18 de jan. de 2010

Psol recua e racha no apoio a Marina Silva

Rodrigo de Almeida, iG Rio de Janeiro

O Psol rachou com a retomada da candidatura de Fernando Gabeira (PV) ao governo do Rio, em possível aliança com o PSDB, o DEM e o PPS. O pequeno partido dirigido pela ex-senadora Heloísa Helena integrava, pelo menos até o anúncio de Gabeira, o arco de alianças em torno da candidatura presidencial da senadora Marina Silva (PV). Parte da direção do partido, no entanto, critica duramente a possível aliança no Rio e rejeita a manutenção do apoio a favor de Marina.

Em documento divulgado na quinta-feira (14), Luciana Genro, Martiniano Cavalcanti e Roberto Robaina, todos dirigentes do Psol, afirmam que o arco de alianças em torno de Gabeira no Rio faz com que o PV se torne “abertamente instrumentalizado pelos tucanos na disputa”. O grupo defende “independência em relação aos projetos capitalistas representados pelo PSDB e pelo PT” e afirma que Marina silva não terá liberdade para se contrapor à polarização entre tucanos e petistas.

O documento lembra ainda que a forma com a qual o grupo buscava “materializar a candidatura independente” era a defesa de que os candidatos ao governo nos estados “não estivessem aliados nem com o PT/PMDB nem com o PSDB/DEM”.

O anúncio de Gabeira e a condição imposta por ele para ser candidato ao governo fluminense – a aliança com PSDB e DEM – freou o ânimo do grupo do Psol. Nome próximo tanto a Marina quanto ao governador de São Paulo, José Serra (PSDB), Gabeira apóia-se no tempo de TV para sustentar a aliança com tucanos e democratas. Sem eles, teria minguados 30 segundos de tempo de propaganda eleitoral gratuita. “Com 30 segundos não dá para ir a lugar a algum”, argumenta o deputado.

A condição do Psol para apoiar Marina, portanto, será difícil de ser cumprida pelo PV. Boa parte dos verdes, liderada pelo deputado Sarney Filho, defende o apoio ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A própria Marina já disse que sua candidatura não pode ser vista como oposição ao governo. A outra ala do PV, liderada por Gabeira, faz oposição a Lula, mas quer o apoio do PSDB e do DEM. Em suma, há pouca gente no PV que aceitaria a proposta do Psol de “oposição programática de esquerda” a Lula, PT, PSDB e DEM.


“Heloísa: Marina é a melhor candidata”

A decisão final sobre se o Psol desembarca ou não da candidatura de Marina Silva e do PV deve ser tomada numa reunião da Executiva Nacional do partido, no próximo dia 21. A presidente do partido, Heloísa Helena, é a maior defensora do apoio a Marina. Ex-candidata à Presidência em 2006 (quando obteve 6,85% dos votos válidos), a principal líder do Psol desistiu de uma nova disputa presidencial. Vai concorrer ao Senado pelo seu estado, Alagoas, e sublinha que “Marina é a melhor candidata para o Brasil”.

Amiga de longa data de Marina, Heloisa Helena acha que sua candidatura prejudicaria o desempenho da ex-ministra do Meio Ambiente nas urnas. O grupo de Heloisa também aposta no potencial eleitoral de uma aliança nacional com o PV. Enquanto o Psol tem apenas quatro deputados federais, os verdes contam com 15. Embarcar na campanha com o PV é, na lógica do grupo de Heloisa Helena, um meio de assegurar mais palanques regionais aos candidatos do governo e maior tempo televisivo de propaganda eleitoral gratuita.

Uma ala do Psol reage duramente à essa posição. “O que levou o Psol a Marina foi a inexperiência de quem não tem vocação para ser um partido de massas e se assustou com a ausência da candidatura de Heloísa Helena”, afirma o ex-deputado Milton Temer – até pouco tempo braço direito da principal estrela do partido. “A insegurança, a instabilidade política e ideológica que caracteriza uma parte importante do partido levou a imaginar que a Marina fosse uma alternativa de esquerda diferente do PT”, completa.

Temer vai além. Afirma que, “diante dos últimos fatos comprovando a verdadeira vocação de Marina e seu partido, quem estiver pensando em coligação está pensando num pragmatismo mais indesejável”. Temer acha que o PV se tornou uma “linha auxiliar do neoliberalismo” que o Psol nasceu para combater.

Tese com a qual concorda o deputado Marcelo Freixo, que rejeita “radicalmente” a ideia de integrantes do partido no Rio fazerem parte de uma aliança com PSDB e DEM. “Não é surpresa o PV do Rio estar junto com esses dois partidos, pois fez parte do governo Cesar Maia”, lembra Freixo. “Surpresa é o PV colocar a candidatura de Marina Silva a serviço desse projeto”, critica.

Ressaltando o respeito que tem pela trajetória política de Marina Silva, Marcelo Freixo afirma que o projeto que aproxima o PV de Gabeira ao DEM de Cesar Maia “não condiz com a magnitude do nome de Marina. Não vamos entrar nisso automaticamente. Vai ter muita discussão”, sugere.

http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2010/01/18/psol+recua+e+racha+no+apoio+a+marina+silva+9349060.html

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