Ivana Moreira, ENVIADA ESPECIAL, PIRAPORA - Estadão 15/10/2009
Ao mesmo tempo, o périplo presidencial foi marcado pela disputa entre governo e oposição. A agenda oficial em Minas excluiu da programação a visita a Pirapora, cidade administrada pelo oposicionista DEM, e manteve apenas o palanque em Buritizeiro, governada pelo PT. As duas cidades ficam em margens opostas do São Francisco.
Depois que Pirapora foi tirada do roteiro, o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), desistiu de participar da cerimônia em Buritizeiro. A ausência de Aécio acabou dividindo a claque de políticos da região. Enquanto lideranças ligadas ao governo seguiram a comitiva presidencial do Aeroporto de Pirapora até Buritizeiro, os políticos alinhados ao tucano Aécio ficaram à espera de seu desembarque.
No palanque mineiro, o governador que esteve ao lado de Lula e Dilma foi o da Bahia, Jacques Wagner (PT), que disputará a reeleição. Havia ainda o ex-ministro Ciro Gomes, pré-candidato do PSB à Presidência, e os ministros da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima - que pretende disputar o governo baiano pelo PMDB -, das Cidades, Márcio Fortes, e da Comunicação Social, Franklin Martins.
Quebrando o protocolo definido pelo Planalto, depois do discurso em Buritizeiro, Lula resolveu visitar uma estação de tratamento de esgoto em Pirapora. Assessores da Presidência chegaram a ligar para o prefeito da cidade, mas ele avisou que estava no aeroporto à espera de Aécio. Disse ainda que a estação estava fechada e não fora preparada para receber o presidente.
Lula, no entanto, fez questão de ir ao local. Acabou encontrando dois pescadores, que foram surpreendidos pela visita. O presidente conversou com eles e ainda passou alguns minutos fingindo que pescava às margens do São Francisco, ao lado de Dilma.
TIMIDEZ
Na sequência do roteiro, em Barra (BA), a ministra mostrou, diante de cerca de 1,5 mil pessoas, certa timidez para uma candidata. Chamada por pessoas que se aglomeravam para ver Lula e comitiva, Dilma se aproximou. Tirou fotos, abraçou algumas delas, mas logo se afastou. Entre as pessoas que foram ver Lula e seus ministros havia quatro faixas de apoio à candidatura de Geddel e três pró-Wagner. Nenhuma que lembrasse Dilma.
O fato de ser a candidata de Lula, porém, deverá ajudá-la. "Eu voto em quem o presidente pedir", proclamava Rita de Cássia Vieira dos Santos, de 39 anos, mãe de sete filhos, dependente dos R$ 80 que recebe do Bolsa-Família. "Posso morrer agora que vi o presidente Lula." Antônia Rocha da Silva, de 60 anos, também dizia que só faz o que Lula mandar. Julgando que o agradaria, vestiu uma camiseta do PT. "Antes não votava no PT, só no Lula. Agora, voto em qualquer candidato do partido. Minha candidata é a Dilma."
Em Barra, Lula prometeu ficar vigilante, mesmo depois de deixar a Presidência, para impedir que seus sucessores paralisem as obras de transposição. Repetiu promessa semelhante feita em 1989 pelo então presidente José Sarney, ao inaugurar trecho da Ferrovia Norte-Sul. Só agora, dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a obra foi retomada.
AVIÃO
No esforço de promover a viagem de Lula e Dilma, o Planalto pôs um avião da FAB para levar 24 jornalistas aos canteiros das obras do São Francisco. A visita aos sertões de Minas, Bahia e Pernambuco é considerada "estratégica". Além de propagar a candidatura de Dilma, visa a divulgar uma obra vista pelo próprio Lula como principal marca de seu governo no Nordeste. O grupo transportado pela FAB inclui jornalistas do Le Monde, Der Spiegel, BBC, Rede Globo, Terra Magazine e Revista Piauí, entre outros. A reportagem do Estado viaja por conta própria.
Os marqueteiros do governo recorreram à figura do presidente Juscelino Kubitschek (1956-1960) para dar um charme à caravana. Lula e Dilma pernoitariam ontem num canteiro das empreiteiras em Sertânia (PE). Assessores do governo passaram os últimos dias divulgando o fato de que o presidente repetiria um gesto de JK, que no fim dos anos 1950 dormia nos acampamentos da construção de Brasília. COLABORARAM JOÃO DOMINGOS e LEONENCIO NOSSA, ENVIADOS ESPECIAIS
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