9 de out. de 2009

Liberação da internet vai aproximar eleitor e candidatos, preveem especialistas

REGIANE SOARES

da Folha Online - 09/10/2009

A liberação da internet durante a campanha eleitoral vai provocar mudanças na forma dos candidatos pedirem votos nas eleições de 2010. Com a alteração, os candidatos poderão usar as redes sociais, blogs e e-mails para divulgar sues nomes, ideias e propostas.

Para especialistas em marketing eleitoral ouvidos pela Folha Online, será uma oportunidade de os políticos interagirem diretamente com os mais de 64 milhões de brasileiros que usam a internet, segundo o Ibope, o que não é possível em outras mídias como TV, jornal ou rádio.

O consultor em marketing político Marco Iten disse que a primeira ação dos candidatos que pretendem usar a internet como ferramenta de aproximação com os eleitores é organizar um banco de dados para uma comunicação eletrônica eficiente.

"Não adianta criar site ou um perfil no Twitter se não tiver um bom cadastro de pessoas com quem o candidato tenha afinidade. Não dá para achar que as pessoas vão procurar você só porque você tem um site. A comunicação por si só não gera relacionamento", afirmou.

Iten também sugeriu que os candidatos usem o e-mail para divulgar suas ideias, mas com a devida atenção para não fazer propaganda antes do prazo determinado pela Justiça Eleitoral: a partir de 5 de julho de 2010. Segundo ele, além de falar direto com seu possível eleitor, o uso do e-mail tem custo zero. "É uma forma de fidelizar o eleitoral", disse.

O publicitário Moriael Paiva, especialista em campanha pela internet, resumiu em poucas palavras o que significa a possibilidade de usar a web nas eleições. "Internet é conversa, não é propaganda", disse.

Responsável pela campanha na internet do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), Paiva disse que a liberação da internet vai aproximar o público que está fora do mundo político. "Os internautas perceberam que podem chegar mais pertos dos políticos, e isso é um caminho sem volta", afirmou.

O publicitário também sugeriu muita criatividade para conseguir a atenção dos eleitores. Na campanha de Kassab, por exemplo, quando ainda havia restrição no uso da rede, Paiva disse que teve que criar vários sites dentro do site oficial para poder interagir com o eleitor. Com a possibilidade de usar as redes sociais como Orkut, Twitter ou FaceBook ou sites de vídeo, como o YouTube, a interação será maior.

Novidade

Uma das novidades da reforma eleitoral aprovada pelo Congresso e sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva é a doação para a campanha pela internet. Movidos pelo efeito Barack Obama --que nas eleições presidenciais de 2008 nos Estados Unidos arrecadou US$ 500 milhões apenas pela internet--, os congressistas brasileiros incluíram no texto a possibilidade de arrecadar de recursos de pessoas física ou jurídica diretamente pela web.

Porém, para o publicitário Fernando Barros, presidente da Propeg - Agência de Publicidade e Marketing Político, os candidatos ainda vão ter que conquistar os eleitores, porque não existe no Brasil a cultura de contribuição pela internet.

"Muitos estão sequiosos para degustar a doação pela internet. Mas não vai ser fácil. Doar dinheiro pela internet não vai ser moleza como aconteceu com Obama", afirmou o publicitário.

Barros acredita que quem conseguir combinar a TV e a internet durante a campanha terá o melhor resultado nas eleições. Porém, ainda não dá para descartar outras mídias porque o Brasil é um país continental e muitos eleitores ainda não têm acesso à internet.

Pesquisa

Para o consultor e pesquisador do Centro de Estudos da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), Marcelo Coutinho, a influência da internet nas eleições depende de três fatores: do número de eleitores, do interesso do político em se comunicar e do grau de interesse dos eleitores nos políticos.
PUBLIFOLHA/PUBLIFOLHA

E qual vai ser o grau de interesse nas eleições de 2010? "Não sei", disse Coutinho. O motivo, segundo ele, é o fato de que pela primeira vez em 20 anos o Lula não é candidato a presidente e, por isso, talvez exista a dificuldade de envolver o eleitor na campanha. "Mas isso são hipóteses, que só poderemos comprovar a partir de julho do ano que vem", afirmou.

Na avaliação de Coutinho, a liberação do uso internet nas eleições de 2010 terá mais importância para os candidatos a deputado estadual ou federal, pois eles têm menos espaço na mídia. Além disso, o eleitor presta mais atenção nas propostas dos candidatos a presidente e a governador, deixando para decidir o voto para deputado às vésperas da eleição.

Na sua mais recente pesquisa sobre a influência da internet nas eleições de 2008 (A internet e as eleições municipais em 2008 - o uso dos sítios eletrônicos de comunidades na eleição paulistana), Coutinho destaca que a internet é um canal de comunicação com alcance limitado.

Pelos números do Ibope Inteligência, citados na pesquisa, apenas 5% dos entrevistados disseram que usaram a internet como principal fonte de informação para decidir o voto, principalmente os jovens com maior escolaridade.

Porém, como uma campanha eleitoral é constituída por diversas dinâmicas, 5% pode decidir uma eleição. "Dependendo da eleição, a internet pode ter um peso decisivo", afirmou.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u635483.shtml

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