8 de mar. de 2010

Lula tenta diminuir as chances de traição nos palanques estaduais de apoio a Dilma

No entanto, aliados aumentam o tom das ameaças

Correio Braziliense - Denise Rothenburg | Flávia Foreque


A desconfiança que se instala entre PT, PMDB e PSB em alguns estados começa a provocar abalos no castelo de partidos que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende arregimentar para a campanha da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República. No Pará, por exemplo, onde a governadora Ana Júlia Carepa(1) (PT) é candidata à reeleição, o ex-deputado José Priante (PMDB-PA) resume assim a relação entre os dois partidos: “É mais fácil um remista passar a torcer para o Payssandu, ou vice-versa, do que o PMDB apoiar a Ana Júlia”, afirma.

A declaração do peemedebista vem carregada pela pura desconfiança que cresce cada vez mais entre os dois partidos. Ana Júlia foi candidata porque, em 2006, o deputado Jader Barbalho foi ao presidente Lula e disse que o pré-candidato do PT, Mário Cardozo, não venceria o PSDB. Lula e Barbalho combinaram então que Jader teria um candidato a governador, o PT lançaria Ana Júlia e, no segundo turno, eles estariam juntos. Ao longo do governo de Ana Júlia, a relação com o PMDB se deteriorou.

Há dois meses, Ana Júlia ofereceu a Jader uma das vagas ao Senado. Ocorre que Jader, depois de uma série de consultas ao PT, descobriu que os petistas planejam votar apenas no seu candidato — o deputado Paulo Rocha, aquele que terminou fora do Congresso em 2006 por conta do escândalo do mensalão — e, por causa dos antigos escândalos da Sudam, desidratar o candidato do PMDB.

A desconfiança levou o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, a chamar Paulo Rocha e Priante para uma conversa em seu gabinete. Até o momento, o acordo não saiu e a perspectiva é a de que não sairá por conta da desconfiança.

No Maranhão, a situação não é diferente. PT e PMDB simplesmente não confiam um no outro. Lá, o PT decide no dia 27 deste mês se ficará com o aliado histórico, o PCdoB — que tem como candidato a governador o deputado Flávio Dino — ou apoiará a reeleição de Roseana(2) Sarney (PMDB). A disputa será dura e, na hipótese de ficar com Dino, isso pode refletir na campanha presidencial, uma vez que Roseana estendeu o tapete vermelho para Dilma e fechou as portas para Marina Silva, do PV de Sarney Filho, irmão da governadora. Feito isso, agora o PMDB aguarda reciprocidade do PT local. Desconfia que não terá.

No Piauí, o clima de desconfiança é entre PT e PSB. Os socialistas esperavam contar com o apoio do PT para eleger o vice-governador Wilson Martins, que ficará no comando do estado quando Wellington Dias deixar o governo para concorrer ao Senado. Ocorre que o PT pretende lançar Antônio José Medeiros, deputado federal, ao governo. Nessa disputa estará ainda o senador João Claudino, outro que tem pretensões de ser governador. Dilma acabará com três palanques e, se pender para o do PT, como alguns acreditam que fará nos estados onde os petistas são candidatos, corre o risco de perder os outros dois.

Vontade política
A desconfiança entre PT e PMDB perdura ainda em Minas Gerais. Lá, o máximo que o comando nacional do partido conseguiu arrancar da Executiva(3) Estadual foi um acordo de cavalheiros em que ficou definido a “vontade política” de ter apenas um nome da base aliada a Lula na corrida pelo governo do estado. O PT insiste em candidatura própria e, no dia 22, abre prazo para que os pré-candidatos se apresentem. Até 5 de abril, quando termina o prazo de inscrição, o presidente do partido, Reginaldo Lopes, espera conseguir um acordo entre o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, e o ex-prefeito Fernando Pimentel de forma a levar um único nome para negociar com o PMDB do ministro das Comunicações, Hélio Costa, e o PRB do vice-presidente José Alencar.

