7 de abr. de 2010

Dilma diz que não vai impor palanque único em MG

Valor Econômico
César Felício, de Ouro Preto (MG)

No primeiro ato do que, na prática, já é a campanha presidencial, a ex-ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT) testou o que poderá ser um palanque duplo para a base de apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao visitar ontem Ouro Preto e São João Del Rei (MG), onde reverenciou dois ícones mineiros: o mártir da independência Tiradentes e o presidente Tancredo Neves (1910-1985).

Na primeira etapa da viagem, Dilma estava acompanhada pelos dois pré-candidatos do PT ao governo, o ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, e o ex-ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, e do pré-candidato do PMDB, o senador Hélio Costa (MG).

"Sempre temos falado em palanque único, mas ninguém pode impor nada a ninguém. Eu apelo pelo palanque único, mas, se não tiver palanque único, o que fazer?", afirmou Dilma, ao encerrar uma rápida entrevista coletiva na Câmara dos Vereadores de Ouro Preto, onde chegou com duas horas de atraso.

A ex-ministra, nascida em Belo Horizonte, mas atuando fora de Minas Gerais desde o início da década de 70, procurou fazer uma profissão de fé da mineiridade. Depositou flores na estátua em homenagem a Tiradentes e no túmulo de Tancredo Neves e , contrita, rezou diante da imagem de Cristo ressuscitado, no altar da Igreja de Nossa Senhora do Pilar, a matriz de Ouro Preto.

"Quem nasce em Minas Gerais, tem Minas dentro de si. A gente sai de Minas, mas Minas não sai dentro da gente. Não é possível que alguém perca a força dessas raízes. Ouro Preto é o berço de uma nação, o berço de um povo, porque aqui se lutou pela primeira vez contra a metrópole. Vou partir desta cidade para uma nova jornada, cheia de desafios", disse a ex-ministra em seu discurso. Eleitora em Porto Alegre (RS), Dilma mudou de tom desde que foi colocada como pré-candidata. Há alguns anos, em palestra na Federação das Indústrias de Minas Gerais, onde estará na manhã de hoje, a então ministra das Minas e Energia reagiu ao ser chamada de "mineira" por um dos empresários presentes e disse que se considerava gaúcha.

Dilma também escolheu Minas Gerais para iniciar a sua virtual campanha presidencial como uma forma de explorar o que poderá ser um flanco do principal adversário, o ex-governador paulista José Serra (PSDB), nas regiões sul e sudeste. Serra sobrepujou dentro do partido o ex-governador mineiro Aécio Neves, neto de Tancredo , na luta pela candidatura presidencial. Na entrevista coletiva, Dilma procurou caracterizar Serra como um candidato contra Lula e tudo que o presidente construiu durante seu governo, ainda que para isso tenha recorrido a uma sucessão de frases negativas para formular um único conceito: o de que ela é a única sucessora das propostas do atual governo.

"Quem, da oposição, passar por sucessor de Lula não sendo, é um lobo em pele de cordeiro", disse. Segundo a ex-ministra, "não está certo dizer que todo mundo hoje é igual. Até ontem havia uma oposição clara, que não pode aparecer agora como não sendo oposição. Será estranho uma eleição transformada em um silêncio constrangedor. Nós queremos debater e não é possível fazer uma discussão sobre programas sem que fique claro quais são os outros projetos ", disse.

Na visita a Ouro Preto, Dilma se deparou com reivindicações de cor regional. Do prefeito Ângelo Oswaldo (PMDB), ouviu um pedido para que coloque em sua agenda a revisão da política de distribuição municipal dos royalties da mineração, um tema que foi retirado da proposta de novo Código Mineral elaborada pelo governo federal. "Dilma conhece mineração. Sabe do nosso problema do marco regulatório e da contribuição financeira pela mineração (Cfem). Precisamos de uma política justa. O que vemos hoje nos municípios da região petrolífera é o que queremos para os municípios mineradores", afirmou Oswaldo, que foi colega de classe de Dilma no curso clássico do Colégio Estadual de Belo Horizonte, no começo dos anos 60.

Ao receber a bênção na Igreja, Dilma ouviu do pároco Marcelo Santiago um pedido de ajuda para recuperar objetos de arte roubados em 1973. Segundo o padre, o inquérito desapareceu na Polícia Federal. "Fazemos um apelo às autoridades para que não se cansem de dar provimento às medidas necessárias", disse o padre, esquecendo-se que ninguém, na comitiva de Dilma, era mais autoridade federal.

A visita a Minas serviu ainda para Dilma dar um breve mergulho na política municipal. A ex-ministra almoçou com 22 prefeitos da região de Ouro Preto, entre eles dois da base de apoio de Aécio: o de Lamim, do DEM e o de Moeda, do PSDB. No almoço, o prefeito de Ouro Preto, aliado de Hélio Costa na disputa estadual, convidou os três pré-candidatos a discursarem. Segundo seu relato, Patrus procurou desviar do nó eleitoral com um discurso em torno da mineiridade. Pimentel fez uma convocação à base municipal trabalhar por Dilma. Hélio Costa foi o único a apelar pela necessidade de um palanque único no Estado para derrotar o PSDB no Estado e no país.

http://www.valoronline.com.br/?impresso/politica/99/6196249/dilma-diz-que-nao-vai-impor-palanque-unico-em-mg

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