6 de mai. de 2010

Cobiçado por Serra, Dornelles tem poder no governo

Senador é padrinho do ministro das Cidades, pasta que autorizou pagamento de R$ 80 milhões para seu Estado

Adriano Ceolin, iG Brasília

Cotado como candidato a vice-presidente na chapa de José Serra (PSDB), o senador Francisco Dornelles (PP-RJ) é a principal liderança do seu partido beneficiada por liberação de emendas do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Atualmente, ele também é o padrinho de Márcio Fortes no comando do Ministério das Cidades.

Só este ano a pasta já autorizou o pagamento de cerca de R$ 80 milhões em emendas patrocinadas pelo senador para obras de infra-estrutura e serviços no Rio de Janeiro, Estado por qual foi eleito. Dornelles atua em parceria com o governador fluminense Sérgio Cabral (PMDB), de quem foi aliado na eleição de 2006 e deverá apoiar em 2010.

“Eu não acompanho isso. É coisa do Sérgio Cabral”, disse em entrevista ao iG no seu gabinete. Além de Dornelles, o PP só tem mais dois parlamentares no Congresso: Simão Sessim (RJ) e Jair Bolsonaro (RJ) - esse último tem postura mais independente ao governo e já teve embates com integrantes do PT.

Além de manter Fortes e conseguir recursos para o seu Estado, Dornelles é também apontado como responsável pela indicação do diretor-técnico da CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos), cuja sede é no Rio. Trata-se de Marcos Vinícius Quintella Cury, cuja função na empresa é produzir projetos para ampliação das linhas de trem.

Dornelles nega ter indicado Cury para o posto. “Isso é especulação. Eu apenas fiz uma referência favorável a ele na época. É uma pessoa preparada e honesta”, afirmou o senador ao iG. Cury ocupa o cargo na CBTU desde setembro de 2007.

Ascensão

O poder de Dornelles no governo Lula se consolidou no segundo mandato de Lula. Entre 2003 e 2006, ele ocupava uma cadeira de deputado federal e não era uma liderança forte na bancada. Dornelles aumentou seu poder após parlamentares do partido terem se envolvido em escândalos de corrupção.

Apesar da constante insatisfação da bancada do PP com Márcio Fortes, Dornelles tornou-se o principal fiador do ministro na pasta das Cidades. Servidor público de carreira, Fortes foi indicado para o cargo em 2005 pelo então presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti (PP-PE).

No mesmo ano, Cavalcanti renunciou ao mandato após ser acusado de cobrar propina do dono do restaurante da Câmara, no episódio que ficou conhecido como “escândalo do mensalinho”. Em 2005, o então presidente do PP, Pedro Correa, foi cassado por conta do seu envolvimento no “mensalão do PT”.

Com as quedas de Corrêa e Cavalcanti, Dornelles tornou-se presidente nacional do PP e principal interlocutor do Palácio do Planalto no Congresso.

Vice do PSDB

O PP foi procurado para indicar Dornelles como vice na chapa de José Serra (PSDB) há três semanas. O presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, reuniu-se com cinco deputados do PP em sua casa em Brasília e propôs a aliança.

Quarta maior bancada na Câmara, o PP tem 42 deputados. No começo do ano, o partido havia demonstrado interesse em apoiar Dilma Rousseff (PT). Até então, 20 dos 7 diretórios defendiam a coligação com a candidata petista.

As contas mudaram a partir do início das negociações para Dornelles ser o vice de Serra. Na semana passada, mais oito diretórios haviam mudado de opinião a favor do tucano. “Não tem jeito. Se ele for o vice mesmo. Todos vão aceitar a coligação”, disse.

O PT e Dilma tentam evitar a coligação ou fazer com que, no máximo, o partido fique neutro. Na terça-feira, ela almoçou com Dornelles e o ministro Márcio Fortes em Brasília.

O senador deixou o encontro sem sinalizar o que irá fazer. Por ora, ele e o seu PP seguem como integrantes da base aliada ao governo Lula. Afinal de contas, Dornelles é um dos principais beneficiários das ações e projetos da pasta das Cidades.

http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/cobicado+por+serra+dornelles+tem+poder+no+governo/n1237611011516.html

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