Revista ISTOÉ
Partidos disputam passe de deputado cearense para suas chapas nas eleições presidenciais
Octavio Costa e Sérgio Pardellas
Nas pesquisas mais recentes de intenção de voto para a sucessão do presidente Lula, o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) continua bem cotado. Isolado, seu nome só fica atrás do do governador José Serra e da ministra Dilma Rousseff. Mas, na simulação do Instituto Sensus em que Ciro aparece como candidato em um cenário em que o candidato do PSDB é o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, seu desempenho é ainda melhor. De acordo com a pesquisa, neste momento, Ciro chegaria na dianteira no primeiro turno, bem à frente da dobradinha Dilma-Michel Temer. Portanto, a crer nas pesquisas, o apoio e a companhia de Ciro podem ser valiosos na eleição de 2010.
Para o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, Ciro vale quanto pesa e a razão é simples: “Ciro tem um grande currículo. Foi duas vezes governador do Ceará, ministro da Fazenda, ministro da Integração Social e duas vezes candidato a presidente da República.”
Não por acaso, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), articulou uma estratégia de atuação em conjunto com Ciro com o objetivo de se fortalecer na corrida presidencial de 2010. Os dois, que cultivam boa relação pessoal, têm conversado com frequência. Para Aécio, a aliança com Ciro gera dividendos políticos na medida em que mostra tanto interna como externamente que ele tem condições de agregar mais forças partidárias do que o governador de São Paulo, José Serra.
No caso de uma candidatura de Aécio ao Planalto, a parceria com Ciro lhe renderia um caminhão de votos no Nordeste, onde o deputado é popular.
Já para Lula e Dilma, que fazem de tudo para que Ciro saia do páreo presidencial, a utilidade do parlamentar cearense é outra. Lula pressionou Ciro a transferir o domicílio eleitoral para São Paulo por dois motivos: primeiro porque o PT ainda carece de um nome forte para a candidatura ao Palácio dos Bandeirantes.
E Ciro pode, com o apoio do PT, montar um robusto palanque para Dilma no Estado que é o maior colégio eleitoral do País. Mas, independentemente de qual seja sua escolha, um de seus alvos já é conhecido: José Serra. “Eu comemoro que ele tenha finalmente notado que eu existo. Pois eu, normalmente, só o percebo como um ectoplasma.”
Ciro, na verdade, está diante de uma encruzilhada. Caso saia candidato à Presidência pela terceira vez, enfrentará limitações na campanha, principalmente em relação ao tempo de tevê, já que o seu partido, o PSB, sozinho, tem apenas 1 minuto e 11 segundos diários em cadeia nacional. Ciro diz ter pesquisas internas que demonstram sua viabilidade eleitoral na corrida sucessória ao Planalto. Mas ele sabe que só terá êxito se contar com o apoio de Lula. “Quero que pelo menos ele diga que, além de Dilma, eu também sou um bom nome para dar continuidade ao projeto e avançar mais”, disse em recente entrevista à ISTOÉ. Outra hipótese, mais presente, é a de atender ao desejo do presidente Lula e lançar-se ao governo de São Paulo. Mas também seria um lance perigoso, já que ele corre o risco de ser boicotado pelo próprio PT. Assim, a opção da dobradinha com Aécio Neves, caso este vença a disputa interna no PSDB, mostra-se bem mais razoável. Por isso mesmo, Ciro tem jogado em combinação com o mineiro. Com cheiro de novidade, a chapa Aécio-Ciro teria potencial para empolgar o eleitorado.
Montenegro afirma que apostaria suas fichas na dobradinha Aécio-Ciro: “Essa é uma chapa forte, que soma o Sudeste ao Nordeste.” Mas torce o nariz para a hipótese da candidatura de Ciro ao governo de São Paulo. “Isso é uma forçação de barra, uma candidatura completamente artificial. O melhor para Ciro é ser vice de Aécio”, aconselha o presidente do Ibope, que, nos últimos pleitos, tem acertado em suas previsões.
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