7 de fev. de 2010

PT promove PMDB de "impróprio" a essencial

MALU DELGADO
da Folha de S.Paulo

Da conflituosa relação com o MDB (Movimento Democrático Brasileiro) em meio à luta pelo fim da ditadura à estratégica aliança com o PMDB na tentativa de eleger a ministra Dilma Rousseff à Presidência da República, as três décadas de existência do PT passam por graduais inflexões na política de alianças, justificadas no partido como consequência da história, do aprendizado político e da tática eleitoral.

Hoje, os petistas do alto escalão do governo Lula apontam o PMDB como o parceiro que o PT precisa para angariar votos e permanecer no poder. A cúpula do PT calcula que cerca de 60% dos eleitores se identificam com valores "de centro".

"O eleitor do PMDB não tem a mesma visão de Estado do PSDB e do DEM. Quer a presença forte do Estado no serviço público, e não é privatista", diz um auxiliar do presidente.

Ainda que ninguém no PT ouse apostar numa fidelidade integral do PMDB ao governo Lula ou ao projeto que Dilma pretende oferecer ao país na campanha, a avaliação geral entre petistas é que a aliança não doeu. Ou seja, a inclusão social, a bandeira mais cara ao PT, será o legado do governo Lula.

"Vivemos basicamente o que o PT desejou e deseja: a colocação da questão dos pobres no centro das políticas públicas", afirma o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social).

Para a professora Rachel Meneghello, do departamento de Ciência Política da Unicamp, foi acertada a decisão do PT de ampliar o arco de alianças. O pacto com o PMDB é hoje estratégico, diz ela, porque a sigla "passou a vida sendo guarda-chuva de alternativas e estratégias" e, como o maior partido, é "o equilibrador do sistema".

"O curioso é que o PT não se deu bem com aquele MDB doutrinário, coerente e programático, mas se dá muito bem com o PMDB do [Michel] Temer, que vende até a mãe", critica o historiador Marco Antônio Villa, professor da Universidade Federal de São Carlos.

Os fundadores do PT alegam que, na década de 80, o conflito com o MDB ocorreu porque os petistas pregavam a necessidade de organização crítica dos trabalhadores e a frente democrática [liderada pelo MDB] acusava-os de dividir e enfraquecer a oposição à ditadura.

"Aglomerado de composição altamente heterogênea e sob controle e direção de elites liberais conservadoras, o MDB tem-se revelado um conduto impróprio para expressão dos reais interesses das massas exploradas brasileiras", dizia a Carta de Princípios do PT, de 1979, anterior à fundação, no dia 10 de fevereiro de 1980. Hoje, os petistas insistem que houve grande convergência histórica entre as siglas.

"O MDB se constituiu por imposição da ditadura; o PMDB se mantém por força da política. Nossa parceria hoje deve ser bilateral e o PMDB também precisa querer o PT pelo que ele representa", diz o governador Jaques Wagner, em disputa com o ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) pelo governo da Bahia.

"O PT mudou como o Brasil mudou, como o mundo mudou", diz o futuro presidente da sigla, José Eduardo Dutra.

Segundo ele, a mudança em relação à política de alianças começou em 1987, no 5º Encontro Nacional do partido, em que foi aprovada uma resolução política que permitiu alianças. "Viu-se que o partido não podia marchar sozinho", diz.

O pragmatismo se traduz em números: entre mais de um milhão de filiados, convivem empresários e assalariados. O partido conquistou, em 2006, 83 cadeiras na Câmara dos Deputados. Fez 14 senadores. Pelo país, governa, desde 2008, 558 municípios. Em 1982, a primeira eleição de que participou, foram dois os prefeitos eleitos.

À frente da pré-campanha de Dilma, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel está satisfeito com o resultado das inflexões: "A alternativa contemporânea das esquerdas é o que o Lula sintetiza: a incorporação das grandes massas, e isso levou-nos ao centro".

http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u690603.shtml

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