25 de jan. de 2010

'PT e PSDB promovem luta livre'

Beto Silva
Do Diário do Grande ABC

Quando o assunto é socialismo, ele é uma das figuras acadêmicas e políticas mais respeitadas do Brasil. Pretende disputar a eleição presidencial em outubro, mas seu nome ainda não é consenso dentro de seu próprio partido. E mais: a principal liderança do Psol no País, a ex-senadora e atual vereadora de Maceió, Heloísa Helena, apoia outro militante para concorrer ao Palácio do Planalto. O ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio faz campanha interna na legenda para que seja o escolhido do Psol a levar para o debate eleitoral a bandeira socialista. A língua ferina, crítica aos modelos político e econômico brasileiro dos últimos anos, continua afiada. Sobre o bate-boca público protagonizado recentemente entre integrantes de PT e PSDB, Plínio é categórico. Para ele, representantes das duas siglas promovem "um espetáculo de luta livre", enquanto distraem a população e "não se discute seriamente os problemas" do Brasil. Em entrevista exclusiva ao Diário, Plínio de Arruda Sampaio - que angariou 2,5% dos votos válidos na eleição de 2006 ao governo de São Paulo - comenta sobre o fim das conversas entre Psol e PV, assume que a esquerda brasileira hoje é "pequenininha" e aposta no horário eleitoral e nos debates para obter "um melhor resultado" nas urnas neste ano.

DIÁRIO - Com a oficialização da ruptura de negociações entre o PSOL e o PV, o senhor é hoje o pré-candidato mais forte da sigla para disputar as eleições presidenciais de 2010?
PLÍNIO DE ARRUDA SAMPAIO - Parece, né. Mas tem outros companheiros que estão querendo. Tenho a impressão que a maioria dos grupos mais fortes estaria comigo.

DIÁRIO - Como vê a saída de Heloísa Helena do embate presidencial, querendo ser senadora?
PLÍNIO - Ela tem uma vaga de senadora mais ou menos garantida. Ela achou preferível em vez de novamente disputar (a presidência) e ficar mais alguns anos apenas como vereadora em Maceió (capital de Alagoas). Ela ficaria uma figura mais presente em âmbito nacional como senadora. O que me pareceu judicioso, me pareceu correto.

DIÁRIO - E o projeto nacional, não fica prejudicado?
PLÍNIO - Não tenho elemento para responder isso. O que sabemos é que ela tem uma eleição fácil em Alagoas, conseguiu esse quadro no partido, que terá uma voz ativa no Senado e ela se projeta, de fato, novamente, muito mais do que perdida na vereança lá de Maceió.

DIÁRIO - Não seria o momento de repetir o candidato, como fez o PT com Lula (que disputou cinco eleições seguidas), para garantir mais força nos próximos pleitos?
PLÍNIO - Não é o pensamento dela e não é o pensamento do partido. Não sei se foi bom para o PT firmar somente no Lula. Deu no que deu. O partido precisa ser uma coisa coletiva, não pode ser dependente de uma pessoa.

DIÁRIO - O senhor tem conversado com Heloísa Helena, tem tentado atrair o apoio dela ao senhor?
PLÍNIO - Existe outra figura preferida dela, o camarada de Goiás, Martiniano (Cavalcanti). Guerra é guerra, temos de entrar. Não sei se haverá consenso. Talvez esse rapaz tenha uma visão distinta da tarefa histórica do partido nesse momento. E nem estou preocupado com isso. Estou preocupado em reunir o meu grupo, para fazer um programa sério e trazer a esquerda junto, que já é pequenininha, mas podemos ter um desempenho mais favorável nessa eleição. Se não houver consenso no nome, vamos para a conferência, em que os filiados elegem os delegados que apontarão o candidato.


DIÁRIO - Porque as tratativas com o PV não avançaram?
PLÍNIO - Por motivos óbvios e simples. Fui contra desde o início. O PV não é um partido socialista. Está no governo da cidade de São Paulo, no estadual e federal. É uma legenda da ordem estabelecida. O Psol é contra a ordem estabelecida. Queremos mudar essa ordem. Não tem sentido se aliar com quem quer mantê-la.

