05/10/2009
Um dia depois de Ciro Gomes (PSB-CE) explicar as razões que o levaram a transferir seu domicílio eleitoral do Ceará para São Paulo - entre as quais, aproximar-se do eleitorado paulista -, o PSB reforçou que a manobra de seu deputado também tem outros motivos: manter o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), preocupado com o próprio estado. O partido aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta evitar que o pré-candidato tucano à Presidência da República se lance na agenda nacional e deixe de lado o estado nos próximos meses. O plano tem como pilar Ciro Gomes. A estratégia atenderia aos interesses de Lula, que teria alguém para acorrentar Serra a São Paulo, evitando que o tucano passasse a ser pró-ativo na discussão da política federal.
Nos próximos cinco meses em que ficará no ar caso Ciro se lance ao governo do estado ou à Presidência da República, o PSB quer que ele se transforme num anti-Serra. Claro que isso não significa que o deputado aceitou ser candidato a governador, como quer Lula. Significa apenas que ele encarnará o papel de desconstruir o discurso de um partido que completará 16 anos à frente da política paulista no ano que vem.
"Nós vamos manter o Serra ligado em São Paulo e não deixando ele falar só sobre o Brasil. O Ciro vai falar sobre São Paulo, vai começar a andar mais em São Paulo, visitar cidades, e isso vai exigir preocupação do Serra", avaliou o líder do PSB na Câmara, deputado Rodrigo Rollemberg (DF). O PSB quer manter o governador na defensiva, tendo que explicar suas decisões e as políticas para os mais diversos temas, como saúde, educação e transportes.
A estratégia se desenha em duas vias. Ciro Gomes não só buscará ajudar para minar a agenda de Serra, como expandirá seu potencial no maior colégio eleitoral do país. "São Paulo tem eleitorado muito grande e esse trabalho fortalece a candidatura a presidente também", disse Rollemberg. A meta é fazer essa figura do anti-Serra dar tão certo que ela se torne indispensável no debate nacional. "Estou absolutamente convencido de que o Ciro será candidato a presidente porque o Lula não vai abrir mão do Ciro", emendou o líder. A tese dos socialistas é que mais um nome da base aliada contra os tucanos forçará o segundo turno e evitará uma eventual vitória na primeira rodada de votações. E, depois de servir como o contraponto no estado, Lula precisará de um anti-Serra na eleição presidencial, argumentam os socialistas.
Fortalecimento
Na política paulista, o PSB conseguiu se fortalecer com as filiações do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, e do vereador da capital Gabriel Chalita, o mais votado na última eleição municipal. Skaf corre como um dos postulantes ao governo e Chalita deverá ser lançado ao Senado. Como o PT tem patinado há anos no estado, os socialistas têm potencial de se tornar a alternativa viável aos tucanos. Apesar de os petistas serem fortes em seu berço de nascimento - o PT tem dois dos três senadores paulistas -, o partido encontra dificuldades quando o assunto é a capital e o estado.
Hoje, há divergências entre as vontades do PT paulista e de Lula. O partido quer encabeçar uma chapa ao governo estadual, enquanto o presidente gostaria de ver alguém da legenda como vice de Ciro. Hoje, são pré-candidatos o deputado Antonio Palocci, o ministro da Educação, Fernando Haddad, e o prefeito de Osasco, Emídio de Souza. Eles tentarão minar a estratégia traçada por Lula de ter Ciro disputando a cabeça de chave com um nome do PT como vice. Hoje, o favorito nessa briga é Palocci, que recentemente teve processo no Supremo Tribunal Federal arquivado.
Outro filiado ao PSB também servirá aos interesses de Lula. O ex-ministro Walfrido Mares Guia, que deixou o PTB, ficou encarregado de estruturar o partido em Minas Gerais. Sem meta de disputar a eleição de 2010, Mares Guia quer ajudar realizando trabalho de cabo eleitoral.
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