6 de mai. de 2010

Derrota sofrida pelo governo esfria as alianças eleitorais nos estados

Os efeitos da traição na Câmara aparecem principalmente em Minas, onde definição fica para junho

Correio Braziliense - Ivan Iunes | Josie Jeronimo


A derrota sofrida pelo governo na votação do reajuste dos aposentados e do fim do fator previdenciário fez o Palácio do Planalto endurecer o discurso contra os aliados insurgentes. A dissidência na bancada governista determinou os dois revezes. A quantidade de parlamentares de PT e PMDB que votaram contra a orientação dos próprios partidos e do governo chega a 76 deputados. O rombo nas contas públicas, provocado pela derrubada do fator previdenciário, é estimado em até R$ 15 bilhões — a cifra ainda não é consenso. Irritado, o governo esfriou negociações por alianças eleitorais nos estados e cobrou fidelidade dos aliados.

Votação que se arrastou durante semanas, a aprovação do reajuste para os aposentados que ganham mais de um salário mínimo era uma derrota dada como certa pelo governo. O índice aprovado, de 7,7%, custará R$ 600 milhões a mais do que o Ministério do Planejamento aceitava bancar. Já era esperada a derrota no caso do reajuste, mas a queda do fator previdenciário pegou o Planalto no contrapé. “Esperávamos perder a questão do reajuste, mas a derrota no fator previdenciário estava fora de cogitação”, admitiu o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza.

Depois de ficar sem o controle sobre a base nas duas votações, Vaccarezza correu para identificar os dissidentes. Durante a votação, 24 petistas e 52 peemedebistas votaram pela derrubada do fator previdenciário. Entre eles, o ex-presidente do PT Ricardo Berzoini (PT-SP). “Houve uma dispersão na base. O governo tem que avaliar como compor a base do ponto de vista político”, analisou Berzoini, que também é ex-ministro da Previdência. Até o relator oficial do fator previdenciário, Pepe Vargas (PT-RS), ajudou a derrubar o índice de correção.

Café da manhã
Os reflexos da traição dentro do próprio ninho governista foram observados já na ressaca da derrota em plenário. Um dia depois de o PMDB reforçar as derrotas governistas, lideranças do PT colocaram um freio na discussão da aliança entre as legendas em Minas Gerais, durante café da manhã na Câmara. A expectativa da reunião era de que Fernando Pimentel (PT) desistisse da pré-candidatura ao Palácio da Liberdade em nome do senador Hélio Costa (PMDB-MG). Ficou acertado apenas que os dois pré-candidatos estarão no mesmo palanque durante as eleições. A definição sobre quem seria candidato a governador pela aliança ficou para depois.

Ao diminuir a velocidade do acordo em Minas Gerais, os petistas cobraram fidelidade do partido aliado nas votações de projetos polêmicos. O acordo costurado por petistas e peemedebistas para Minas prevê o anúncio oficial sobre a chapa até 6 de junho. A tendência é de que Costa seja lançado ao governo e Pimentel, que também é coordenador da campanha nacional de Dilma Rousseff (PT), tente uma vaga no Senado Federal. “O importante é que não há hipótese de haver um palanque duplo em Minas, essa é a decisão de consenso da reunião”, ponderou o presidente do PT, José Eduardo Dutra.

Diante da resistência petista em ungir Costa candidato ao Palácio da Liberdade, o presidente do PMDB, Michel Temer, confirmou o adiamento da convenção nacional do partido. O evento apontará o nome escolhido pela legenda para a vice de Dilma. Inicialmente marcado para 15 de maio, o encontro passou para 12 de junho, véspera da convenção do PT que deve indicar a ex-ministra da Casa Civil como candidata do partido ao Planalto.

Questionado sobre a dissidência peemedebista na votação do reajuste aos aposentados — o partido liberou a bancada para votar como quisesse —, Temer minimizou a influência da pré-campanha eleitoral na aprovação do projeto. “Não acho que seja apenas as eleições, a Câmara tem tradição em defender os aposentados. Acredito que esses R$ 600 milhões serão suportáveis pelas contas públicas”, afirmou.

Painel de votação

Confira como governistas e oposição votaram pelo fim do fator previdenciário


PT
Dos 67 petistas que estavam no plenário, 24 desobedeceram a orientação do líder e votaram pela aprovação da emenda. Um se absteve. Entre os traidores, destacam-se nomes tradicionais do partido, como Ricardo Berzoini, ex-ministro da Previdência de Lula e Vicentinho. Jorge Bittar, Paulo Pimenta e o relator oficial do fator previdenciário Pepe Vargas também votaram contra o governo. Vale considerar que o líder não liberou a bancada e a orientação era votar não.


PMDB
Dos 65 votantes, 12 apoiaram o governo e um se absteve. O PMDB orientou a bancada para não aprovar o fim do fator.

RESTANTE DA BASE
Dos demais partidos (PDT, PSB, PCdoB, PHS, PMN, PP, PR, PSB, PRB, PTB, PTC, PtdoB), apenas 18 votaram com o governo.

PSDB
Dos 44 deputados que votaram, seis apoiaram o governo.

DEM
Apenas um dos 47 votou pela manutenção do fator previdenciário.

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/05/06/politica,i=190799/DERROTA+SOFRIDA+PELO+GOVERNO+ESFRIA+AS+ALIANCAS+ELEITORAIS+NOS+ESTADOS.shtml

Nenhum comentário:

Postar um comentário