O problema, no entanto, é grande. Primeiro, que a apresentação de um nome para o governo, se aceito pelo PMDB, certamente deslocaria Hélio Costa para disputar umas das vagas ao Senado. O problema é que a disputa está engarrafada, com três titãs brigando por duas vagas: o governador Minas Gerais, Aécio Neves, como candidato pelo PSDB, o vice-presidente da República, José Alencar, e ainda tem o ex-presidente Itamar Franco. O PMDB não quer que sua estrela, o ministro Hélio Costa, seja o quarto elemento dessa composição e só pode chegar lá com a certeza dos votos do PT, o que até agora não ocorreu. “Nada é impossível, mas temos que primeiro resolver os nossos problemas internos para depois negociarmos. Se não fecharmos um nome para o governo até abril, teremos a prévia em maio”, afirma Lopes, com toda a cautela para não assustar os peemedebistas e tentando ganhar tempo para obter uma boa negociação.

Essa cautela de Lopes, no entanto, é vista, não só por setores do PMDB de Minas como de outros estados, com desconfiança. E se esse clima se instalar problemas é que não vão faltar para a candidata do governo na hora em que as campanhas(4) esquentarem em todo o país. Não é à toa que Lula torce pelo crescimento imediato de Dilma para deixar que a sensação de traição perca a importância na hora do voto.

1 - Pará
A governadora Ana Júlia Carepa ofereceu uma das vagas ao Senado ao deputado Jader Barbalho (PMDB), que é o principal líder do partido no estado. Ocorre que o oferecimento é visto pelo PMDB como pró-forma, para atrair os peemedebistas, uma vez que todas as consultas internas feitas pelo PMDB indicam que os militantes petistas não pretendem ajudar a eleger Jader.

2 -Maranhão
O PT local decide dia 21 se apoiará a candidatura do deputado Flávio Dino (PCdoB) ao governo ou se engaja na campanha pela reeleição da governadora Roseana Sarney (PMDB). Se optar por Dino, criará fissuras na relação do PMDB de Roseana com o partido de Dilma, e hoje não se sabe o reflexo que isso pode ter na campanha presidencial.


3 -Minas Gerais
O PT mineiro fixou 22 deste mês como a data para inscrição de pré-candidatos ao governo estadual. Nessas duas semanas, espera conseguir um acordo entre Fernando Pimentel e Patrus Ananias para apresentação de um único nome no dia da prévia para depois sentar com o PMDB do ministro das Comunicações, Hélio Costa. O problema é que o PT não quer deixar a cabeça de chapa.


4 -Distrito Federal
O PT local está num guerra acirrada entre Geraldo Magela e Agnelo Queiroz pela vaga de candidato a governador. A prévia entre os dois será em 21 de março. A briga está tão grande que os demais aliados tentam se unir em torno de uma terceira via para o governo do DF, sem a presença do PT, o que deixaria a ministra numa saia justa entre o seu partido e parte dos aliados.

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/03/08/politica,i=178136/LULA+TENTA+DIMINUIR+AS+CHANCES+DE+TRAICAO+NOS+PALANQUES+ESTADUAIS+DE+APOIO+A+DILMA.shtml

3 comentários:

  1. Alex Gomes12:34

    Acho que Agnelo está bem mais preparado para assumir o GDF, pois tem uma postura firme diferente de Magela, que descumpriu o acordo de se lançar ao senado que agora não mede esforços para prejudicar o unico candidato que tem condições de deixar Roriz cada vez mais longe do Buriti.

    ResponderExcluir
  2. É ridículo o que está acontecendo em Brasília. Magela depois de trair o partido e ter resolvido concorrrer ao GDF enfraqueceu o PT e tá afastando os nossos aliados de esquerda. Será que vamos ter que pagar o preço de ter o Roriz de volta ao Buriti e de não ver a primeira mulher governar o país por causa de políticos que só pensam em si mesmos e só querem alimentar a sua fome de poder?
    É lamentável...

    ResponderExcluir
  3. No dia 21, vai dar Agnelo Queiroz na cabeça! Não vejo outro resultado nessa disputa. Geraldo Magela não tem mais forças pra competir ao GDF. Agnelo sim, terá forças para chegar ao Buriti e de lá, decência e discernimento para ajudar o Distrito Federal a limpar essa corrupção que atinge a todos, principalmente os que vivem às margens da sociedade

    ResponderExcluir