17 de mai. de 2010

Aliados controversos exigem malabarismo de Serra e Dilma

Folha

CATIA SEABRA
da Reportagem Local

Collor, Sarney, Garotinho, Roriz. Donos de robusto cacife eleitoral, mas alvos de rejeição, esses cabos eleitorais têm exigido malabarismo de pré-candidaturas à Presidência. Em incursões pelos Estados, os pré-candidatos do PSDB, José Serra, e do PT, Dilma Rousseff, se equilibram para herdar votos, mas não o desgaste político.

Para ampliar o eleitorado sem arcar com o peso da exclusividade desses palanques, uma estratégia tem sido dividir a atenção entre dois candidatos num mesmo Estado.

Em Alagoas, por exemplo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declara preferência pelo pedetista Ronaldo Lessa na corrida pelo governo do Estado. Mas chama de legítima a pré-candidatura de Fernando Collor de Mello (PTB).

"O Lula diz que sou o candidato dele. Mas a Dilma não tem como recusar um palanque do Collor. Se ela for num comício meu numa cidade grande e no do Collor num grotão, melhor para ela", resume Lessa.

Em conversa com o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra (SE), ele avisou: "Vocês vão ter de descascar esse abacaxi [o apoio de Collor]".

Afirmando que foi Collor quem decidiu romper com um acordo no Estado, o deputado petista Paulo Fernando dos Santos, o Paulão, reconhece, porém, que é mais confortável estar em palanque separado. "Além disso, vamos esperar para ver o cenário", justifica.

Depois de tentar demovê-la da ideia de concorrer à reeleição, o comando nacional do PSDB avisou à governadora Yeda Crusius --cujo governo foi alvo de denúncias-- que ela não poderá exigir exclusividade de Serra no Rio Grande do Sul.

Em sua última visita ao Estado, ele se reuniu com Yeda a portas fechadas e caminhou com o José Fogaça (PMDB) por mais de 50 minutos pelo saguão do aeroporto. Ao lado do ex-prefeito, posou para fotos.

"Nosso medo era que o PSDB impedisse a candidatura", disse o presidente estadual do PSDB, Claudio Diaz.
No Maranhão, os peemedebistas começam a desconfiar que o "racha" entre duas candidaturas é fruto de estratégia para beneficiar Dilma.

Enquanto Lula promete apoio formal do PT à candidatura da governadora Roseana Sarney (PMDB), os radicais do partido resistem ao acordo.

Roseana --que abriu duas secretarias para o PT mesmo depois de uma opção do partido pelo PC do B-- insiste no apoio do presidente Lula.

O caso do candidato do PR ao governo do Rio, Anthony Garotinho, é um clássico. Tanto PT como PSDB já conversaram com o ex-governador em busca de seu apoio no Estado. Mas os dois partidos veem constrangimento numa composição formal com ele.

Em alguns casos, a avaliação é a de que um apoio não vale tanto quanto pesa. Não é à toa que o PSDB descartou o Distrito Federal como palco para sua convenção nacional, no dia 12.

Embora o PSDB tenha negociado uma aliança formal com o PSC, faz questão de adiantar que o pacote não inclui o acordo com o ex-governador Joaquim Roriz.

Em São Paulo, o PT avaliou que seria melhor ter o PP como adversário do que como aliado. Ainda principal nome do PP no Estado, o ex-governador Paulo Maluf se queixou a interlocutores de Dilma. Segundo parlamentares do PP, a ex-ministra usou, em suas saudações, a expressão "deputados presentes", numa solenidade em que Maluf era o único parlamentar.

Recentemente, em entrevista à radio "CBN", Serra evocou Collor e Sarney para minimizar o eventual apoio de Maluf à sua candidatura.

"Não é o PP do Maluf. Maluf é um. Tem muita gente, como tem o partido do Collor, que é até o PTB. O Collor vai apoiar a Dilma. E seu partido não sei por onde vai", disse Serra.

Tem o Sarney. Tem vários homens públicos importantes ou que foram importantes e que estão divididos entre diversas áreas. Vou querer somar ao máximo os apoios com base no meu programa, nas ideias que apresento, para poder chegar à população em todos os cantos do Brasil", alegou Serra.

Presidente nacional do PT, Dutra duvida que o tema venha a dominar o debate eleitoral. "Não existe apoio desconfortável. E não é isso que estará no debate. Se um for puxar [o assunto] de um lado, o adversário vai fazer liga de outro."



http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u736141.shtml

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