31 de mar. de 2010

Fratura exposta na aliança entre PT e PMDB

PT decide não intervir no diretório maranhense, que apoiará candidatura de comunista ao governo do estado em vez de Roseana Sarney, do PMDB, e instaura crise entre os dois partidos

Correio Braziliense - Denise Rothenburg

O comando nacional do PT já avisou aos petistas maranhanses que, se depender dos principais comandantes do partido, não haverá intervenção no diretório estadual. A medida foi cobrada pelo PMDB por causa da decisão do PT do Maranhão de apoiar a candidatura de Flávio Dino (PCdoB) ao governo do estado em vez da governadora Roseana Sarney (PMDB), que disputará a reeleição. A avaliação dos petistas — feita numa reunião entre o presidente da sigla, José Eduardo Dutra, os líderes partidários e ministros filiados ao PT — foi a de que não há muito o que fazer agora.

Os petistas consideraram que o PCdoB do Maranhão é mais ligado ao governo de Roseana Sarney do que o próprio PT. Portanto, caberia ao PMDB maranhense atrair os comunistas a fim de evitar a candidatura de Flávio Dino contra Roseana. Para completar, afirmam, o PMDB em nenhum momento retirou a candidatura de Geddel Vieira Lima, que concorrerá ao governo da Bahia contra o atual governador, Jaques Wagner (PT), que tentará a reeleição.

A intenção dos petistas em fazer “cara de paisagem” ante a decisão do PT estadual promete abrir uma crise entre os dois partidos que pretendem seguir juntos na campanha presidencial. O clima de desconfiança foi criado justamente na véspera do dia em que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), deixa o cargo para se dedicar exclusivamente à montagem dos palanques estaduais e à campanha da corrida pelo Palácio do Planalto.

Conforme noticiado ontem pelo Correio, o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), conversou com Lula no lançamento do segundo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2) e o presidente disse que havia despachado José Eduardo Dutra para o Maranhão a fim de resolver o jogo em favor de Roseana. Ontem, Dutra estava em Brasília mais preocupado com o depoimento de seu tesoureiro, João Vaccari Neto, na Comissão de Direitos Humanos do Senado. Como ex-presidente da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop), Vaccari Neto foi explicar as denúncias de desvio de dinheiro da associação para campanhas políticas do PT.

Nos bastidores, os senadores do PMDB aguardam a decisão sobre o caso do Maranhão. “Tem que ter uma intervenção lá. Eles nos disseram que estava tudo certo”, comentava o senador Wellington Salgado (PMDB-MG), referindo-se ao apoio do PT à candidatura de Roseana. Os peemedebistas estão preocupados com os reflexos que essa decisão possa ter na consolidação da aliança com os petistas no plano nacional. Os aliados do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), consideram que um desfecho desfavorável à Roseana pode terminar por comprometer a confiabilidade entre os dois partidos e, de quebra, dar munição à ala peemedebista contrária à coligação formal entre petistas e peemedebistas.

Hoje, a contabilidade do PMDB está no seguinte pé: um terço deseja seguir com Dilma Rousseff e trabalha por isso, um terço é contra a aliança e um terço está em busca de motivos, seja para apoiar a ministra Dilma, seja para brigar de vez com o PT. Há o temor de que o episódio do Maranhão balance esse último terço contra a coligação nacional com os petistas.

Outros problemas

Outro estado tem sido um problema para a relação PT-PMDB é o Ceará. No último fim de semana, o PT pediu ao governador Cid Gomes (PSB), candidato à reeleição, uma das vagas ao Senado para o ministro da Previdência, José Pimentel (PT). Os petistas também cobram o posto de vice na chapa de Gomes e, de quebra, querem o PSDB do senador Tasso Jereissati (CE) longe do palanque do governador-candidato. Pelo que estava acordado, o deputado Eunício Oliveira (PMDB-CE) seria o candidato ao Senado da chapa e a outra vaga seria entregue a um nome sem expressão, apenas para constar, de forma a fechar uma coligação branca com o Jereissati. Mas o PT não topou.

Em Minas Gerais, as desconfianças também cresceram, uma vez que o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel querem ser candidatos pelo PT ao governo mineiro. Embora o PMDB diga que está fechada uma aliança com os petistas — que em tese apoiariam o ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB), como candidato a governador, e o deputado Virgílio Guimarães (PT) como vice —, o PT não assina embaixo. “Vamos primeiro resolver nossos problemas internos, que estão quase solucionados. Depois, vamos conversar com o PMDB”, afirma Pimentel.

MPF cobra devolução de salários de José Sarney

O Ministério Público Federal (MPF) entrou com ação civil pública contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e pede que a Justiça determine a devolução aos cofres públicos dos valores acima do teto constitucional recebidos pelo parlamentar nos últimos cinco anos. Segundo o MPF, além da remuneração como senador, Sarney recebe duas aposentadorias do estado do Maranhão. Uma como ex-governador e outra como ex-servidor do Tribunal de Justiça do estadual. O órgão diz que Sarney recebe pelo menos R$ 52 mil mensais, quase o dobro do teto estabelecido pela Constituição para servidores e agentes públicos. O máximo permitido não pode superar a remuneração dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Hoje, esse valor é R$ 26.723,13. Ontem, Sarney passou por uma cirurgia para retirar um tumor benigno da boca.

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/03/31/politica,i=183055/FRATURA+EXPOSTA+NA+ALIANCA+ENTRE+PT+E+PMDB.shtml

Nenhum comentário:

Postar um comentário