Crescimento de Dilma reforça em dirigentes de partidos ideia de atrair Ciro para a corrida estadual em São Paulo

Correio Braziliense - Denise Rothenburg

Os partidos aliados ao governo Lula que já estão engajados na campanha da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República, se preparam para, ainda antes do carnaval, fazer um apelo oficial a Ciro Gomes para que ele seja candidato ao governo de São Paulo. Reunidos ontem na capital paulista, os dirigentes estaduais do PT, do PSB, do PDT e do PCdoB decidiram que o melhor para dar fôlego a Dilma em São Paulo — e, de quebra, unir todos contra a cada vez mais provável candidatura de Geraldo Alckmin pelo PSDB no estado — é ter Ciro na corrida.

O raciocínio feito na reunião de ontem é o de que o governador de São Paulo, José Serra, sairia do estado rumo à disputa pela Presidência da República com uma frente de seis milhões de votos. E a “prioridade zero” do governo hoje, com Dilma aparecendo bem nas pesquisas, é reduzir a diferença. Ainda que ninguém acredite na vitória de Ciro ao governo estadual, muitos acham que ele poderia passar três meses atirando em José Serra. Com isso, calculam os aliados de Lula, Ciro trabalharia para reduzir o favoritismo do governador no quintal paulista.

O encontro tratou ainda da hipótese de o vereador Gabriel Chalita (PSB), ex-tucano ligado a Alckmin, conseguir negociar um pacto no qual o candidato do PSDB ao governo local se comprometeria a não defender Serra. Assim, a avenida para desconstruir Serra, calculam alguns dos presentes, estaria livre. O encontro reuniu os presidentes regionais do PT, Edinho Silva; do PSB, Márcio França; do PDT, Gaspar; e do PCdoB, Nádia Campeão, além de representantes de pequenos partidos e, ainda, o prefeito de Guarulhos, Carlinhos de Almeida, do PT.

Dependência
Todos concluíram que Ciro seria o único capaz de unir todas essas legendas em São Paulo. “Se ele não for candidato a governador, será cada um por si”, diz Márcio França, que se encarregará de organizar o evento para tentar fazer Ciro mudar de ideia. E há quem diga que ele pode mesmo acabar cedendo, no fim de março, apesar da ansiedade de parte do PT, cada vez mais cansada de ficar na dependência de um aliado que nem política em São Paulo faz. É uma ação como essa que Ciro mais teme. 

Ansioso e cada vez mais convencido de que Ciro não pretende concorrer ao governo paulista, o PT começa a se voltar para seus filiados, como o senador Aloizio Mercadante. Se ele não quiser, será Marta Suplicy a opção, uma vez que o deputado Antonio Palocci já declarou estar fora do páreo. Do PSB, o nome será Paulo Skaf. O PDT, nesse cenário, também lançaria um candidato.

A profusão de candidaturas preocupa o Planalto. Até porque o presidente Lula seria cobrado a apoiar Mercadante ou Marta, que deseja ser uma espécie de embaixadora de Dilma em São Paulo. Com isso, há o risco de Skaf, sem receber o mesmo tratamento do governo federal, terminar não fazendo campanha para a ministra — um movimento que atrapalharia os planos de tirar a diferença para Serra em São Paulo. E será nesse sentido, de buscar mais votos para Dilma, que Lula em breve irá cuidar da eleição de São Paulo. Afinal, tudo o que ele não quer é ver se repetir o problema de 2004(1) quando o PT viu o PMDB escorrer pelos dedos. Ele não quer ver o PSB tomar o mesmo caminho, uma vez que os socialistas têm recebido muitos gestos de interesse por parte dos tucanos.

1 - Frágil aliança
Em 2004, Marta Suplicy foi candidata à prefeitura de São Paulo. O PT começava a atrair o PMDB para a campanha de reeleição de Lula, começando por Orestes Quércia. Marta, no entanto, foi em janeiro ao programa Roda Viva e declarou que não confiava no PMDB. Foi a senha para que Quércia se afastasse dos petistas. Hoje, ele apoia o tucano José Serra.

"Se ele não for candidato a governador, será cada um por si"
Márcio França, presidente regional do PSB em São Paulo

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