13 de out. de 2009

Doação pela internet deve ser a novidade de 2010

IG -  13/10/2009  

SÃO PAULO - A arrecadação de recursos financeiros para as campanhas eleitorais via internet pode acabar sendo a grande novidade concreta das eleições de 2010. Esse é pelo menos um ponto em que Luiz González, provável marqueteiro político de Serra, e Ben Self, sócio da agência responsável pela campanha online de Barack Obama, concordam.
 
Eles estarão juntos no 1º Seminário Internacional de Comunicação e Marketing nesta semana em São Paulo.

" Com a reforma eleitoral aprovada pelo Congresso, isso vai ser possível " , afirma González, que, porém, faz uma ressalva. " Ainda não se sabe em que termos isso poderá ser feito. Depende da instrução a ser baixada pelo TSE. Como é o formulário eletrônico e quais as outras condições? Pode doar por cartão de crédito? Pode doar por internet banking? Pode doar por SMS? Não se sabe " .

Para ele, outra questão a ser esclarecida é a fiscalização. " Como vai ser a fiscalização das doações e dos doadores? Isso é importante, porque a lei estabelece os parâmetros para a doação que, entre outras coisas, têm relação com a renda da pessoa física e com a receita líquida das pessoas jurídicas. Presumo que o TSE terá de pensar em meios para fiscalizar a licitude e a veracidade das doações eletrônicas para inibir a ação de ? aloprados ? " .

Self, por email, afirmou ao Valor que a arrecadação online é uma das características mais benéficas para uma eleição. " A internet pode ser o apoio de muitos aspectos diferentes da campanha. Pode executar ações de real significado político para a campanha, inclusive conversando com os eleitores indecisos ou doando dinheiro para a campanha " . Ele complementa: " Uma boa campanha online amplia a paixão por um candidato ou uma situação política, e faz com que os usuários da internet possam transformar essa paixão em movimento " , disse.

González acredita que a internet é uma ferramenta importante, mas que não será a principal em 2010. E coloca o fator orçamentário como determinante para isso.

" Uma campanha eleitoral, ainda mais uma campanha presidencial num país das dimensões do Brasil, é uma operação gigantesca, complexa e cara. É o mundo real, onde cada ação custa - em tempo, em dinheiro e em comprometimento de recursos de organização. Precisa valer a pena. Então, quem tem a atribuição de gerenciar essa operação - e não estou falando em termos políticos e sim em termos logísticos - tem que fazer escolhas o tempo todo. " 


Ele cita como exemplo, além da internet, a utilização de celulares na campanha. " O segundo veículo em alcance e abrangência, hoje, no Brasil, é o telefone celular. São 130 milhões de terminais ativos. Todo mundo tem. De todas as classes de renda. Em todas as faixas etárias e graus de instrução. Seria ótimo usar essa base de celulares para fazer campanha eleitoral. Em tese, a lei permite. Tem um problema com a permissão que o usuário tem de dar pra receber o SMS etc. Mas a questão central é custo. Se um SMS custar R$ 0,10, serão R$ 13 milhões para mandar para cada um " .

Self acha que dá para gastar pouco com as novas mídias e ter um alto retorno. " A construção de um novo componente de mídia para uma campanha não está relacionada a gastar menos dinheiro ou cortar outros programas, algo que nós raramente recomendamos fazer. O que sugerimos é considerar a internet como um outro método para espalhar a sua mensagem, recrutar voluntários e ativá-los para que eles possam ajudá-lo a ganhar a eleição. " 


O Brasil corre o risco de avançar mais rapidamente nas contribuições dos eleitores pela internet do que na prestação de contas do que fazem os governantes com os impostos pagos pelos cidadãos. " Se as instituições não estão desenhadas para gerar informações necessárias para as pessoas avaliarem seus programas, para ouvir a opinião das pessoas em alguma mudança na política, não adianta você ter governo interativo, não será efetivo " , diz Fernando Guarnieri, um dos cientistas políticos ouvidos pela última edição do boletim Cebrap/Fundap.

As dificuldades de governos e campanhas, como a assimetria de acesso da população, assemelham-se. " Você quer mais participação, mas sabe que nem todo mundo vai participar e que boa parte da população é induzida " , diz o professor da USP, Fernando Limongi.

É com foco na prestação de serviços, diz o cientista político, que os governos devem aperfeiçoar suas ferramentas de participação interativa da sociedade: " Em um processo de comunicação não tão formalizado, abrem-se possibilidades de favorecimento de grupos. Se for uma comunicação por celular, só quem tem celular vai participar " .

(Caio Junqueira | Valor)


http://ultimosegundo.ig.com.br/economia/2009/10/13/doacao+pela+internet+deve+ser+a+novidade+de+2010+8819990.html

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