5 de mar. de 2010

Pressão do PSDB sai de Minas e volta a SP

César Felício, de Belo Horizonte

Valor Econômico

A pressão que o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), sofreu nas últimas semanas para aceitar ser vice na chapa presidencial encabeçada pelo governador de São Paulo, José Serra (PSDB), ameaça se transferir em intensidade ao colega paulista, depois da inauguração ontem da Cidade Administrativa Tancredo Neves, a nova sede do governo mineiro, a 17 km do centro de Belo Horizonte.

Em um evento com a presença do vice-presidente José Alencar, do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, de dois ministros, cinco governadores (além de Aécio e Serra), 15 senadores, três prefeitos de capital e diversos deputados federais, estaduais e prefeitos, Aécio discursou sob os gritos de "Aécio, presidente", saldou 29 personalidades falecidas e 46 autoridades vivas em seu discurso e não fez uma menção sequer ao cenário presidencial deste ano.

Ao citar Serra, que recebeu vaias isoladas ao chegar ao evento, Aécio o saldou como "amigo, grande governador e companheiro". Sem qualquer menção ao futuro, como fez com o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais ( Fiemg), Robson Braga de Andrade, que assumirá a Confederação Nacional da Indústria (CNI), ou adjetivos superlativos, como o "extraordinário", dedicado ao governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), o vice-governador Antonio Anastasia (PSDB), o ex-presidente Itamar Franco (PPS) e o presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ). Também sem o calor demonstrado com os governadores de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, Luiz Henrique (PMDB) e Yeda Crusius (PSDB), chamados de "caríssimos", "lutadores", "guerreiros " e "companheiros de todas as horas". Serra retirou-se do evento sem fazer declarações.

"Não há clima para se falar mais em candidatura a vice de Aécio. Toda esta solenidade e mensagens subliminares em seu discurso indicam postura de candidato a titular da chapa", comentou na saída do evento um senador tucano, possibilidade que Aécio voltou a descartar em entrevista após a solenidade. "Quando eu deixo a disputa presidencial, não faço isso para que retorne lá à frente. Acredito que o governador Serra, no momento em que oficializar a sua candidatura, tem todas as condições de empreender um debate propositivo ao país. Vou ser taxativo: o tempo de uma eventual candidatura minha passou. Não será desta vez", disse o governador. Com o nome sugerido pelo próprio Aécio para ser vice na chapa de Serra, o senador Tasso Jereissati (CE) verbalizou a pressão sobre o governador paulista.

"A Vice não está no meu cenário. O que nós temos que fazer é colocar o candidato a presidente na rua, fazendo campanha, já na próxima semana. O momento não é de discutir chapa, é de discutir a consolidação de uma candidatura à Presidência", afirmou, numa demonstração de que considerou os movimentos de Serra até o momento insuficientes para colocar a candidatura em movimento. "Aécio hoje está definido como candidato ao Senado e Serra está demorando a se definir. É urgente a necessidade da definição. A candidata do governo está fazendo campanha ilegalmente há muito tempo e nós estamos parados", disse Tasso. "Discutir vice é antecipar um segundo momento. Vamos deixar o Serra anunciar que é candidato", afirmou Rodrigo Maia (DEM-RJ).

No PSDB paulista, a recusa de Aécio em ser vice - formalizada pelo governador mineiro em encontro com Serra anteontem em Brasília - ainda não foi assimilada e a expectativa é que o governador paulista não antecipe o lançamento público de sua candidatura enquanto não tentar demover o colega mineiro. "É Aécio ou Aécio. O político mineiro pode recusar várias vezes, antes de dizer um sim. O Aécio só se recusou uma. Pelo prestígio que ele tem, não só em Minas, mas fora, ele sabe que esta situação não pode perdurar até junho", afirmou o deputado federal José Aníbal (SP), que deverá ser candidato ao Senado neste ano.

Para jornalistas, Aécio mais uma vez descartou a hipótese de compor chapa como vice. "Homem público que não resiste a pressões, não merece fazer política. Todos nós temos que ter as nossas convicções. Tenho as minhas. Enquanto elas não se alterarem, caminho no meu rumo. Se alguém me convencer, em um determinado momento, do contrário, tenho que avaliar. Mas estou convencido que a melhor forma de ajudar ao nosso projeto é estando em Minas, e provavelmente como candidato ao Senado. Essa é a forma de ajudar o nosso candidato a vencer", disse.

Segundo o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), a pressão sobre Aécio está suspensa. "Aécio já se dispôs a apoiar Serra e nós temos condições de ganhar as eleições em Minas. Qualquer outro cenário é plantação", afirmou.

Após a inauguração do centro, Aécio reuniu-se com dirigentes políticos em um almoço no Palácio da Liberdade. Ao sair, comentou que agregaria pouco como vice na chapa de Serra. "Ninguém vota em vice", disse a jornalistas. Serra participou do almoço. Em seguida, Aécio viajou para a cidade de origem de sua família, São João Del Rey, em companhia do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG). Na cidade, a cerca de 200 km de Belo Horizonte, estava previsto o encontro com o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), que foi à inauguração do centro, além do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que sucedeu Tancredo Neves na Presidência da República. Ciro reafirmou sua candidatura à Presidência, pedindo o voto aos jornalistas. Aécio deve reinaugurar hoje o Memorial em homenagem ao avô, que foi organizado pela sua irmã, Andrea Neves, em 1990.

http://www.valoronline.com.br/?impresso/politica/99/6140651/pressao-do-psdb-sai-de-minas-e-volta-a-sp

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