Presidente teme que discordâncias entre Fazenda e BC atrapalhem a economia no fim de seu mandato
Estadão - Beatriz Abreu, BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliou positivamente a troca de comando na diretoria de Política Monetária do Banco Central (BC) e deu uma ordem à equipe econômica: sem marolas nesses quase 11 meses que antecedem as eleições. Lula quer que o Ministério da Fazenda e o BC mantenham sintonia na divisão de tarefas na condução da economia e reforçou que a prioridade do governo é o controle da inflação. Sua preocupação é evitar movimentos desnecessários na economia.
"Como faltam menos de 11 meses para as eleições, fazer marola nessa hora é bobagem", disse o presidente. O "fazer marola" expresso por Lula significa não adotar medidas sobre as quais não se tenha a devida segurança a respeito dos efeitos no mercado financeiro e na confiança do empresariado de que o País retomou a rota de crescimento.
O ponto de fragilidade continua sendo a excessiva valorização do real, mas também nesse caso Lula pediu prudência. O sinal de alerta foi dado e o governo está preparado, no entanto, para intervir caso se confirmem os cenários de uma enxurrada de dólares. Aí, Mantega tem o aval para dosar a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), aplicado no ingresso de capital estrangeiro.
Nesse sentido, a substituição de Mário Torós por Aldo Luiz Mendes não significa uma inflexão na condução da política monetária. A forma como Meirelles conduziu o processo de saída de Torós, que precipitou seu afastamento da diretoria depois de uma entrevista ao jornal Valor Econômico, na qual revela detalhes da operação do BC durante a crise financeira, foi elogiada no Palácio do Planalto. Lula ficou especialmente atento à receptividade do nome do novo diretor pelo mercado.
Ontem pela manhã, Meirelles se reuniu com o presidente Lula, que aprovou a indicação de Mendes, que agora terá seu nome submetido ao Senado. Meirelles fez uma escolha pessoal e, segundo fontes, não sofreu a influência do ex-ministro Antonio Palocci, o responsável por tornar Mendes um dos vices-presidentes do BB.
A opção "certamente" agradou a Palocci, mas, de alguma forma, pode ter desagradado ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, que demitiu Mendes do Banco do Brasil, em abril deste ano, quando decidiu trocar a diretoria do BB e seu então presidente Lima Neto por discordarem de uma política mais ofensiva na instituição para redução dos juros. Meirelles conversou com Mantega sobre a escolha e não houve objeções. "Nem poderia", disse uma fonte. Afinal, Mantega também sacou do Banco Central o economista Emílio Garofalo, que integra a assessoria especial da Fazenda.
O que prevaleceu na opção pelo nome de Mendes foi o interesse de ter no BC um nome comprometido com a gestão da política monetária até dezembro de 2010. A avaliação foi a de que dificilmente se encontraria no mercado um nome com as características de Mendes, especialmente no que se refere ao compromisso de ficar no BC "até o fim". Até a troca de comando no Planalto, nada deve mudar, exceto na hipótese da candidatura de Meirelles.
A opção continua em aberto. O presidente do BC diz a amigos que sua filiação não foi questão política, mas jurídica. Quis garantir a opção de dar novo rumo a sua carreira. Se essa opção fosse hoje, não sairia do BC.
Essa continua sendo a preferência do presidente Lula. Para ele, o ideal seria ter Meirelles à frente do BC até o fim de 2010 e a continuidade dos diretores de Política Econômica, Mário Mesquita, e de Administração e de Liquidações, Antonio do Valle. Entre Meirelles e Mesquita há um pacto: saem juntos. Valle já teria manifestado o interesse de continuar na instituição, se esse for o desejo do presidente do BC que assumirá em 2011.
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091118/not_imp468052,0.php
18 de nov. de 2009
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