22 de fev. de 2010

Dilma Rousseff trabalhará para se aproximar da iniciativa privada e de setores mobilizados, como os estudantes

Correio Braziliense - Daniel Pereira

Aclamada pré-candidata do PT à Presidência da República no sábado, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, já tem estratégia definida para quando deixar o governo, em 2 de abril. A ideia é usar o período entre a desincompatibilização e o início da propaganda eleitoral gratuita a fim de estreitar laços com a iniciativa privada e os movimentos sociais, setores considerados fundamentais devido ao potencial para financiar campanhas e mobilizar o eleitorado. Até o fim do primeiro semestre, Dilma também cumprirá uma extensa agenda política. Viajará pelo país. Em vez de brilhar em inaugurações de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), terá conversas com líderes regionais e reforçará a ofensiva destinada a torná-la mais conhecida da população.

Nas conversas com a iniciativa privada, Dilma terá o apoio do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que corre por fora no páreo pela vaga de vice na chapa da ministra. O petista Palocci e o neopeemedebista Meirelles transitam com desenvoltura entre empresários e banqueiros. São apostas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para afastar as suspeitas de setores do mercado — reverberadas por oposicionistas — de que a eleição da “mãe do PAC” resultará em descontrole das contas públicas e risco à estabilidade econômica. A ministra também é associada à pecha de “estatizante”. Essa espécie de reedição do “risco-Lula” de 2002 preocupa o Palácio do Planalto. Não à toa, foi tema recorrente no 4° Congresso Nacional do PT, no fim de semana.

“Vamos manter o equilíbrio fiscal, o controle da inflação e a política de câmbio flutuante”, disse Dilma ao discursar no encontro. Nos últimos anos, o PT ganhou terreno na disputa com o PSDB pelo apoio da iniciativa privada. Ainda estaria em desvantagem na queda de braço, segundo líderes petistas, mas teria conquistado espaços importantes. O setor da construção civil, por exemplo, está enamorado pela chefe da Casa Civil por conta do programa Minha Casa, Minha Vida, cuja meta é a construção de 1 milhão de moradias populares. A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) já pensa numa segunda edição do projeto habitacional do governo federal. Os usineiros de São Paulo também se aproximaram da ministra, enquanto acumularam atritos com o governador paulista, José Serra, pré-candidato do PSDB à Presidência.

Nicho diferente
No governo desde janeiro de 2003, Dilma sempre atuou na área de infraestrutura. Seja como ministra de Minas e Energia, cargo ocupado até 2005, seja como chefe da Casa Civil. Por conta disso, manteve pouco contato com os movimentos sociais, que têm como principal interlocutor o secretário-geral da Presidência da República, Luiz Dulci. A partir de abril, Dulci e petistas aproximarão a ministra dos líderes e da pauta de organizações em defesa de trabalhadores, de estudantes, da reforma agrária, entre outros. “Haverá uma redução da exposição, já que a ministra deixará o governo. Mas ela alçará voo próprio. Terá mais tempo para dialogar com partidos, empresários e segmentos sociais”, diz o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

Em linha com o presidente, coordenadores da campanha petista esbanjam otimismo. Alegam que a redução da exposição com a saída do governo não afetará de forma negativa a caminhada de Dilma. E, mesmo que isso ocorra, dizem que os meses de propaganda eleitoral no rádio e na televisão serão capazes de reverter eventuais pontos perdidos na corrida rumo ao Planalto. Primeiro, porque a ministra — mantido o cenário atual — terá quase o dobro de tempo na TV do que o concorrente tucano. Segundo, pois terá como garoto-propaganda um presidente recordista em popularidade.

"A ministra alçará voo próprio. Terá mais tempo para dialogar com partidos, empresários e segmentos sociais"
Alexandre Padilha, ministro de Relações Institucionais

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