomes (CE); e o PV tem a senadora Marina Silva como pré-candidata até o momento. O PSol avalia se apoia Marina e desiste da candidatura própria, que poderia ser da vereadora em Maceió Heloísa Helena.

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2009/11/30/politica,i=157900/SEM+A+ILUSAO+DE+VENCER+CANDIDATOS+DE+PEQUENOS+PARTIDOS+USAM+A+CAMPANHA+PRESIDENCIAL+PARA+DIVULGAR+BANDEIRAS.shtml

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