14 de set. de 2010

UOL Eleições: Em 2 meses de campanha, Dilma mira empresários e Serra vai para a rua

Cintia Baio
Do UOL Eleições


Após pouco mais de 60 dias do início oficial da campanha para as eleições de 2010, os três principais candidatos à Presidência da República —Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV)— mantiveram-se ocupados com uma agenda que contemplou, no total, 19 dos 27 Estados brasileiros e cerca de 60 municípios.

No entanto, a estratégia adotada pelos presidenciáveis nas 202 visitas feitas ao longo dos dois meses de campanha (até quarta, dia 8) são bem diferentes. Enquanto Dilma concentra esforços em encontros com empresários e políticos, seu principal adversário, José Serra, aposta no corpo-a-corpo com o eleitor. Marina Silva, terceira colocada nas pesquisas de intenção de voto, aposta em eventos com representantes de classe.

Para o cientista político Carlos Melo, o foco diferente das campanhas reflete o que os candidatos precisam transmitir ao eleitorado, além de buscar dar a sensação de que a campanha acontece em todo o país. “Dilma precisa mostrar que não representa nenhum perigo econômico, que é centrada, uma estadista. Logo, aparece em torno de empresários”, aponta o Melo.

De acordo com levantamento feito pelo UOL Eleições, 4 em cada 10 visitas eleitorais feitas pela petista no período estavam ligadas a reuniões e encontros com o empresariado e com aliados políticos. A maioria delas concentrada em Brasília, sede da campanha, e em São Paulo. Já os comícios e caminhadas ocuparam 17% das visitas de Dilma.

Rio de Janeiro, Minas Gerais (dois dos principais colégios eleitorais brasileiros) e Paraná foram outros três Estados no radar da candidata Dilma Rousseff. A petista percorreu as principais capitais desses Estados em 10 momentos diferentes.

De acordo com a última pesquisa Datafolha que avaliou desempenho em Estados, entre 12 e 24 de agosto, Dilma teve um crescimento entre 3 e 4 pontos nessas cidades.

José Serra na rua

Já o foco do tucano José Serra foi caminhar pelas ruas das cidades visitadas acompanhado, na maioria das vezes, por candidatos aliados.

Nos dois últimos meses, Serra foi o presidenciável que mais se movimentou. Foram 76 visitas em 11 Estados diferentes (contra 58 de Dilma e 57 de Marina). Em 30 ocasiões diferentes (41%)—divididas entre 23 cidades—, o candidato foi para as ruas para o corpo a corpo com o eleitor. Encontros com empresários representantes de classe e políticos ocuparam 30% do tempo de campanha do candidato.

“José Serra precisa mostrar que é popular. Logo apela por essas caminhadas no meio da rua, no meio do povo”, comenta o cientista político. Segundo Melo, Serra precisa mostrar que também tem semelhanças com o presidente Lula, que é um “sujeito de origem humilde e modesta”.

No entanto, mesmo com tantas aparições, o candidato tucano amarga uma redução no percentual de votos nas 7 principais capitais brasileiras pesquisadas pelo Instituto Datafolha.

De acordo com o último levantamento, José Serra só ultrapassa Dilma nas intenções de votos em Curitiba (PR), cidade visitada pelo candidato apenas uma vez. No entanto, entre 20 de julho e 23 de setembro, o presidenciável teve uma variação de -7 pontos percentuais na capital paranaense. No mesmo período, Dilma ganhou 7 pontos.

Em São Paulo, Estado “sede” da campanha eleitoral de José Serra e reduto tucano no país, o candidato —mesmo concentrando 50% de suas visitas durante os 60 dias de campanha— também está atrás da petista em intenções de voto. Em um mês (de 20/07 a 24/08), Serra passou de 44% para 36% das intenções de voto. Dilma tinha 30% e foi para 41%.

Rubens Figueiredo, também cientísta político, afirma que, embora a agenda seja corrida, tais visitas agregam muito pouco no quesito conquista de votos. "Nós vivemos em um mundo de comunicação de massa. Aparecer na televisão dá muito mais retorno do que ir até o centro de uma cidade e fazer uma caminhada. A peregrinação agrega muito pouco aos candidatos".

O cientista aponta que uma caminhada no centro da cidade ou um encontro com empresários, por exemplo, serve muito mais como motivação para cobertura da mídia (em telejornais, por exemplo) do que realmente para pedir votos. "Quantos votos o Serra consegue em uma caminhada em uma cidade pequena? Ou a Dilma em um encontro com empresários? O que eles querem é mostrar que se trata de uma campanha nacional e atrair a atenção dos jornalistas", diz Figueiredo.

Para Melo, as viagens só trazem um bom retorno na hora de articular palanques e apoios e plantar candidatura nos Estados. "Isso feito, o candidato passa a ser demandado por seus apoios, por seus candidatos a governador, deputados e senadores”.

Marina e as classes

Enquanto os dois principais colocados na corrida presidencial dividem seu tempo de campanha entre caminhadas, empresários e políticos, a candidata do PV, Marina Silva, inaugura comitês residenciais de campanha e encontra-se com representantes de classes.

Nos últimos 90 dias, a candidata inaugurou cerca de nove comitês, em cinco Estados diferentes. Das 57 visitas feitas em 13 Estados, 14 delas estavam ligadas a encontros com entidades de classe e comunidades carentes.

Na avaliação de Melo, o que está na mira da candidata não é a eleição, mas a construção de uma proposta a longo prazo. “[Marina Silva] está se articulando em torno de setores profissionais, militantes e intelectuais que apresentam uma visão alternativa de mundo e desenvolvimento”, analisa.

A capital paulista é a cidade que mais recebeu visitas da candidata do PV. Foram 32 vezes em dois meses de campanha oficial. Rio de Janeiro também foi foco da presidenciável, contabilizando seis visitas. “Essa presença nos grandes centros também pode estar voltada para as próximas eleições, as municipais. Já imaginou o PV administrando cidades como São Paulo ou Rio de Janeiro?”, questiona Melo.

Para Figueiredo, Marina Silva escolheu São Paulo como sede de sua candidatura por saber que a maior concentração de pessoas e meios de comunicação está na região Sudeste. "Não faz sentido Marina estar no Acre. Como se trata de uma candidata que está em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, precisa ficar o mais próximo possível de centros que distribuem informações", explica.

http://eleicoes.uol.com.br/2010/ultimas-noticias/2010/09/09/em-dois-meses-de-campanha-dilma-aposta-em-empresarios-e-serra-vai-para-as-ruas.jhtm

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