DIÁRIO - E a candidatura de Marina Silva, não virá com os mesmos conceitos do Psol?
PLÍNIO - De maneira nenhuma. Ela é ecocapitalista e o Psol ecosocialista. Os argumentos são totalmente diferentes.

DIÁRIO - A candidatura definitiva do partido será escolhida numa conferência eleitoral marcada para os dias 10 e 11 de abril. O que deve ser feito até lá para o senhor encabeçar a chapa?
PLÍNIO - O que já estou fazendo: campanha em todos os locais. Recentemente, estive no Grande ABC falando para uma televisão local. Vou para o Fórum (Social Grande Porto Alegre) nesta semana, estou bem apoiado na região, que tem um grupo bom que me dá uma mão.

DIÁRIO - Em São Paulo, como fica o partido: lançará candidato?
PLÍNIO - Em São Paulo a candidatura mais forte é do Chico de Oliveira. Até agora não vi outro candidato se opor a ele. Estamos lutando para ver se arregimentamos em torno dele um consenso. Assim, lançamos um candidato que é intelectual, professor da USP, homem da maior dignidade. E de posições socialistas indiscutíveis. Ainda não ouvi nenhum pronunciamento do Ivan Valente, que é nosso mais forte candidato a deputado federal.

DIÁRIO - A polarização entre PT e PSDB, até mesmo por parte da imprensa, é injusta?
PLÍNIO - Vejo como uma coisa natural da burguesia. E tem dois candidatos que no fundo dizem a mesma coisa: o Serra e a Dilma. Não há diferença nenhuma entre as políticas econômicas. É o mesmo sistema dos grandes países, dos grandes sistemas. Os jornais da burguesia são feitos para defender a burguesia. Uma das maneiras de defender a burguesia é impedir que a esquerda fale, que o nosso discurso chegue até a população. É o chamado beque russo, companheiro. Estão fazendo o jogo deles. E nós estamos fazendo o nosso.


DIÁRIO - O que o senhor defende de diferente no aspecto econômico?
PLÍNIO - Muita coisa. Temos que criar o Brasil com as forças do Brasil. Vamos fazer uma política de defesa da economia nacional em prol da população. Distribuição de renda forte, industrialização, política de pleno emprego. Hoje estamos regredindo a uma economia primária e importadora. Depois de chegarmos a ser a oitava força industrial do mundo, voltamos a ser um País que vive de exportação. Desta vez, de soja para alimentar o gado japonês e europeu, de cana de açúcar para misturar na gasolina dos países ricos e reduzir a poluição nas cidades, de celulose para fazer papel higiênico - ‘anote isso, papel higiênico'' - para os perfumados bumbuns dos países ricos e de carne bovina para os milionários. A produção tem de ser voltada para o mercado interno. É preciso produzir alimento para o nosso País.

DIÁRIO - Como o senhor observa esse bate-boca entre os dois partidos?
PLÍNIO - É característico da política brasileira e tem um sentido claro: evitar que se discutam as verdadeiras soluções para os problemas do Brasil. Enquanto distrai a população para um espetáculo de luta livre, não se discute seriamente os problemas.

DIÁRIO - O PT quer comparar as gestões de Lula e FHC, enquanto o PSDB quer debate sobre quem é o mais preparado para administrar o Brasil do futuro. Essa discussão é rasa?
PLÍNIO - Esse é o debate que interessa para eles, porque não são debatidos os temas centrais. Ficam trocando insultos e com isso excita a plateia, a galera, a torcida, e não faz discussão política real. O próprio ABC precisa pensar muito nisso, porque a política atual prejudica muito a região. Precisava pensar direito o que quer dizer uma economia primária e uma industrial exportadora.

DIÁRIO - O Psol chega com chances de alcançar o segundo turno?
PLÍNIO - Ninguém entra numa batalha para perder. Vamos entrar visando o melhor resultado. Agora, é muito cedo para dizer o que vai acontecer. Estamos muito longe da eleição e temos a consciência muito clara de que não temos recursos monetários indispensáveis para fazer uma campanha que possa levar nossa mensagem a todos. Tudo vai depender do horário eleitoral e dos debates.

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