12 de abr. de 2010

Marina vestida para pedir voto

Assessores da pré-candidata à Presidência da República pelo PV não admitem abertamente, mas ela desfila em campanha com guarda-roupa diferente do costumeiro

Correio Braziliense -  Luiza Seixas | Luisana Gontijo

“Marina, morena. Marina, você se pintou...” O verso da canção eternizada pelo baiano Dorival Caymmi até que cairia bem à pré-candidata do PV à Presidência da República, Marina Silva, que desfila, em campanha pelo país, com aparente novo visual. A assessoria da senadora admite com parcimônia as mudanças no guarda-roupas que teriam sido feitas “naturalmente”, apenas com a aquisição de mais peças, já que a aspirante ao Palácio do Planalto aumentou a quantidade de viagens em busca de votos. Mas os apoiadores da ex-ministra do Meio Ambiente já sabem que os modelitos adotados têm agradado mais, apesar de frisarem que ela se mantém distante das cores berrantes, fiel ao estilo discreto de sempre.

Entre os assessores de Marina Silva há quem garanta que nada mudou, além do ânimo da pré-candidata, por ter abandonado o gabinete e voltado ao contato direto com a sociedade. Os assistentes também negam com veemência que tenha sido contratado algum estilista ou adotada grife especial pela ex-ministra. Sobre colares diferentes e coloridos com os quais ela tem se apresentado por aí aos eleitores, dizem que são fruto de um hobby da senadora, que gosta de confeccionar esse tipo de artesanato. É óbvio que ela tem lá sua vaidade, frisam eles, como toda mulher, mas nada que a leve a se preocupar com essa história de marketing. Na avaliação da consultora de imagem Júlia Bello, Marina Silva tem usado um pouco de maquiagem, como corretivo nas olheiras, o que torna sua aparência mais jovial.

Além disso, a especialista disse ter percebido, em uma das aparições da pré-candidata na TV, que a ex-ministra usava uma roupa que parecia ser de seda, sugerindo um estilo mais sofisticado do que o muito casual que costumava identificá-la anteriormente. Júlia Bello diz que a mudança é discreta, mas capaz de causar nas pessoas, nos eleitores, um impacto positivo, que as faz ver a senadora com mais leveza.

Sorriso

Convicto de que o discurso político se apresenta, em primeiro lugar, sob o prisma estético, o especialista em marketing político Gaudêncio Torquato frisa que o eleitor capta inicialmente a maneira como o candidato se veste, usa o cabelo e fala. O discurso semântico, das palavras e ideias, vem depois. No caso de Marina Silva, Torquato acha que ela percebeu a necessidade dessa adaptação e está sorrindo mais.

Torquato afirma que principalmente os eleitores de baixa escolaridade e renda se impactam ante o visual dos candidatos. Os de renda média e superior racionalizam mais, apesar de também serem influenciados pelo que veem. O especialista conta um episódio da década de 1960, durante a campanha de George Wallace, governador do Alabama, à presidência dos Estados Unidos, em que o candidato subiu ao palanque para discursar usando uma armação de óculos sem lentes, com a intenção de passar a ideia de intelectual. Ao falar aos eleitores, algo lhe caiu nos olhos e ele os tocou entre os aros da armação, denunciando a ausência das lentes. Essa atitude, segundo Torquato, fez de Wallace um impostor e destruiu sua campanha.

O cientista político Rubens Figueiredo é outro para quem o visual do candidato se mostra, na corrida eleitoral, muitas vezes, mais importante do que a mensagem passada por ele. “É claro que não vai ser uma foto em outdoor que fará um candidato ganhar a eleição, mas treinamento no jeito de falar, por exemplo, tem muita força na formação de opinião do eleitor”, avisa. Ao adotar essas mudanças, acredita, os postulantes a cargos eleitorais pretendem diminuir pontos fracos identificados nas pesquisas. O próprio Lula, relembra, repaginou o visual antes de eleito. Entre outras mudanças, ele serrou os dentes, segundo o cientista político.

Quem também fez algo parecido foi o ex-presidente francês François Mitterrand, que tinha dentes caninos pronunciados e começou a ser comparado pela oposição a um vampiro. Depois de adotar o tratamento de serrar os caninos, Mitterrand se apoiou no vitorioso slogan de campanha “A força tranquila”. Ainda na década de 1960, o famoso debate entre Kennedy e Nixon, rumo à presidência dos Estados Unidos, mostrou Kennedy vitorioso na TV, por sua imagem de galã, sempre impactante sobre o eleitorado, e Nixon soberano no rádio, pelas palavras certeiras, não atreladas ao visual.

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/04/12/politica,i=185400/MARINA+VESTIDA+PARA+PEDIR+VOTO.shtml

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