22 de jan. de 2010

Dilma e Serra deixarão a troca de xingamentos para aliados e, por ora, tentarão se preservar

Durante reunião, Lula reforça necessidade de campanha limpa, mas ataca presidente do PSDB

Correio Braziliense - Daniela Lima | Tiago Pariz

A eleição presidencial deste ano ocorrerá em dois planos. Os protagonistas vão ficar na retaguarda pregando o tom zen e deixar todo o jogo sujo para partidos e parlamentares. A guerra deflagrada entre a cúpula do PT e do PSDB — que virou troca de xingamentos — é o retrato fiel dessa estratégia. Termos como “jagunço”, “hipócrita”, “desequilibrado”, “mentirosa”, “incapacitada” e “dissimulada” dominaram o noticiário político ao longo desta semana. Cauteloso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu que sua candidata a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, não faça o jogo rasteiro da oposição, adotando a mesma estratégia do governador de São Paulo, José Serra (PSDB).

A primeira reunião ministerial do ano — convocada para tratar da ajuda humanitária ao Haiti e das linhas gerais da segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) — acabou em eleições. O presidente Lula distribuiu orientações aos seus comandados. Demonstrou estar cada vez mais fechado na tese de que a base aliada não pode ter outra candidatura. “A campanha tem que ser plebiscitária. Uma campanha quem sou eu e quem és tu”, disse o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, citando o discurso com que o presidente fechou o encontro. Lula já vê Ciro Gomes como carta fora do baralho, e voltou a falar que quer o deputado na disputa pelo governo de São Paulo.

O presidente também defendeu uma disputa de alto nível nos holofotes, mas nos bastidores a conversa é outra. Ele acredita que Dilma tem que responder apenas a José Serra e não entrar nas provocações do presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). No discurso parece tarefa fácil, mas na prática… O próprio presidente perdeu as estribeiras. Na reunião ministerial, com o espectro do senador pairando na Granja do Torto, Lula disse que o presidente tucano é um “babaca” por não saber o que está dizendo quando faz críticas aos resultados do governo. A cúpula do PT e do governo se animaram com o tom agressivo dos dois lados. O próprio ministro das Relações Institucionais alfinetou os tucanos. “O PT é da paz. A guerra está no PSDB”, disse. De todos os lados tom o zen só ficará na promessa.

A prova está nas declarações de parlamentares do PT e PSDB. Elas dão mostras de que o ano será de embate pesado. “O presidente Lula está certo ao pedir um debate eleitoral de alto nível. Agora, se vierem com chute na canela, para nós, canela vai ser o que vier do pescoço para baixo. Estamos prontos para tudo”, resumiu o deputado petista Fernando Ferro (PE), nome cotado para assumir a liderança da sigla na Câmara. O homem que irá defender o PSDB na Casa em 2010 responde no mesmo tom. “O Serra não vai entrar nessa. Mas o partido e as bancadas no Congresso estão prontos para o embate. Nós vamos desmentir o PT”, afirmou João Almeida (PSDB-BA).

Provocação
O curioso é que a guerra ganhou corpo quando a ministra Dilma Rousseff entrou na provocação, justamente o que não quer Lula. Sérgio Guerra criticou publicamente o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Em resposta, Dilma disse que a oposição queria “ acabar com o PAC”. A tréplica veio em tom mais áspero. Em nota, o senador Sérgio Guerra, definiu a ministra como mentirosa e dissimulada. “Dilma Rousseff mente. Usa a mentira como método”, afirmou.

Para tirar a ministra do foco, coube ao homem que se equivale a Guerra em nível hierárquico dentro do PT devolver a ofensa. O presidente da sigla, deputado Ricardo Berzoini, assinou declaração conjunta com o presidente eleito petista, José Eduardo Dutra, para chamar Guerra de “jagunço político” de Serra. Berzoini e Dutra dispararam para todos os lados. “O que mais salta aos olhos é a hipocrisia do candidato de PSDB, José Serra, que ao mesmo tempo em que afirma estar ‘concentrado no trabalho’ e que ‘não vai entrar nenhum bate-boca eleitoral de baixaria’, usa o presidente do seu partido como um verdadeiro jagunço da política para divulgar uma nota daquele teor.” Guerra anunciou que irá entrar na Justiça contra o PT. “Estou entrando na Justiça contra eles. Vamos enfrentar isso desde agora”, disse.

Críticas ao governo
A Associação Brasileira de Templos de Umbanda e Candomblé, ligada às comunidades praticantes das religiões de origem africana, criticou a atuação da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial um dia após o cancelamento do lançamento do Plano Nacional de Proteção à Liberdade Religiosa. Segundo a entidade, o governo não tem interesse no tema e as iniciativas são “mais para a mídia, para a propaganda”. O lançamento do plano estava previsto para ser realizado dia 20 mas foi cancelado de última hora. O ministro-chefe Edson Santos disse na ocasião que o projeto precisava nova avaliação da Casa Civil para evitar “constrangimentos” para o governo.

Colaborou Josué Nogueira

» Ação contra discursos

Enquanto PSDB e PT encabeçam o embate eleitoral antecipadamente, partidos que vão ajudar a compor a oposição também se movimentam na tentativa de desestabilizar a candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República. Com esse intuito DEM e PPS assinaram, ao lado dos tucanos, uma representação contra a ministra e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Tribunal Superior Eleitoral. Os três partidos os acusam de fazer campanha antecipada durante viagem à cidade mineira de Jenipapo.

Para dar sustentação ao documento, os partidos de oposição utilizaram trechos do discurso feito pelo presidente Lula naquele município, durante a inauguração da barragem Setúbal, no Vale do Jequitinhonha, no último dia 19. Foi a primeira agenda da ministra em território mineiro — e tucano. “Vamos precisar pegar todas as obras que tem em Minas Gerais (…) porque a partir de abril, o Geddel (ministro Geddel Vieira, da Integração Nacional) já não estará mais no governo, e a Dilma já não estará mais no governo, e quem for candidato não vai nem poder subir em palanque comigo”, disse o presidente, na fala destacada na representação.

Para o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), a postura dos petistas fere a lei eleitoral. “Ela (Dilma) não pode ficar fazendo campanha com esses argumentos. Como que se vai fazer inauguração de obras para combater a oposição?”, questionou. Na representação os três partidos pedem que a ministra e o presidente paguem multas. (TP e DL)

Ouça trechos da entrevista com o deputado Fernando Ferro sobre a reunião ministerial com o presidente Lula

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/01/22/politica,i=168274/DILMA+E+SERRA+DEIXARAO+A+TROCA+DE+XINGAMENTOS+PARA+ALIADOS+E+POR+ORA+TENTARAO+SE+PRESERVAR.shtml

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